quinta-feira, 28 de junho de 2012

Ronaldo não é o Superman

Ontem desabou a esperança de Portugal continuar no campeonato europeu de futebol.  Na maioria dos portugueses acabou o sonho de virmos a ser os melhores da Europa no futebol. Por agora fica adiada  mais uma vez a vontade de sermos os melhores em qualquer coisa que sublime a realidade deste país.

Não faltarão os cânticos de louvor à selecção, que merecia ganhar, que ganhou moralmente, que teve azar, que o árbito não se portou bem, etc ,etc, etc. O facto é que perdemos porque os espanhóis foram melhores,  marcaram 4 pelnaties  e nós marcámos só 2. Simples e objectivo.

A mania de querermos ser o "mais" em qualquer coisa,  de entrar para o "guiness" ou de alcançar qualquer outro recorde, instalou-se  irracionalmente entre nós e carece absolutamente de lógica. Aspirar à excelência aqui e ali num país que não é razoávelmente excelente,  não tem qualquer sustentabilidade. Se olharmos para um país de alto nível, a Alemanha por exemplo, conclui-se que eles são bons no futebol, como são bons a produzir carros ou aparelhos de precisão, porque souberam construir um país sustentávelmente próspero.

Portugal tem dispersa e pontualmente áreas e pessoas de grande categoria , mas é um país pobre, mal organizado e pior gerido, a população é geralmente inculta e pouco educada,  é crucial alterar este estado de coisas , para então num país diferente e superior nos podermos admirar e surpreender quando a nossa selecção for eliminada. Para sermos "favoritos" quando jogarmos, não andar a jogar com "favoritos" e receber como uma benção uma vitória.

Também se deve de esperar que a par com os cantos de louvor e as lamentações,  haja um ruído de fundo de críticas e recriminações. Serão dirigidas em primeiro lugar ao treinador, ao "mister" como pirosamente se diz, que não impôs a táctica adequada, que não fez  as substituições correctas e em tempo. A seguir será a vez de vociferar contra os jogadores e porque não crucificar a organização dos jogos. É um hábito muito nacional criticar e intrigar, seja no sucesso seja no fracasso.

Assim vão as actualidades em Portugal há quase um mês e  pelo menos por mais uma semana .

Resta-nos o Cristiano, mais uma vez o melhor do mundo, para nos alegrar e suavizar as nossas mágoas.
Espero bem que não se lancem a ele, que não envenenem  a vida ao rapaz!
É que Ronaldo  é um extraordinário jogador, ainda por cima humilde e com enorme "fair play", e não tem culpa de que a equipe básicamente jogue para ele e de ser humano e não o Surperman.

jotacmarques

quarta-feira, 27 de junho de 2012

A idade da razão ou a razão da idade?

Contava-me o meu pai,  alcandroado nos seus setenta quase oitenta anos, que as memórias lhe desfilavam velozes e cada vez mais para trás,  até aos primeiros anos de infância. Era uma espécie de flaschback muito nítido, com pormenores detalhados, a côres ou a preto e branco e que recuava mais e  mais à medida que a velhice ia avançando. Eu, bloqueado em memórias difusas e itinerantes, pouco claras e desfocadas, que não atingiam nem pouco mais ou menos esses recônditos, ouvia admirado e fascinado com tais habilidades. Passados vários anos, ainda não me aconteceram viagens tão longas, mas começo a perceber melhor o fenómeno. O passado afigura-se agora cada vez mais passado e com mais definição, ainda não em HD,  mas se calhar lá chegaremos.

Outro aspecto dessa aprendizagem com os muitos anos do meu pai foi a relatividade do tempo. Já se sabe que o tempo é uma medida relativa, aprendeu-se na escola, mas a experiência dessa relatividade é outra coisa.Ter mais tempo porque ele nos foge cada vez mais, é um conceito que só compreendi com o avançar da idade. Adequar o tempo à multiplicidade das  situações da vida,  é como o trabalho do relojoeiro  num relógio de precisão. Falávamos disso, da minha impaciência, da urgência em realizar, da pressa em ser e ter, e eu achava que o  entendia. Mas não, só hoje é que começo a ter uma ideia.

Um outro tema das nossas deambulações era sobre a pouca consideração que a sociedade e os tempos tinham pelas pessoas velhas. Havia e há uma filosofia do descartável, de prazos de validade ultrapassados, como se nos velhos se acumulasse  uma enorme existência de experiências antigas e inúteis que na actualidade não servem para nada. O meu pai tinha uma enorme tristeza e revolta pelo desprezo votado  à experiência e sabedoria dos seus anos. Dizia-lhe que não , que não era assim. Hoje começo a desconfiar de que ele tinha razão.

Estas reflexões levam-me evidentemente, ao desencontro de gerações que se resolveu apelidar de conflito.

Trata-se a meu ver de um falso cliché. O que existe é uma escabrosa falta do sistema e do modelo educativo. Na escola e nas famílias. Ninguém ensina a ninguém que o que existe e usamos resulta do trabalho contínuo e sistemático das gerações anteriores. Que eu saiba, não se cultiva nas escolas, não está nos programas curriculares, o principio da colaboração e troca de saberes entre os velhos e os novos. Na família os mais velhos tomam conta dos mais novos, sem dúvida, mas a partir  de um certo ponto, as suas opiniões e o seu saber  são apenas tolerados. 

É espantoso que os pedagogos não se interessem pela questão do  entrosamento das gerações, que a sabedoria dos mais velhos, "sagesse" chamam-lhe os franceses, não seja tomada como ponto de partida para a construção de um modelo social mais equilibrado, mais culto e educado , e que as competências dos jovens não sejam transmitidas ao mais velhos. O papel educativo básico na família não é suficiente e nas escolas o que se transmite preocupa-se com outras matérias.
A sociedade ocidental tão ávida em explorar económicamente os povos africanos e asiáticos,  nunca teve um olhar para a construção familiar e educativa desses povos, um olhar que fosse para além do folcrore tão querido a alguns intelectuais, de esquerda diga-se de passagem. Aí estão exemplos esclarecedores de como devem ser tratadas estas questões. Sem me alongar, refiro apenas os rituais de iniciação dos jovens, que decorrem em momentos específicos do seu desenvolvimento e crescimento, e  após longos períodos de aprendizagem tutorizados pelo mais velhos que lhes passam o que sabem.

Estou absolutamente convicto de que o modelo social, económico e político que emergirá da desgraça reinante actualmente, tem que se fundamentar na interacção das gerações, na troca efectiva de saberes e competências entre novos e velhos. 

O passado está vivo no presente e  projecta-se no futuro, como um rio que se alimenta a montante e alimenta a juzante.

jotacmarques

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Campo de Ourique

Campo de Ourique é um bairro diferente, é o Quartier  Latin de Lisboa, passe a analogia. Há 50 anos Campo de Ourique era quase um Estado independente, no essencial era auto-suficiente, dois cinemas com sessões diárias  à tarde e  à noite, muitos "cafés" para poisar em horas longas, lojas de vários e muitos abastecimentos, inúmeras  tascas e restaurantes de gastronomias económicas, jardins para passeatas, e muito mais. Classificava-se a população de pequena e média burguesia, gente remediada assim se dizia. O quotidiano deste bairro era como extractos da "Crónicas dos bons malandros" de Mário Zambujal e de " O que diz Molero" de Dinis Machado, duas obras literárias ficcionais dos usos e costumes dos "pintas" lisboetas, miscigenados com vidas mais pacatas e convencionais. Paravam estes "pintas" no Canas e no Gigante,"cafés" de referência do bairro, numa partilha de convívios. Vinham das zonas limítrofes do agregado, do Casal Ventoso, hoje muito diferente, da rua Maria Pia, dos Sete Moínhos, do pátio do Baúte nos Prazeres e já desaparecido, da rua Campo de Ourique, e de um modo geral das várias "vilas" existentes no bairro. As "vilas", que também existiram e existem por toda a cidade, concentravam-se "à mão de semear" do complexo industrial que existia em Alcântara, e os moradores eram gente que trabalhava árduamente e mal pagos nas fábricas e serviços subsidiários. Era deste universo de pessoas que saíam os "pintas", "lumpenproletariado" que vivia de esquemas mais ou menos ilegais, quando não da pequena criminalidade.

Havia diversas associações, recreativas, desportivas e culturais, apelidadas de "sociedades", muitas emanadas do empreendedorismo  e espírito corporativo das organizações operárias. Foram fundamentais na divulgação cultural e na gestão dos tempos livres, nomeadamente através de grupos de teatro, clubes desportivos e bibliotecas. Nas escolha dos corpos sociais destas organizações,  através de eleições directas, residiu durante muitos anos o único exercício democrático no tempo da ditadura.
O "must" das ditas "sociedades" eram "Os amigos de Apolo" situados na  "Panificação",onde havia desde o sec.XIX  o ensino de música e das danças de salão. Memoráveis os bailes e os concursos de dança, eram iconográficos do bairro. Ainda tenho na memória o baile de Carnaval em que o meu amigo Zé Bocas, mascarado de mulher, dançou e "flirtou" até de madrugada com um "pintas" que ficou furioso quando o Zé finalmente tirou a máscara da cara. Queria bater-lhe, tal era a raiva de macho enganado com a reputação irremediávelmente  abalada.

Campo de Ourique mudou como não podia deixar de ser, mudou como tudo na vida muda, inexorávelmente, mas recebeu uma herança  genética que é muito visível, no bulício do mercado, a "praça" como se diz, no perder-se no tempo na esplanada da Tentadora, nas passeatas na rua Ferreira Borges, no lazer de "dar à língua" no jardim da Parada, enfim, no eterno encontro das pessoas que  se conhecem de sempre com os lugares imortais da nossa memória.

O bairro é agora muito mais cosmopolita, melhorou num certo sentido, mas não me passa a memória dos dias nesta "aldeia na cidade", do tempo natural passado sem "stress",  descomprometido de aparelhos e de comunicações permanentes via satélite, das conversas intermináveis até quase manhã na esplanada acanhada do Ruacaná ou do"Meu Café", do estudo a fingir  de tardes inteiras na cave do "Raiano", da endoctrinação política e ideológica dos "engagé" mais velhos no "Tamboril", das bebedeiras do Ricardo Alberti cozidas com poesia, do fascínio das história dos velhos anarquistas que tinham lutado na Guerra Civil de Espanha, do Joaquim da drogaria, o Steck das ceras e perfurmes inventados e da fotografia com arte de Leicas e Rolleiflexs, do Sr. José da taberna das "Portas verdes",  dos Carinhas, dos Malacas, do Babo, do João Castel-Branco, do Zé Monteiro, do Gaspar, das minhas amigas, eu sei lá.................................................................

Onde andarão????????????????????

jotacmarques

domingo, 24 de junho de 2012

Lisboa

Lembrei-me de que quando era miúdo havia uma redacção modelo sobre a vaca,  mais ou menos assim: a vaca é um animal com quatro patas. a vaca é a mulher do boi. a vaca dá a carne para comermos. a vaca dá o leite para bebermos e que faz muito bem aos ossos. a vaca dá a pele para fazer sapatos e malas. etc. etc.
O texto terminava com a declaração exclamativa: eu gosto muito da vaca!

Sobre Lisboa.

Lisboa é a minha cidade.nasci em Lisboa num bairro muito bonito chamado Campo de Ourique. Lisboa tem muitas casas pequenas e grandes. as casas pequenas são dos pobres e as grandes dos ricos. Lisboa tem sete altos chamadas colinas e um rio chamado Tejo. a cidade derrama-se lenta das colinas para o rio  como o mel que se entorna do pote. o Tejo é ouro do Sol e prata da noite. Lisboa tem muita luz que vem do Sol. a luz é tudo, o melhor de Lisboa. muito clara e brilhante inunda o espaço e a  mente de nitidez . há muita gente que vem a Lisboa por causa da luz. Lisboa tem vários bairros muito antigos e bonitos. Bairro Alto, Madragoa, Alfama, Mouraria, etc. quando se lá anda esquece-se as tristezas,  é só alegrias.alegrias de quadros pintados entre o casario que foge para o rio. alegrias de gente simples e afável nas ruas,  nas pequenas lojas do bairro. são muito comunicativas estas pessoas. têm muitas flôres nas varandas e às vezes em vasos à porta. as pessoas destes bairros falam muito umas com as outras, não é como nos bairros finos onde os vizinhos nem se conhecem. deve ser por isso que  gente destes bairros populares quer muito lá viver. nem podem ouvir falar em sair de lá, ficam muito tristes. dizem eles que aqui as relações são mais humanas mais próximas da  essência. não sei, eles lá devem ter as suas razões. nestes bairros há muitas praças e pracetas aonde as ruas vão desembocar em labirintos intrincados. mas a côr, a côr  é um deslumbramento. parece quadros a óleo daqueles pintores  talentosos com pinturas a custar muito dinheiro.eu quando passeio por estes sítios ando sempre embasbacado a descobrir e/ou a redescobrir obras primas. na gente, nas casas,  na algazarra, no bulício e na azáfama das vidas. é tudo tão palpitante e belo. sabem que estes lugares e a cidade em geral já estiveram moribundos. pois, pois, a partir do fim da tarde era um deserto, principalmente no centro da cidade. é que despejaram as pessoas nuns sítios chamados subúrbios e no centro passou a ser só bancos e empresas importantes. até os  "cafés" se tornaram em bancos e escritórios. era como se não importasse a "alma" da cidade". depois também fecharam muitas lojas. os portugueses passaram a ir a uns sítios muito grandes e com muitas lojas juntas lá dentro chamados centros comerciais. ele há tantos na cidade, como nunca vi no estrangeiro. são todos muito parecidos, quase iguais, então as lojas são sempre as mesmas. deve ser por ser moderno que os portugueses passam lá vida, não sei. ah! e talvez  porque prometem muitos descontos e cartões. mas agora felizmente a cidade já não está a morrer aos bocadinhos. há muita animação nos bairros e no centro. muitos bares e restaurantes . mas o mais importante são as pessoas, há muitas, carradas de pessoas na rua, muita malta nova.  mais à noite,  porque de dia ou estão a trabalhar ou nas bichas dos centros de desemprego. em Lisboa também há muita oferta cultural. isto quer dizer que há muitas exposições de arte, muitos concertos, muitos encontros sobre a cultura, essas coisas. é pena é que os bilhetes custem os olhos da cara. com estes preços só um pequeno grupo de pessoas é que pode ir a essas coisas, a  élite é como lhe chamam. depois fala-se muito e alto que o povo tem que ser educado, que as pessoas devem de ser cultas, não vejo é como, se não podem ir a estes sítios tão caros. sabem , é como as pescadinhas de rabo na boca que gosto muito de comer fritas. a propósito, a gastronomia em Lisboa está no alto. os estrangeiros pelam-se. e os nacionais também. os restaurantes andam mais vazios por causa da crise, excepto os caros e muito caros. dizem que para alguns é preciso reservar mesa com muitas semanas de antecedência. por acaso faz-me muita confusão como é que custando tanto dinheiro e sendo portanto quase só para os ricos estão a abarrotar. é que eu só vejo falências e deslocalizações de empresa e os ricos a queixarem-se da crise. como se fossem o homem comum que está à rasca. o cheiro em Lisboa também é muito bom. é diferente. então o da maré que enche o rio é um perfume. a maresia é como se diz. Lisboa tem uma canção muito sua chamada fado. a música e as palavras são  nostálgicas. ouve-se em silêncio e com a emoção das coisas sublimes. fala de amores em desgraça e da saudade. Lisboa é e será sempre o meu porto de abrigo. aqui cheguei e daqui parti, mas estou sempre a regressar.

Eu gosto muito de Lisboa!

jotacmarques






jotacmarques   

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Ronaldo o D. Sebastião do nosso tempo

Desde o sec.XVI , após o desastre de Álcaçer Quibir, que o imaginário português assimilou o fantasma de D.Sebastião. A morte ou desaparecimento do rei na batalha,  deixando o vazio na coroa portuguesa,  com a possibilidade que se veio a concretizar de Filipe de Espanha ocupar o trono de Portugal, desencadeou o mito sebastianista. D Sebastião desaparecido, viria do nada numa manhã de nevoeiro para nos libertar do jugo de Espanha. Desde então, de  há mais de  quatro séculos, que esperamos com esperança que das brumas apareça o " Rei " que nos venha salvar dos apertos. A mobilização do povo português tem acontecido mais à volta de figuras providenciais do que  em torno de grandes objectivos nacionais. A incapacidade de se definir um projecto nacional desde os descobrimentos é a constante, e o povo fica ávido de alguém que o tire do lodaçal da crise endémica. Fontes Pereira de Melo e Salazar são dois exemplos que se afirmaram com sucesso por via desta " filosofia ".

Na actualidade,  há uma transferência para os futebolistas do mito sebastianista. Os heróis capazes de resolverem o nosso complexo de incapacidade são os grandes jogadores de futebol, nomeadamente Cristiano Ronaldo. Ronaldo com o seu enorme sucesso é o "objecto de trasferência " de um povo perdido e deprimido, que sofre uma crise profunda e que não vê nos políticos que o têm governado, ou desgovernado, capacidade de o arrancar do buraco negro. Numa sublimação apoteótica,  assiste-se a um povo que incapaz de se mobilizar  no essencial, que seria a revolta contra as iniquidades a que está a ser sujeito e contra o recuo civilizacional, desflralda bandeiras nas janelas e nos quintais, canta em uníssuo o hino nacional em casa e nos locais públicos, antes do começo de mais uma exibição da selecção nacional. O país pára sempre que há jogo, para todos em conjunto " sofrerem " , ministros e figurões importantes vão à Polónia assistir ao jogo,  os orgãos de comunicação social não falam de outra coisa, o seleccionador nacional Paulo Bento é quem tem  mais tempo de antena no país, num repisar de opiniões e declarações de banalidades sem qualquer interesse. 

Espantosamente para mim e espero que para mais uns quantos, parece que o grande desígnio da nação é pura e simplesmente que Portugal ganhe o campeonato europeu de futebol.

A desporporção  da realidade e dos sentimentos foi sempre e é um apanágio dos portugueses, somos exagerados e/ou redutores, somos de excessos, mas isto é demais num país à míngua e com outras prioridades. Este desvio da atenção para o futebol , esta desvirtualização da ordem de prioridades,  que relega para outro plano o  essencial  no  país e na Europa, é grotesca e de uma enorme custo para todos nós. O governo evidentemente agradece e promove, e entretanto as alterações ao código de trabalho já foram promulgadas e  o ministro Vítor Gaspar declara no estrangeiro que é possível que novas medidas de austeridade venham a se adoptadas para contenção do déficit público.

E nós? Nós o que é que fazemos? Nada! Népia! Vemos futebol na televisão!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Uma desgraça, uma autêntica desgraça, para nós e para o infeliz do Ronaldo que tem que arcar com as felicidades e infelicidades do seu povo!

jotacmarques  


 

quinta-feira, 7 de junho de 2012

A anestesia do medo

Vive-se com medo outra vez. Receia-se o presente, o futuro, o patrão, os colegas, o desemprego, tomar posição,  um rosário de inseguranças perturbadoras reinstalou-se na sociedade portuguesa. A comunicação social  martela-nos  com   pessimismos e  desgraças. O Estado é invasivo da privacidade dos cidadãos,  temos números para  tudo, de contribuinte, da segurança social, de identidade, espiolha-nos a conta no banco, escuta-nos o telemóvel, viola-nos os emails. É um sem fim de atentados à liberdade individual. O direito fundamental de se viver num saudável anonimato, sem dependências de cartões de crédito, de débito, da Brisa, do Continente, da Zon, de tudo e mais alguma coisa,  foi suprimido radicalmente. Mesmo eremita ou anacoreta corre-se o risco de ser controlado por satélite. 

O cidadão nunca sabe que praga se pode abater sobre si neste universo de vigilância  e de controle sobre os seus movimentos e acções. Em consequência sente-se intimidado, vive com medo de prevaricar e ser punido. Não sabendo bem até que ponto é  controlado e por quem,  torna-se desconfiado e manhoso.
A política  do terror do período da ditadura, assumiu outra face, exerce-se mais  sofisticada, o Estado   vigia e controla para proteger o cidadão, um mal menor para atingir um bem maior, a segurança e o bem estar dos indivíduos.

Canalizam-se as tensões para o futebol e outros mega acontecimentos, desviando-se a atenção do essencial.  Existe uma central de gestão das pulsões sociais que não interessam ao poder, que age no sentido de anestesiar as pessoas desviando-as da contextualidade política dos seus problemas reais.

Conta-se que em 1640, D. Filipa de Gusmão mulher do Duque de Bragança, o  futuro rei D.João IV, perante os receios  do marido em assumir a liderança da revolta contra os espanhóis, lhe disse que mais valia ser raínha por um dia do que duquesa toda a vida. D.João resolveu-se e o resultado foi a restauração da independência nacional.

A coragem de D. Filipa é um bom tema para meditarmos.

jotacmarques

    

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Homens-Bons precisam-se

Na Idade Média desenvolveram-se os municípios, chamados de povoações livres, livres da suserania ao rei, à nobreza e ao clero. O governo das instituições municipais era entregue a uma assembleia de cidadãos eleitos directamente de entre a população do concelho, denominados de Homens-Bons. Eram naturalmente pessoas reconhecidas e respeitadas pelos seu carácter honesto e justo, moral e éticamente de elevado nível. Atribui-se aos municípios um importante papel no desenvolvimento do país nesse período, retomado no pós 25 de Abril, como pacificamente é reconhecido.

Num texto recente escrito no blog  Chinfrineira Infernal  e hoje numa crónica radiofónica de Bagão Félix, falou-se do imperativo incontornável da ética e da moral estarem sempre presentes nas relações entre a pessoa e os seus semelhantes, entre o indivíduo e a sociedade.
Lembro-me de conversas antigas em que eu e um amigo considerávamos a necessidade de introduzir a ética nas relações comerciais entre países ricos e países pobres, por dever ser assim e porque de outra maneira alguma coisa iria estoirar no futuro. Actualmente olho para o que se passa no Médio Oriente e penso nessas conversas, observo  os movimentos e os seguidores do fundamentalismo islâmicos e não posso deixar de considerar que alguma coisa terão a ver com o abusos dos ricos sobre os pobres.

A dominante no mundo actual é a ética do dinheiro e da maximização do  lucro, sem olhar a meios para justificar os fins. Os papas desta filosofia nunca alcançaram a satisfação e em última análise ou serão destruídos ou se auto destruirão, infere-se da visão de David Cronenberg  no filme Cosmopolis. Partilho dessa leitura, mas  a realidade do entretanto pode sacrificar gerações, como de resto está a acontecer.

 Para quem "no entretanto" se preocupa consigo e com os outros, para quem não está contaminado pela doença do "ter"  militante e paranóico, é preciso que descubramos o homem-bom que acredito existir em cada um.O critério é pessoal, mas  deverá conter os eternos códigos da ética e da moral.

Ou corremos o risco de nos acontecer em casa o que se passa noutras partes do Mundo, caso do Médio Oriente e/ou de virmos a ser manipulados por fanáticos laicos ou religiosos.

jotacmarques  


segunda-feira, 4 de junho de 2012

O que fazer?

Há semanas que não me dá para escrever! Informo-me quanta basta, vejo e oiço com dificuldade os telejornais de desgraças, as notícias radiofónicas numa cacofonia de ditos e desditos, de previsões feitas e desfeitas, sempre para pior e cada vez mais. Que raio de modelos estes, os económicos, com que o governo trabalha, que apesar dos elogios da troika pelo empenho exemplar  nas medidas  de reequilíbrio orçamental e recuperação económica, redundam sempre na desvalorização dos índices indicativos do estado da economia. Aumenta escandalosamente o desemprego, os juros da divida sobem, as receitas dos impostos diminuem apesar das taxas que se agravaram, o financiamento à economia não existe, o investimento é uma miragem. Estará o problema nos modelos ou nos seus executores?

Em ambos julgo eu! Os modelos não passam de elaborações teóricas abstractas, congeminadas no conforto dos gabinetes  por nomenclaturas do ultraliberalismo monetarista, modelos pouco ou nada experimentados anteriormente, aplicados friamente sobre pessoas de carne e osso, em que os que vão à falência empresarial e familiar, os que são atirados para o desemprego, se consideram danos colaterais, fatalidades incontornáveis da reorganização e revitalização económica e financeira.
Os executores, governantes e técnicos, perante  o descalabro dos índices, fazem e refazem projecções e previsões, dizem-se surpreendidos com a taxa de desemprego, aumentam a dose ao garrote da austeridade fazendo ainda mais negra a vida  às pessoas. Inventam justificações idiotas para os desaires e  remetem para a crise internacional as causas da catástrofe.Andam à nora, é o que é, estão completamente desnorteados! Na Europa não é diferente, é ver o rol de medidas que não resolvem nada, as delongas, a tibieza das soluções e sobretudo o desnorte no encontro da unidade ente os parceiros da UE. É um espectáculo degradante e miserável assistir-se na União Europeia aos países a puxarem a brasa à sua sardinha e a descolarem-se dos mais débeis, anunciando histérico de  que não são como estes.

Perante este cenário desolador, interrogo-me sobre o que é que posso fazer. O discurso mais frequente do " tem-se que", sem se denominar quem é que tem que, impessoal e etéreo, é recorrente nos debates televisivos e afins,  mas na prática não leva a nada. De forma que sendo fundamental encontrar os agentes da acção, vamos começar por nós, cada um individualmente e na articulação com o outro. Falo evidentemente no exercício da cidadania, na negação do inefável conformismo do"não posso fazer nada" transversal na sociedade portuguesa. A história do voto de 4 em 4 anos é manifestamente insuficiente e começo a duvidar se serve para muito tal qual as coisas estão, no entanto é crucial o seu exercício livre. Os níveis da abstenção são escandalosos e insuportáveis para sociedades que querem ser dinâmicas e criativas, pura e simplesmente não se sabe o que é que metade da população quer no que toca à governança. Ou percebemos que isto não pode continuar ou então estamos a pôr em causa a própria essência da democracia, condicionando o seu espectro de representatividade. Mas a cidadania é muito mais do que votar  de 4 em 4 anos, apela à intervenção permanente  nos problemas da sociedade, exigindo de cada um que contribua com o que pode dar. Eu escrevo, tento influenciar os mais chegados, manifesto-me públicamente, estou mais ou menos atento ao que se passa na net ,  participo em iniciativas das redes sociais e está claro voto, nem que seja em branco. POSSO FAZER ISTO, outros farão diferente e melhor, mas que É PRECISO MEXERMO-NOS  não tenho dúvidas.

 Concluo realçando o imperativo urgente de cada um individual e colectivamente ter o dever ético e moral de intervir na sociedade em que está integrado e que o define como ser social.

jotacmarques