domingo, 17 de fevereiro de 2013

O " não "

Do muito que se tem escrito sobre o perfil psicológico e social dos portugueses enquanto povo, só consigo reconhecer uma única característica que nos pode definir, a incapacidade de dizermos NÃO. De facto, basta reflectirmos sobre a prática quotidiana  para descobrir quantas vezes inventámos pequenas mentiras piedosas para  descartar um convite sem dizer "não", quantas vezes tecemos imbróglios para evitar um "não", justificando-os com o imperativo de não melindrar o outro.

Do que se trata na realidade é de evitar a confrontação, e no limite, a ruptura.O português detesta confrontos, odeia decepcionar, não gosta de romper, é naturalmente conciliador e fatalmente conservador. A paz podre povoa  as relações  e o ódio de estimação que se esconde atrás de subserviências estão por toda a parte.

Aqui chegados, convêm dizer que quando se proclama que este povo é óptimo por rejeitar a confrontação, que é um povo  pacífico e respeitador, o que se pretende é dar continuidade à apatia e  à falta de reacção, para se continuar a fazer o que se quer. Quer dizer, a insuficiência comportamental do português no que respeita à indignação e ao confronto, é creditada pela pelo Governo, que fica com o terreno livre para continuar a implementar a política da catástrofre sem grandes incómodos.

Casos como o de António Costa, que se acagaçou com  Seguro, que contemporizou para evitar o confronto, a troco de nada, ou melhor, que se deixou enganar, propositadamente, para perpetuar o principio da partidocracia, em que a ética e a moral se ajeitam de acordo com os interesses dos "lobbies" e das carreiras pessoais, ou o caso do Secretário de Estado que sabendo das aldrabices no BPN se calou durante meses, são elucidativos desta falta de coragem.

Mais genéricamente, estou convencido de que a falta de reacção da sociedade portuguesa radica na incapacidade generalizada de dizer "não". A questão é que, quando nos confrontamos, quando dizemos não ao que nos atormenta e provocamos a ruptura, o que se segue é mais claro, clarifica-se e objectiva-se melhor a realidade.

Cá por mim, acho que é mais que tempo de dizermos NÃO, sob pena de não restar nada!

jotacmarques