terça-feira, 22 de abril de 2014

Três dias para os 40 anos do 25 de Abril !

Três dias para os 40 anos do 25 de Abril ! Tomo consciência de que há mais quatro décadas em cima dos 24 anos que tinha, naquele dia cinzento e meio chuvoso, quando me decidi a " arriscar o pêlo " por aquilo em que acreditava e militava havia anos.

Não gosto de falar de mim e também não cultivo o protagonismo heroíco que, nesta data , vai sendo hábito atribuir a algumas personalidades que tiveram um papel mais evidente nos acontecimentos. Evidentemente que não esqueço Salgueiro Maia , Otelo Saraiva de Carvalho e outros,  que nas operações militares assumiram responsabilidades importantes, mas não posso esquecer os anónimos que, nos carros de combate, no cerco ao Carmo, no assalto à Televisão e ao Rádio Clube Português, na tomada das instalações da Pide, e em tantos outros teatros operacionais , estiveram lá, asrricaram a liberdade e a vida, tornando possível o êxito do golpe militar.

Ao povo que saiu à rua, quando ainda nada estava decidido, que acompanhou e incentivou os militares em inúmeros locais e ocasiões, também a esses reconheço a importância que se atribui aos protagonistas militares. 
O 25 de Abril e o subsequente processo revolucionário, foi uma obra colectiva, de capitães, sargentos e soldados, e de milhares de cidadãos anónimos, que  tomaram partido e  agiram para transformarem a  realidade política, económica e social existente, numa outra substancialmente diferente. O êxito deve-se muito mais à acção colectiva desencadeada, do que a heroísmo individuais, que certa e esporádicamente também existiram.

Vem esta conversa a propósito do marasmo e alheamento em que a sociedade portuguesa está, num tempo em que a extrema direita governante desencadeou um plano de aniquilamento e extermínio do que se construi após Abril de 74. Refiro-me concretamente ao desmantelamento do Estado Social e à implementação de um modelo económico de mão de obra barata e de elevadas taxas de desemprego para controle do preço baixo do trabalho. À minimalização do Estado e das suas funções e prestações sociais, corresponde uma devolução ao sector privado de vastas áreas da vida económica nacional, antes de carácter social e agora de carácter negocial, onde o objectivo fundamental é o lucro. Os cortes orçamentais, principalmente, nos salários e nas pensões do sector público, na saúde, na educação, e nas prestações sociais, visam a redução do deficit do Estado, objectivo que parece justificado por si mesmo, se não tivermos em consideração a natureza da população portuguesa no que se refere à pobreza e aos escalões etários em que se divide. De facto, não se pode aceitar esta política, quando somos um país de velhos a necessitar cada vez mais de  assistência na saúde , enquanto que temos cerca de 2 milhões de pessoas no limiar da pobreza e cerca de 1 milhão de desempregados, carentes da ajuda do Estado.
Eis um breve e incompleto quadro do que já somos, mas que ainda não chega, já que parece que agora  chegou a vez dos trabalhadores do sector privado, pagos acima do que deviam na opinião do FMI.

Tudo tem sido possível, mesmo o inimaginável há pouco tempo atrás, e mais será, dado que a sociedade portuguesa não tem mostrado capacidade de reacção, de resistir activamente à avalanche de atentados aos seus direitos e nível de vida. Continuando assim, quando o plano estiver concluído, teremos o país reduzido a uma plataforma de investimento do grande capital internacional, a beneficiar de uma mão de obra barata e dócil e com um Estado pouco intrusivo na área privada, depois de alienar o mais possível as suas áreas de intervenção económica, demitindo-se das responsabilidades que são a razão da sua existência, para favorecer desavergonhadamente negócios privados lucrativos.

O que quero dizer a quem me lê, é que há outras maneiras de construirmos o presente e o futuro, e que a questão central que se nos coloca neste momento, é a da resistência aos autores e à política da destruição do nosso modo de vida.

Mais uma vez agindo colectivamente sobre a realidade para a transformar!

Jotacmarques





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domingo, 6 de outubro de 2013

Hannah Arendt em filme

O  filme  trata da visão política de Hannah Arendt sobre Eichmann, durante o seu julgamento e posterior execução em Israel no principio da década de sessenta. Dois anos antes, Eichmann tinha sido raptado pela Mossad na Argentina, para onde fugira e vivera sob falsa identidade desde o fim da 2ª guerra. Eichmann pertenceu às SS com o posto de tenente-coronel e chefiou o departamento encarregado dos transportes de deportação dos judeus para os campos de extermínio. Obsessivamente meticuloso e trabalhador,  organiza o transporte dos judeus com um alto nível de eficácia, de trágicas e terríveis consequências. Foi uma peça fundamental na chamada "solução  final judaica", engendrada por Heydrich, o seu chefe e mentor.

Arendt era judia alemã. Presa pela Gestapo em 1933, consegue fugir para Paris  e mais tarde para os Estados Unidos da América, onde vive  até 1975, data da sua morte. Filósofa e escritora, desenvolve o conceito da" banalidade do mal" no seu livro "Eichmann em Jerusalém", escrito a partir das crónicas jornalísticas feitas durante o julgamento. O convívio com o horror, com o sofrimento ,com a tortura, enfim, com todas as formas de infligir o mal, acaba por banalizar essas acções , tornando-as aceitáveis e vulgares, passíveis de serem assimiladas na "normalidade" quotidiana dos seus autores. Sendo assim, qualquer pessoa  pode protagonizar a maldade, podendo os actos mais hediondos e destrutivos da história da humanidade, como é o caso do Holocausto, ter por autores pessoas que não se destacam socialmente dos seus semelhantes. Hannah reconheceu a mediania na pessoa de Eichmann, um burocrata obsessivo, " alguém terrível e horrívelmente normal", um cumpridor zeloso das ordens que recebia, pouco capaz de discernir entre o bem e o mal. Eichmann não era um demónio nem um poço de maldade, era apenas um homem comum,  concluiu.

O filme acompanha o desenvolvimento histórico do julgamento, das teorias de Hannah Arendt, do conflito com os leaders da comunidade judaica, que não aceitam a tese da mediocridade de Eichmann e que o consideram um monstro demoníaco e maléfico. A filósofa sofreu críticas muito severas e viu afastarem-se amigos íntimos devido às teorias que defendia. A  relação afectiva e intelectual com o filósofo e mestre Martin Heidegger, seu professor e amante, cuja influência foi determinante no pensamento de Hannah, também se analisa no filme. Heidegger,  um dos mais importantes pensadores alemães do sec.XX, inscreveu-se no partido nacional-socialista  no inicio dos anos 30.  Mais tarde, Hannah Arendt vai contribuir activamente para a  reabilitação do filósofo , o que mais uma vez lhe traz conflitos com a poderosa comunidade judaica americana.

As teses da "banalidade do mal" concluem pela necessidade permanente da defesa da liberdade e da democracia, já que  "os assassinos estão entre nós" como disse Simon Wiesenthal, o grande "caçador" de nazis, que descobriu Eichmann na Argentina.

O pensamento de Arendt a este respeito é extremamente lúcido e importante, e admiro a sua coragem e honestidade moral e intelectual na defesa das suas crenças, no entanto, julgo que não terá compreendido ou valorizado, o contexto e a importância histórica do julgamento de Eichmann.  Israel pretendia levar a cabo uma grande acção de "exorcismo" das questões do Holocausto, uma compensação, na medida do possível,  aos sobreviventes dos campos de concentração e aos milhões de mortos às mãos dos nazis. A captura, e o julgamento no recente Estado de Israel, de um  importante criminoso de guerra, com um papel tão decisivo no extermínio dos judeus, constituía uma oportunidade única de afirmação de um povo  massacrado ao limite, mas ainda assim capaz de sobreviver enquanto nação e de ressurgir num  país independente e justo

A desvalorização da ideia do  "monstro demoníaco nazi" encarnada em Adolf Eichmann, e a acusação de que  decisões colaboracionistas de alguns dirigentes da comunidade judaica durante o Holocausto tinham contribuído para agravar o horror , não parecem oportunas naquele momento particular. Por outro lado, Arendt, incentiva à escalada da polémica e à debandada de ex-amigos e correlegionários ,com a sua atitude de arrogância pessoal e intelectual,  de não ceder nas suas teses, apesar do contexto político e social.
Concordando absolutamente com as  ideias sobre a "banalidade do mal", de saber justos  os reparos ás atitudes de colaboração de dirigentes judeus com os nazis, e de admirar a sua coragem, não me parece que Hannah tenha sabido agir estratégicamente na defesa de "um bem maior", que era ,sem dúvida, naquele momento, colaborar com os dirigentes do seu povo na acusação e na condenação exemplar  de Adolf Eichmann

jcmarques

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Esboços I

O despertar do telemóvel tocou um som feito de técnicas virtuais. Sete horas da manhã, o  fim de uma noite mal dormida , plena de copos e fumo em companhia de amigos. Olhou-se ao espelho, decidiu fazer a barba de 5 ou 6 dias, mudar de aspecto, uma coisa mais convencional . No duche desenhou bichos no vapor condensado no vidro da cabine, desde miúdo que o fazia, sempre gostou de animais, talvez por isso tenha ido para veterinária. O resultado tinha sido a licenciatura e a companhia da Marléne, uma cadela " bull terrier" que o seguia para toda a parte.Vestiu-se confortávelmente, que o dia ia ser longo e díficil. A mala já a tinha arrumado no dia anterior, umas quantas peças de roupa, poucos objectos de uso pessoal e o inseparável portátil.

Os pais já estavam no pequeno almoço, na rotina que sempre conhecera desde que tomara consciência das coisas da vida. Mãe enfermeira e pai bancário, a infância e a adolescência decorrera mansa e materialmente mais ou menos confortável. Tinha duas irmãs mais novas, pouco mais, os pais tinham planeado a descêndencia sem grande intervalo. Estavam as duas na faculdade, economia e comunicação, na privada, não tinham conseguido, como ele, lugar na pública. Um esforço financeiro considerável a suportar, acrescido por ele ainda viver lá em casa. Contenção e escolha de prioridades nos gastos eram uma constante.

Já tinha duas experiências laborais pós mestrado, um estágio sem remuneração numa clínica e um
" part-time" num "call center" a convencer desconhecidos, a quem não poucas vezes  trocava o nome na pressa e impreparação, da excelência de um qualquer tratamento ou produto inovodor. Oitenta horas de trabalho mensal, vinte por semana, a ganhar 200 euros, menos de 3 euros por hora. Na pouca formação recebidade tinham-lhe dito que a insistência era a chave do convencimento, a raiar a agressividade se necessário, entrar pelo telefone na casa do putativo cliente, sem cerimónias, com perguntas invasivas e em catadupa. Cansou-se da má criação, foi despedido ao fim de 2 meses porque não era suficientemente eficaz e não alcançava os objectivos.

Enviou dezenas de currículos, respondeu a anúncios, numa procura aleatória e vã. Nada, sem resultados!

Abraçou a mãe e as irmãs, agarrou na mala e saiu. Na rua o pai esperava no carro. A viagem foi curta, um desfilar de locais e bulícios familiares.

Abraçou o pai. 

Quando se sentou no avião, sabia que não tivera alternativa, abateu-se numa tristeza melancólica.

O avião descolou rumo a uma ex-colónia... onde um lugar de veterinário o esperava...

jotacmarques

terça-feira, 23 de abril de 2013

O tremendo Medina Carreira

No programa "Prós e contras" da última 2ª feira dia 22 na RTP 1, subordinado ao tema " saídas para a crise em Portugal", um dos convidados foi Medina Carreira , que tem uma rubrica semanal na TVI onde em colaboração com Judite de Sousa , convidam personalidades e  analisam a vida económica e política do país. Medina Carreira, que já foi Ministro das Finanças como independente  num governo do PS e é um especialista em finanças públicas, tem o mérito de ter avisado desde há anos para a catástrofe que poderia desencadear-se devido ao crescimento acelerado da dívida soberana. Infelizmente teve razão.

Não está em causa a justeza dos diagnósticos analíticos de Medina Carreira, que se  caracterizam pela simplicidade e pela acessibilidade, e que são, via de regra, muito bem fundamentados na estatística e na ponderação dinâmica dos mais importantes indicadores económicos, com conclusões lógicas, rigorosas e imparciais..

O  que é chocante é o estilo retórico do homem e, já agora, o contexto intelectual ultrapassado com que olha a sociedade onde se insere. O tremendismo e o catastrofismo são a tónica, para Medina Carreira está tudo mal, ninguém é competente, só querem é "tachos" e votos para  ter poder e arranjar negociatas e  lugares para os familiares e amigos. Quanto a soluções para esta desgraça, acha que não há hipótese, não há saídas, o Estado está todo contaminado, os políticos é só conversa de chacha, a malta nova não tem a menor ideia das dificuldades, o país é o que é, e ele já não tem idade para se iludir e acreditar nesta cambada, velhos e novos, de tretas e incapazes. A propósito da remodelação que se pretende fazer nos vários colégios militares, ele que foi educado nos Pupilos do Exército, com rigor e disciplina, acha que o que leva à remodelação é a "paisanagem", de paisanos, isto é, segundo sentenciou, a malta civil tem má vontade e não gosta dos gajos que estudam nos colégios militares, e assim sendo há que acabar com este tipo de escolas. Assim, sem mais!

Quanto às questões da dívida do Estado, Medina Carreira, acha que  qualquer dona de casa era capaz de resolver o assunto, tal é a simplicidade do mesmo. Não havendo dinheiro não se pode gastar, elementar caro Watson! Simples e eficaz, até uma dona de casa, gente básica e pouco esperta, consegue resolver, tal é a simplicidade!

Com este discurso sem esperança Medina Carreira é perigoso e nefasto! Lá em casa, quem o vê, os mais velhos, aterrorizados com situação do país, perplexos com as más notícias despejadas aos magotes diáriamente pelas televisões, acenam que sim com a cabeça, venerando o senhor doutor tão sapiente e de provecta idade, e têm saudades do passado. Os mais novos perante a tremendice e o catastrofismo sem esperança debitados contínuamente, olham como única solução pirarem-se do país.

Talvez Medina Carreira não tenha consciência disto, não se ouça e enxergue neste registo, mas devia ter e moderar-se, e se não o consegue, o melhor é estar calado...até porque, se já não tem idade para acreditar nas pessoas enquanto protagonistas da mudança, certamente que tem idade para ter juízo!

jotacmarques

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Jornalismo e democracia

Biblioteca de Oeiras 5ª feira à noite, Diana Andringa falou de jornalismo e democracia, da correlação entre a política e os orgãos de comunicação, dos jornalistas e da verdade, da necessidade ou não de existirem jornalistas, da internet e da sua capacidade de gerar o "cidadão jornalista", e de muitas outras questões relacionadas com a comunicação social.

A referência à verdade e à objectividade na construção da notícia e do artigo de opinião foi constante, verdade que não pode dissociar-se dos olhos e da mente do protagonista-jornalista, mas que  deve e tem que corresponder o mais possível ao que efectivamente se passou ou é, independentemente das emoções e dos juízos de valor do relator.

Das muitas causas que determinam a corrupção frequente da verdade, Diana Andringa destacou a pouca ou a ausência de reflexão sobre os factos , o que na sua opinião leva à notícia precipitada, à superficialidade e à deturpação inconsciente ou não do assunto.

É cada vez mais evidente o esvaziamento das notícias "versus" a quantidade processada e a ditadura das audiências e/ou a urgência de as dar a conhecer primeiro e sobre o momento. Em larga medida, a confirmação da autenticidade e da credibilidade das informações é duvidosa, para já não falar da sua reflexão crítica e objectiva.

Se de alguma forma assistimos ao sacríficio da qualidade da informação a favor da quantidade , o mesmo será dizer que o cidadão comum tem hoje mais informação, mas de pior qualidade.
Haverá quem defenda que é melhor para democacia que o cidadão saiba mais ainda que saiba mal, no entanto, a avaliar pela degradação das sociedades democráticas contemporâneas, a sofrerem significativos recuos civilizacionais, não tem sido a enorme quantidade informativa a impedir e a evitar o que está acontecer.

Em Portugal, a televisão, salvo poucas excepções, dedica-se empenhadamente a estupidificar as pessoas, através da proliferação de telenovelas e de reality-shows a ocuparem horários nobres, e a empobrecer a qualidade da informação com telejornais de hora e meia ou mais, com notícias irrelevantes que seguem ao segundo os "shares" de audiência. A ditadura das audiências conduz ao sensacionalismo barato e básico, pouco verdadeiro e objectivo, fornecido alegremente a uma população que se sabe pouco instruída e culta, contribuindo criminosamente para que as pessoas se eternizem no atoleiro da mediocridade cultural.

É claro que, e de acordo com Diana Andringa, este panorama tem que mudar, pela afirmação da qualidade...nem que se tenha que usar o interruptor da televisão para desligarmos a emissão e sabotar as cotas de audiência!
jotacmarques

quarta-feira, 10 de abril de 2013

O terror

Já antes escrevi sobre o medo como arma letal de dominação, usada pelos governantes que governaram ou governam contra os seus povos. Creio que me referi a Estaline, que usou largamente a "política do terror" na colectivização dos meios de produção industriais e da terra, neste último caso contra a vontade de milhares de pequenos proprietários rurais que não queriam ser expropriados. Estaline levou a cabo através do terror purgas radicais contra os seus opositores políticos, dentro e fora do partido, e  ordenou gigantescos e mortíferos "progroms" com base no medo incutido às pessoas. Neste e noutros regimes e países (nazismo, fascismo e recentemente no Ruanda, no Sudão, na Sérvia e na Bósnia, só para referir alguns) o medo foi utilizado como arma política, para que "cliques" de poder fizessem o que entendessem, sem olharem às criminosas  consequências que viessem a abater-se sobre os seus concidadãos.

A institucionalização do "terror" como política "oficial" dos regimes em que o cidadão integra inconscientemente o "medo", isto é, não protesta no emprego contra iniquidades porque tem medo de perder o lugar, não se revolta porque tem medo de sair da sua "zona de conforto", não investe porque tem medo do dia de amanhã, corresponde a um estado de espírito permanente e sociabilizado em que o indíviduo deixa  de ser e de se exercer livremente.

Presentemente é o que está a acontecer no nosso país e de um geral na Europa. O governo português utiliza constantemente o medo para implementar as políticas ultra-liberais, os portugueses são permanentemente aterrorizados com a banca rota, a saída do euro, enfim, são coagidos a aceitar a inevitabilidade das medidas de austeridade que o governo impõe, sob pena de lhes acontecer uma catástrofe ainda pior.

O medo faz parte do nosso dia a dia, como de resto se colou à pele dos países da União Europeia, que de união já nada tem,  subsistindo apenas o "medo" como cimento agregador. O projecto europeu e os seus príncipios inspiradores estão mortos, a UE só não se desagrega oficialmente porque desconhece as consequências reais desse acto.

O cidadão comum quando julga que talvez ainda possa salvar umas pequenas migalhas do que anteriormente tinha, principalmente no que se refere ao seu nível de vida e ao "Estado Social", apostando na remodelação ou na reconversão das políticas deste governo ou na alternativa do Partido Socialista, está profundamente enganado. 

A questão não reside na alternância de governos ou de partidos, pelo menos destes partidos, reside na natureza do "sistema político, económico e social". Ou será que é indiferente que o "sistema " permita que o presidente da EDP tenha recebido 3 milhões e tal de euros como remuneração em 2012 e entretanto não se queira aumentar o salário mínimo para 500 euros?

É claro que não é indiferente! É escabroso ,é indecentemente imoral e sem ponta de ética!

Ou nos batemos por uma nova organização política, económica e social, com moral e com ética, ou só nos resta este pântano em que estivemos, estamos e continuaremos atolados!

jotacmarques






sábado, 23 de março de 2013

Anormal

O confisco sobre os depósitos bancários no Chipre coloca a velha questão da competência e da sanidade mental das pessoas que estão encarregadas, em nosso nome, de tomar decisões sobre assuntos que nos afectam a todos.

Não  interessa aqui analisar as perigosas consequências do que se pretendeu/e fazer no Chipre, interessa  perceber a coerência e a lógica da decisões, em que condições foram tomadas  e tentar   avaliar a saúde mental dos protagonistas deste episódio.

Muito se tem escrito sobre o estado de saúde mental de personagens decisivos no passado histórico dos povos, sobre Estaline e Hitler foi dito que tinham personalidades paranóicas, a propósito de Roosevelt sabemos que estava profundamente doente quando esteve em Ialta onde se decidiu a partilha  da Europa e dos seus satélites em blocos políticos de influência, Salazar isolou-se do mundo político do seu tempo num quadro de misantropia, e muitos mais exemplos existem , uns mais graves outros menos, mas que levam a crer que distúrbios de personalidade e situações clínicas patológicas interferiram negativa e decisivamente na capacidade física e mental de governantes importantes e portanto na natureza das suas decisões.

Sabendo-se que a crise da zona euro é fundamentalmente uma crise de confiança, com o sistema bancário no centro do furacão, os governos e o BCE inventaram o inimaginável para sacarem aos povos e entregarem aos bancos, numa corrida desenfreada para os salvarem da banca rôta. Diga-se de passagem, porque nunca é demais dizê-lo, que a situação dos bancos é única e exclusivamente da sua responsabilidade, com origem na especulação ganânciosa do capitalismo financeiro selvagem.

Entre as muitas medidas tomada pela autoridades financeiras da Europa, porque era absolutamente vital com a crise do euro e dos bancos fixar os depósitos de aforro, a garantia de que os Estados se responsabilizavam pelos depósitos bancários até 100.000 euros sossegou os pequenos depositantes, que continuaram a canalizar as suas poupanças para o sistema bancário. O volume de depósitos nos bancos portugueses, em dada altura até aumentou significativamente após o anúncio da medida referida. Outra medida importante foi a entrada decidida e activa do BCE no mercados obrigacionistas primário e secundário, com bons resultados na descida das taxas de juro das dívidas dos países europeus em dificuldades.

Acreditou-se a partir daí que o euro já não estava em risco, que o pior já tinha passado.

Agrava-se então o problema do Chipre, há muito tempo a balões de oxigénio , num quadro de irresponsabilidade colosssal dos dirigentes cipriotas e europeus que deixaram degradar a situação durante meses sem tomarem as atitudes resolutivas que se impunham.

Os ministros das finanças europeus em reunião fora de horas, num "brainstorming" esgotante, stressados pela eminência de uma resolução, entre saídas e entradas na sala, conversas de corredor e mijas, tomam as brilhantes decisões que se conhecem . 

O imposto sobre os depósitos bancários, mesmo para os abaixo de 100.000 euros, foi fatal para a confiança no sistema financeiro. No dia seguinte o caos nos bancos cipriotas, nas bolsas europeias e nos mercados da dívida estava instalado. Apesar do recuo feito à pressa e atabalhoadamente a instabilidade persiste.

Digam-me lá se não é de desconfiar da sanidade mental de quem se compromete com garantias que depois sabota, sem pensar na consequências e deitando a ética para o caixote?

Serão "normais" as pessoas que nos arrasam com impostos para salvarem o sistema financeiro e a moeda, e que em dado momento, em  condições deploráveis, tomam medidas precipitadas de que se arrependem no dia seguinte, e que voltam a pôr  em causa o que dizem querer salvaguardar?

Acho que não!  Estamos a ser conduzidos para o abismo por pessoas que não andam com a cabeça em condições, e que, para o seu e o nosso bem,  devem vonluntáriamente ou  obrigadas  desaparecer dos centros de decisão.

jotacmarques