sábado, 17 de novembro de 2012

A carga policial do dia 14 de Novembro

A carga policial sobre os manifestantes em S Bento no passado dia 14 vai alimentar durante dias jornais e televisões. Opiniões sobre a justeza ou não da carga policial,  relatos apaixonados de testemunhas oculares, consequências dos acontecimentos, farão a felicidade do exército de comentadores e de opinion makers deste país de paixões.

No entanto, nada de inédito se passou, e certamente que  situações idênticas se passarão no futuro próximo se não se aprender nada, polícia e manifestantes, com os presentes acontecimentos.

Durante cerca de duas horas a polícia foi invectivada e vítima de pedradas e de outros objectos de arremesso,  sem que tenha havido a detenção dos autores da proeza. Os arremessadores constituíam um grupo de poucas dezenas de pessoas, sitiados nas linhas da frente da multidão presente, cerca de 5 mil pessoas, e portanto fácilmente identificáveis  e passíveis de serem detidos antes que as coisas inchassem.

Estes indivíduos achavam-se quase todos mascarados e alguns ostentavam símbolos anárquicos. A polícia tinha agentes à paisana infiltrados na multidão. Dir-se-ia surrealista a situação, em que uns cometeram ilegalidades durante horas, nas barbas de outros que pura e simplesmente deixaram que acontecesse.

A carga policial acabou por desabar, e como em tantas outras vezes foi indiscriminada, quem estivesse  à mão levou pela medida grande, velhos ou novos, mulheres ou homens. Depois foi a debandada e as perseguições  habituais, e neste caso, património danificado e focos incendiários.

Do grupo dos problemas, trata-se de arruaceiros, que não fazem a mais leve ideia do que é o anarquismo e que pensam certamente que Bakunine é um dos jogadores do Celtic de Moscovo. É gente que gosta da violência pela violência , hooligans que parasitam o justo descontentamento dos povos que estão a ser vítimas das iniquidades das politicas da austeridade. Claro está que, não é de excluir um ou outro manifestante convicto e  por regra pacífico, que no auge da confusão se exalte e descontrole e que também atire a sua pedra ou parta o mobiliário urbano. 

Do lado da polícia o comportamento é o da falta de discernimento racional sobre quem deve de abater a repressão, o que de resto vem fazendo a regra. Cordões policiais e infiltrados têm que, devem de, deter imediatamente os aprendizes de feiticeiros violentos evitando a escalada dos acontecimentos. Estão lá não para bater indiscriminadamente, mas para evitar que ser chegue a esse ponto, isolando os arruaceiros.

Os manifestantes, vítimas maiores de tudo isto, devem de considerar afastar-se dos arruaceiros e da polícia sempre que as coisas comecem a dar para o torto, ou correm o risco de serem espancados sem terem culpa de nada.

No que diz respeito à hierarquia policial e governativa, o mínimo que se pode dizer é que falharam redundamente. Não é honesto que se venha louvar a actuação policial, que se pautou por falta de prevenção, e por falta de capacidade interventiva durante duas horas sem deter os energúmenos das pedradas. Não há justificação que valha a este comportamento, que acabou por resultar no habitual, carga indiscriminada sobre os manifestantes, devido ao mau desempenho das chefias da cadeia de comando.

No futuro próximo as manifestações e outras acções de protesto vão intensificar-se na proporção das iniquidades da austeridade, a agressividade será crescente, e é de prever o aumento de  actos de descontrolo. 

Ao habitual e bacoco apelo à responsabilidade, em que por via de regra ninguém assume coisa nenhuma, é urgente que se apele à inteligência. Refiro-me à capacidade intelectual de interagir o raciocínio com a realidade tangível e de adoptar as acções mais harmoniosas e correctas, falo da inteligência emocional óbviamente.

jotacmarques









terça-feira, 13 de novembro de 2012

Merkel em Portugal

Afinal a contestação à Chanceler alemã foi pífia, apenas escassas dezenas de manifestantes orlaram Belém e S. Julião da Barra. Da visita, espremida, nada. Nada das esmolas ansiosa e servilmente esperadas por alguns - novos investimentos, revisões às posições defendidas por Merkel-, apenas declarações frouxas e pouco convicentes de apoio às politicas do governo de Passos Coelho.

Merkel, rápida e decidida, às vezes desinteressada, Passos Coelho, servil e abatido, fiel à sua inspiradora, de uma subserviência pastosa e de mesuras superlativas disse o que a chanceler queria ouvir, pôs-se em bicos de pés quanto à qualidade de dilecto bom aluno, e foi absolutamente mudo quanto à defesa dos interesses do povo que o elegeu. 

Merkel também esteve com Cavaco, mas não faço a mais pequena ideia sobre o tema da conversa e duvido que o venha a saber, tendo em consideração o que tem vindo de Belém, isto é, um  ensurdecedor silêncio sepulcral.

Antes de viajar para Berlim, a chanceler alemã ainda foi fazer uma perninha  ao congresso luso-alemão no CCB. Fiquei deveras entusiasmado com a promessa de Merkel vir passar férias a Portugal quando deixar de ser chanceler.

De forma que, como dizia o outro, nada de novo na frente oriental!

Uma última nota para o empenhado aparelho de segurança durante a visita. Foi um momento alto, altíssimo, das nossas forças de segurança. A concepção do plano, sem dúvida da autoria de grandes competências, de pessoas muito conhecedoras e espertas, centrou-se no principio de um polícia para cada manifestante, e na supressão da circulação de tudo o que mexia, o que neutralizou em absoluto qualquer tentativa criminosa contra as comitivas dos dois países. Nalguns casos por deficit de manifestantes, era dia de trabalho normal, havia mais polícias do que meliantes, certamente mais um record do Guiness, tão ao agrado dos nacionais. Não esquecer também, as ruas cortadas ao transito já na véspera, e o encerramento do espaço aéreo durante a aterragem e a descolagem do avião da chanceler, não fosse algum caça inimigo ou quiçà, uma avioneta kamikaze  aparecer no horizonte.

E lá vamos andando com a cabeça entre as orelhas, como diria o Sérgio!

 
 jotacmarques