terça-feira, 23 de abril de 2013

O tremendo Medina Carreira

No programa "Prós e contras" da última 2ª feira dia 22 na RTP 1, subordinado ao tema " saídas para a crise em Portugal", um dos convidados foi Medina Carreira , que tem uma rubrica semanal na TVI onde em colaboração com Judite de Sousa , convidam personalidades e  analisam a vida económica e política do país. Medina Carreira, que já foi Ministro das Finanças como independente  num governo do PS e é um especialista em finanças públicas, tem o mérito de ter avisado desde há anos para a catástrofe que poderia desencadear-se devido ao crescimento acelerado da dívida soberana. Infelizmente teve razão.

Não está em causa a justeza dos diagnósticos analíticos de Medina Carreira, que se  caracterizam pela simplicidade e pela acessibilidade, e que são, via de regra, muito bem fundamentados na estatística e na ponderação dinâmica dos mais importantes indicadores económicos, com conclusões lógicas, rigorosas e imparciais..

O  que é chocante é o estilo retórico do homem e, já agora, o contexto intelectual ultrapassado com que olha a sociedade onde se insere. O tremendismo e o catastrofismo são a tónica, para Medina Carreira está tudo mal, ninguém é competente, só querem é "tachos" e votos para  ter poder e arranjar negociatas e  lugares para os familiares e amigos. Quanto a soluções para esta desgraça, acha que não há hipótese, não há saídas, o Estado está todo contaminado, os políticos é só conversa de chacha, a malta nova não tem a menor ideia das dificuldades, o país é o que é, e ele já não tem idade para se iludir e acreditar nesta cambada, velhos e novos, de tretas e incapazes. A propósito da remodelação que se pretende fazer nos vários colégios militares, ele que foi educado nos Pupilos do Exército, com rigor e disciplina, acha que o que leva à remodelação é a "paisanagem", de paisanos, isto é, segundo sentenciou, a malta civil tem má vontade e não gosta dos gajos que estudam nos colégios militares, e assim sendo há que acabar com este tipo de escolas. Assim, sem mais!

Quanto às questões da dívida do Estado, Medina Carreira, acha que  qualquer dona de casa era capaz de resolver o assunto, tal é a simplicidade do mesmo. Não havendo dinheiro não se pode gastar, elementar caro Watson! Simples e eficaz, até uma dona de casa, gente básica e pouco esperta, consegue resolver, tal é a simplicidade!

Com este discurso sem esperança Medina Carreira é perigoso e nefasto! Lá em casa, quem o vê, os mais velhos, aterrorizados com situação do país, perplexos com as más notícias despejadas aos magotes diáriamente pelas televisões, acenam que sim com a cabeça, venerando o senhor doutor tão sapiente e de provecta idade, e têm saudades do passado. Os mais novos perante a tremendice e o catastrofismo sem esperança debitados contínuamente, olham como única solução pirarem-se do país.

Talvez Medina Carreira não tenha consciência disto, não se ouça e enxergue neste registo, mas devia ter e moderar-se, e se não o consegue, o melhor é estar calado...até porque, se já não tem idade para acreditar nas pessoas enquanto protagonistas da mudança, certamente que tem idade para ter juízo!

jotacmarques

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Jornalismo e democracia

Biblioteca de Oeiras 5ª feira à noite, Diana Andringa falou de jornalismo e democracia, da correlação entre a política e os orgãos de comunicação, dos jornalistas e da verdade, da necessidade ou não de existirem jornalistas, da internet e da sua capacidade de gerar o "cidadão jornalista", e de muitas outras questões relacionadas com a comunicação social.

A referência à verdade e à objectividade na construção da notícia e do artigo de opinião foi constante, verdade que não pode dissociar-se dos olhos e da mente do protagonista-jornalista, mas que  deve e tem que corresponder o mais possível ao que efectivamente se passou ou é, independentemente das emoções e dos juízos de valor do relator.

Das muitas causas que determinam a corrupção frequente da verdade, Diana Andringa destacou a pouca ou a ausência de reflexão sobre os factos , o que na sua opinião leva à notícia precipitada, à superficialidade e à deturpação inconsciente ou não do assunto.

É cada vez mais evidente o esvaziamento das notícias "versus" a quantidade processada e a ditadura das audiências e/ou a urgência de as dar a conhecer primeiro e sobre o momento. Em larga medida, a confirmação da autenticidade e da credibilidade das informações é duvidosa, para já não falar da sua reflexão crítica e objectiva.

Se de alguma forma assistimos ao sacríficio da qualidade da informação a favor da quantidade , o mesmo será dizer que o cidadão comum tem hoje mais informação, mas de pior qualidade.
Haverá quem defenda que é melhor para democacia que o cidadão saiba mais ainda que saiba mal, no entanto, a avaliar pela degradação das sociedades democráticas contemporâneas, a sofrerem significativos recuos civilizacionais, não tem sido a enorme quantidade informativa a impedir e a evitar o que está acontecer.

Em Portugal, a televisão, salvo poucas excepções, dedica-se empenhadamente a estupidificar as pessoas, através da proliferação de telenovelas e de reality-shows a ocuparem horários nobres, e a empobrecer a qualidade da informação com telejornais de hora e meia ou mais, com notícias irrelevantes que seguem ao segundo os "shares" de audiência. A ditadura das audiências conduz ao sensacionalismo barato e básico, pouco verdadeiro e objectivo, fornecido alegremente a uma população que se sabe pouco instruída e culta, contribuindo criminosamente para que as pessoas se eternizem no atoleiro da mediocridade cultural.

É claro que, e de acordo com Diana Andringa, este panorama tem que mudar, pela afirmação da qualidade...nem que se tenha que usar o interruptor da televisão para desligarmos a emissão e sabotar as cotas de audiência!
jotacmarques

quarta-feira, 10 de abril de 2013

O terror

Já antes escrevi sobre o medo como arma letal de dominação, usada pelos governantes que governaram ou governam contra os seus povos. Creio que me referi a Estaline, que usou largamente a "política do terror" na colectivização dos meios de produção industriais e da terra, neste último caso contra a vontade de milhares de pequenos proprietários rurais que não queriam ser expropriados. Estaline levou a cabo através do terror purgas radicais contra os seus opositores políticos, dentro e fora do partido, e  ordenou gigantescos e mortíferos "progroms" com base no medo incutido às pessoas. Neste e noutros regimes e países (nazismo, fascismo e recentemente no Ruanda, no Sudão, na Sérvia e na Bósnia, só para referir alguns) o medo foi utilizado como arma política, para que "cliques" de poder fizessem o que entendessem, sem olharem às criminosas  consequências que viessem a abater-se sobre os seus concidadãos.

A institucionalização do "terror" como política "oficial" dos regimes em que o cidadão integra inconscientemente o "medo", isto é, não protesta no emprego contra iniquidades porque tem medo de perder o lugar, não se revolta porque tem medo de sair da sua "zona de conforto", não investe porque tem medo do dia de amanhã, corresponde a um estado de espírito permanente e sociabilizado em que o indíviduo deixa  de ser e de se exercer livremente.

Presentemente é o que está a acontecer no nosso país e de um geral na Europa. O governo português utiliza constantemente o medo para implementar as políticas ultra-liberais, os portugueses são permanentemente aterrorizados com a banca rota, a saída do euro, enfim, são coagidos a aceitar a inevitabilidade das medidas de austeridade que o governo impõe, sob pena de lhes acontecer uma catástrofe ainda pior.

O medo faz parte do nosso dia a dia, como de resto se colou à pele dos países da União Europeia, que de união já nada tem,  subsistindo apenas o "medo" como cimento agregador. O projecto europeu e os seus príncipios inspiradores estão mortos, a UE só não se desagrega oficialmente porque desconhece as consequências reais desse acto.

O cidadão comum quando julga que talvez ainda possa salvar umas pequenas migalhas do que anteriormente tinha, principalmente no que se refere ao seu nível de vida e ao "Estado Social", apostando na remodelação ou na reconversão das políticas deste governo ou na alternativa do Partido Socialista, está profundamente enganado. 

A questão não reside na alternância de governos ou de partidos, pelo menos destes partidos, reside na natureza do "sistema político, económico e social". Ou será que é indiferente que o "sistema " permita que o presidente da EDP tenha recebido 3 milhões e tal de euros como remuneração em 2012 e entretanto não se queira aumentar o salário mínimo para 500 euros?

É claro que não é indiferente! É escabroso ,é indecentemente imoral e sem ponta de ética!

Ou nos batemos por uma nova organização política, económica e social, com moral e com ética, ou só nos resta este pântano em que estivemos, estamos e continuaremos atolados!

jotacmarques