sexta-feira, 30 de março de 2012

BPN A COINCIDÊNCIA PERFEITA

Hoje,finalmente,é concluída a venda do BPN aos angolanos,anuncia-se nos noticiários. Após diversos acidentes de percurso,o negócio que chegou a estar em causa,devido a dúvidas suscitadas pela Comissão Europeia,recebeu há dias o "agreement" para se concluir,prevalecendo a  lógica de que tudo está bem,quando acaba bem.Só que,para nós povo pagante de impostos selvagens,nada esteve bem,nem acabou bem.O BPN,na eminência de falir, foi nacionalizado em 2008,devido ao receio que se instalou,de que a banca nacional  viesse a sofrer  uma crise sistémica de falências.Ao tempo,e perante as circunstâncias nacionais e internacionais,a solução parecia a mais correcta,a situação do banco e da banca nacional,ficava mais controlada,impedia-se o pânico nos depositantes,e a prazo quando o banco fosse desnacionalizado,o Estado recuperava o dinheiro investido,talvez até tivesse mais valias,o banco continuava no mercado,os postos de trabalho mantinham-se.Aconteceu porém,que na sindicância feita posteriormente,os "buracos"detectados nas contas eram de uma magnitude catastrófica,de tal modo que,de lá para cá,o Estado Português teve que meter no banco cerca de 5 mil milhões de euros,diz-se,para agora,finalmente o vender aos angolanos, por uns míseros 40 milhões.O acordo com a "troika" impunha a privatização do banco em prazo apertado,é certo,nem podia ser diferente,já que é de todo intolerável na lógica neo-liberal que um banco nacionalizado continue na propriedade pública,mas o que ressalva para todos nós povo ,é que quem vende por 40 o que lhe custou 5000,ou é parvo ou incompetente.Entretanto,convém identificar os protagonistas de toda esta embrulhada,cada um tirará as ilações que entender,  começando pelo representante dos compradores angolanos, a estrela é Mira Amaral ,várias vezes ministro dos governos de Cavaco Silva,passando por Dias Loureiro também ex ministro de Cavaco e conselheiro de estado,e acabando em Oliveira e Silva ex secretário de estado do governo do mesmo Cavaco Silva,que por sua vez obteve um lucro de 140% com a venda ao BPN das acções que detinha do mesmo BPN,deparamos com uma constelação de amigos e colaboradores políticos do actual presidente da republica,todos eles da área do PSD,numa infeliz coincidência de protagonismo, num dos piores negócio de sempre do estado português. Resta referir,mais dois actores da tragédia,desta vez da esfera do PS,Vítor Constâncio,anos a fio governador do Banco de Portugal,que não identificou problemas de maior no BPN,e Teixeira dos Santos,ministro das finanças do último governo de Sócrates,que efectuou à nacionalização do banco e negociou o acordo com a "troika",onde se determinava a desnacionalização do BPN.A incompetência do primeiro,foi recompensada com o lugar de vice-presidente do Banco Central Europeu,o servilismo do segundo, ia sendo premiado com um lugar de administração na PT,o que só não aconteceu porque à última da hora acharam que era capaz de ser demais nomear um administrador indicado pela CGD,o banco público que tinha sido tutelado,enquanto ministro,pelo proposto.
De todo este "polvo",há muito mais gente envolvida,só o Oliveira e Costa  é que esteve preso,e entretanto ainda não houve qualquer julgamento.Conclusões,não tiro nenhumas,apenas registo a falta de transparência deste imbróglio e  a coincidência de protagonismo de uma data de gente do "arco do poder",numa promiscuidade descarada dos negócios privados  com quem exerceu ou exerce funções de estado.

jotacmarques 

quinta-feira, 29 de março de 2012

Os vendilhões da desgraça


Anda por aí uma colecção de novos"filósofos" da teoria do trabalho,que se desdobram a apregoar as suas teses, em debates televisivos,entrevistas nos media,sites na internet,etc..A teoria consiste  básicamente,na promoção da venda da força de trabalho como uma mercadoria,isto é,qualquer pessoa que queira ter êxito profissional e social,deve apresentar às empresas a que se candidata, a sua capacidade para trabalhar,num registo agressivo e enfático,na consideração de que, a sua força de trabalho  é uma  mercadoria de alta qualidade,com um elevado valor de troca no mercado.A teoria assenta na  proposição de que  no mercado tudo se vende e compra,tudo é uma mercadoria transacionável,e o trabalho não foge à regra.Já tive a desdita de ouvir recentemente,pelo menos dois gajos arengarem sobre o assunto, um deles, tipo alternativo para o bimbo com muitos adornos de visual e pronúncia do norte,que defende que é preciso"bater o punho",para um gajo/a se impôr,o outro, género "new age" beto,que dentro dos mesmos príncipios teóricos  se especializou a apoiar quem pretende emigrar,dando palestras e conferências,mantendo sites na net,participando em debates,em mesas redondas,etc.,etc,.Ambos arranjaram um rentável modo de vida,uma pantomina que gera um dinheirão,ocuparam  "nichos de mercado" inovadores e necessários,diriam eles,na sua linguagem estereotipada.A teorias defendidas não passam de uma charlatanice ultra-neoliberal,que em última análise, pretende reduzir as pessoas a neo-escravos,que se vendem num mercado de trabalho implacável  que quer comprar a mercadoria ao preço mais baixo possível,eles os teóricos,são charlatães,que representam aqui o papel que outrora os defensores do esclavagismo representaram.A descontextualização social e humana no binómio  trabalho-trabalhador em que estas teorias se baseiam,estão na base do valor cada vez mais baixo dos salários e do cerceamento dos direitos dos trabalhadores,não sendo de admirar que actualmente se ofereçam ordenados de 600 euros a pessoas com  qualificações académicas e  educativas,geralmente licenciados,quando não há muitos anos  em igual situação,os ordenados andavam na ordem dos 1500 euros.Os dois iluminados em questão,parece que são muito ouvidos pela malta nova,é claro que  num tempo de falta de esperança no futuro e de um presente de desagregação,quem fala alto e com convicção,numa verborreia sebastianista que não dá tempo para reflectir,pode impressionar,mas uma análise mais ponderada de conteúdo revela rápidamente a natureza das balelas,que não passam de tretas de banha da cobra mal amanhadas.Quando se reduz o trabalho,a qualquer coisa que se vende e compra,numa amoralidade ética do lucro acima de tudo,com as pessoas a valerem o que os mercados  dão por elas  em dólares ou euros,numa regulação comercial que não considera o valor humano,social e individual  dos trabalhadores,caminha-se para num regime de neo-escravatura humana onde quem não alinha  cai num destrutivo desemprego crónico.O combate a esta lógica  é impossível  sem governos que defendam, sem cinismo, o estado-social,o único que respeita o valor humano,social e individual do trabalho,podem ser mais à esquerda ou mais ao centro,mas todavia, que defendam o estado social,como os que foram construídos na Europa do pós-guerra,e que agora estão a ser desmantelados pedra por pedra,na voragem do neo-liberalismo militante de grande parte dos governos europeus,nós incluídos.Trata-se ,sem qualquer dúvida,de uma mudança de paradgima,ideológicamente alicerçada ,estratégica e tácticamente muito bem planeada e eficaz, prenunciando uma nova fase do capitalismo mundial,na tentativa de ganhar uma nova alma que adie a derrocada inexorável e fatal.
Os dois iluminados de que falávamos,são meros faxinas de serviço,peões de brega a prazo, descartáveis, de quem não mais se irá ouvir falar em breve....como tantos outros,antes deles!

jotacmarques

sexta-feira, 23 de março de 2012

Top ten

Quando se estuda História,aprende-se a cronologia dinástica de reis e raínhas e os seus cognomes,Afonso Henriques "O conquistador",D.JoãoII "O príncipe perfeito",D.Sebastião"O desejado",etc,etc.Hoje vou tentar  elencar   dez  individualidades  nocivas a Portugal nos últimos anos,ordená-los numa escala decrescente de nocividade e cognominá-los.Segue-se o resultado:

1.José Sócrates          "O coveiro"

2.Cavaco Silva           "O precursor do desastre"

3.Miguel Relvas          "O Mefistófeles"

4.Vítor Constâncio     "O incompetente"

5.Vítor Gaspar           "O espoliador"

6.Cantiga Esteves       "O  lacaio do espoliador"

7.Jorge Lacão            "O mentiroso"

8.Armando Vara         "O cobrador"

9.António J. Seguro    "O fraco"

10.António Mexia       "O monopolista"

Um dia destes tentarei outro exercício semelhante,matéria prima é o que mais há!

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quinta-feira, 22 de março de 2012

O interesse nacional versus os interesses partidários

Marques Mendes,um dos gurus do PSD,várias vezes ministro e muitas parlamentar,em entrevista à antena 1,dizia que o governo tem tido um alto nível de desempenho,apontando como uma das principais razões,o  estar a governar segundo o interesse nacional e não segundo os interesses partidários.Em última análise,do que Marques Mendes disse,pode-se inferir que,o interesse nacional é antagónico aos interesses partidários,quer dizer que,governa bem quem tiver em consideração o interesse nacional,e mal quem tiver em conta os interesses partidários, neste  contexto,o interesse nacional  não se coaduna com a política partidária.Não quero estabelecer comparações,mas Salazar, de um modo geral todos os autocratas,justificava-se e justificava o regime autoritário em Portugal,precisamente com o mesmo principio,o de que as democracias parlamentares colocavam os interesses partidários acima do interesse nacional,prejudicando assim gravemente,os países e os povos.É caricato que,ultimamente seja recorrente este tipo de  raciocínio para valorizar o governo,aliás como um outro,em que se infere da maldade de determinadas medidas legislativas propostas,por serem ideológicas,e da bondade de outras,por o não serem..Dá ideia que,as ideologias são nefastas,que a filosofia antiga e moderna,estão a mais nos tempos que correm,numa desvalorização das doutrinas ideológicas no processo de desenvolvimento da humanidade.Evidentemente que seria muito melhor para quem governa,são estes e os seus acólitos que se desdobram naquelas declarações,que o povo não tivesse ideologias,e se calhar acreditasse num messias salvador, que não pensasse, que se fosse dócil  e tivesse fé num homem providencial.Acontece é que já não é assim,aqui pelo menos,e que para que nunca mais o seja,é preciso que sejamos o mais ideológicos possível,e que acreditemos e defendamos a democracia partidária,fomentando o aparecimento de novos partidos,mais verdadeiros e honestos.
Quem muito fala pouco acerta,diz o ditado popular,eu acrescentava como conselho a Marques Mendes,que se cale quando não tiver razões substantivas para falar,e que se o fizer,seja cuidadoso com o que diz ,até porque há muita gente a ouvi-lo.

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terça-feira, 20 de março de 2012

OS SABUJOS

Há em Portugal uma classe de gajos e gajas,que aqui designaremos por "sabujos",que tal e  qual os predadores de terceira categoria,aqueles animais meio repelentes,que aguardam medrosos, que o leão se banqueteie,depois os filhotes,em seguida a hiena,e ainda os abutres,para finalmente eles se aproximarem astutos e matreiros,a pau com tudo e todos,e saquearem os restos dos restos.São eles,alguns dos  adjuntos dos chefes de gabinete dos ministros e secretários de estado,alguns insignes autarcas,vereadores e membros das assembleias  municipais,carradas de consultores do nada,colocados em empresas públicas sem nada produzirem,estão ali simplesmente a aguardar um lugarzito melhor.Também pululam  na Santa Casa da Misericórdia,na Igreja Católica,Opus Dei, Maçonaria,nos clubes de futebol,na Fundação Gulbenkian,no CCB,na Casa da Música,pelam-se por tachos nas instituições culturais,dá prestígio e fica bem,enfim,esta espécie está infiltrada em tudo o que dá dinheiro e poder.É transversal aos "sabujos,os ordenados acima dos 3000 euros,fazerem o menos possível,serem intriguistas,esperarem pacientemente por colocações melhores,e claro está,uma fidelidade canina aos messias,e sabujarem-se alegremente ao dono,na satisfação plena todos os desejos que aqueles possam ter.Andam sempre de telemóvel em punho,nos restaurantes levantam-se num ápice para procurarem mais rede,nas ruas quase que são atropelados,tal é a concentração nas conversas,não se arredam um segundo do aparelho,levam-no para a sala,para o quarto,para a cozinha,para a casa de banho,não vá alguém chamar e perder-se a última novidade.Vestem-se com fato por medida e  gravata de seda italiana,comprados com muito sacrifício nos alfaiates de referência,calçam churchill ou sebago,só ao fim de semana é que usam jeans e camisa de colarinho aberto,manga arregaçada,escrupulosamente abaixo do cotovelo cerca de uma mão- travessa,fazem-se transportar em carros de segmento médio alto,discretos,de côr preta ou cinza antracite,mercedes ou audi preferencialmente,vivem em andares caros,nas zonas residenciais da moda,Parque das Nações,bairros históricos,com decorações interiores tipo minimal ou fortemente neo-barrocas,dependendo do gosto de cada um,quanto a leituras,os jornais económicos e o Expresso,o New York Times e a Economist,um ou  outro livro-novidade sobre o pensamento contemporâneo,também os há  que  leêm  às escondidas, as revistas de charme e dos famosos,mas o que todos eles não perdem são as notícias sobre a  economia,bolsas e relatórios trimestrais de resultados, das maiores empresas nacionais e estrangeiras.Saem muito à noite,é preciso ver e ser visto,jantam nos restaurantes caros da moda,com os amigos, as namoradas,as namoradas dos amigos,as ex e os ex,prática muito em moda, terminam a a noite,às tantas,com um copo no Lux.
E depois?...tem algum mal?...pergunta-se!Tem é claro,o mal é que os "sabujos" vivem à nossa conta,à conta dos nossos impostos,não produzem nada,são caros,são um pretexto para nos imporem mais medidas de austeridade,mas o pior de tudo,o drama maior,advém do facto de eles transmitirem através do exemplo,padrões de vida éticos e morais péssimos,de que se vale mais pelo que se parece do que pelo o que se é,que o dinheiro é mais importante que o ser,que com padrinhos e protectores, se pode ascender a  níveis sociais e profissionais elevados,a vidas muito confortáveis,e tudo isto está errado,não bate certo,não se percebe como ainda  existe num país europeu do sec.XXI,membro da EU,intervencionado pelos credores,à rasca para não se afundar definitivamente.

jotacmarques

domingo, 18 de março de 2012

Alentejo da minh'alma, tão longe me vais ficando...

Nasci em Lisboa mas adoptei e fui adoptado pelo Alentejo,habituei-me há muito aos excessos do frio e do calor,à paisagem a perder de vista,verde e amarela,ao branco que chega a ferir,aos azuis e aos ocres que emolduram,às cidades prenhes de passados,belas e humanas,às vilas e aldeias do silêncio, ao correr lento do tempo.Gosto das conversas que se arrastam, mansas e de gerúndios,histórias de lavouras e bichos,de dificuldades passadas e presentes,sem queixume,apenas contadas,sobre os os estão e os que foram,gosto desta gente humilde e digna,que sabe que o tempo é coisa que não se perde,que olha o céu e profetiza sol e chuva,suão e trovoadas,que se faz perder, olhando calados a imensidão da planície.Mas o  Alentejo vai-me ficando mais longe,quando se foi o meu querido amigo  Ti  Joaquim,corpo franzino,arqueado e moído de servidões de uma vida, falar doce  de corruptelas linguísticas, sempre espantado com a originalidade das encomendas do Eduardo,ou quando também se foi o meu vizinho Elias, o poeta de lengalengas demoradas,de caçadas sentado à espera da presa,que as pernas o atraiçoaram,de pescarias em barragens, na sombra de sobreiros e azinheiras, na companhia do  amigo Zé,ou ainda quando  partiu  o Raspa,também poeta,este de obra publicada,barbeiro,agricultor,homem de mil trabalhos,fala fácil de histórias de Lisboa,mas regresso à terra para ser velho.O Alentejo da minh'alma ainda me ficou mais longe,ao saber que ao "o meu fiel jardineiro"lhe falhou o coração,que tem dificuldade em falar e reconhecer,e que eu se calhar não volto a que me chamem"patrão",que o Ti Domingos,o "Farela como também o conheciam,já não me tira mais do sério,ao podar as laranjeiras à maneira das azinheiras e das oliveiras,antes o continuasse a fazer,laranjeira eu fosse.

jotacmarques 

sexta-feira, 16 de março de 2012

Política da irreverência,precisa-se

Abbie Hoffman é um nome que não deve dizer nada à maioria das pessoas, recentemente  passou nos canais tvcine da zon,  um filme chamado"A geração hippie",que trata de maneira  rápida mas esclarecedora da biografia deste americano, que viveu de 1936 a 1989 e foi um dos mais destacados fundadores do Youth International Party ("Yippies").Abbie foi um personagem muito polémico,que recorreu ao LSD e outras drogas,como método de afirmação e potencialização das suas ideias e  acções,foi preso inúmeras vezes,condenado em tribunal,foragido,foi ferozmente perseguido pelo FBI,que o considerava  uma grave ameaça à segurança nacional,em 1980 foi-lhe diagnosticada uma patologia bipolar,morreu em circunstancias misteriosas, sendo provável  o  suicídio, com a ingestão de bebidas alcoólicas e de mais de cem comprimidos.Foi um revolucionário que lutou pelos direitos humanos das minorias e das mulheres,defendeu uma redistribuição mais equilibrada do rendimento,protestou contra a CIA e as ilegalidades por esta cometidas,advogou uma maior limitação e controle dos poderes policiais e institucionais,mas foi a luta contra a guerra no Vietname que o tornou mais visível e conhecido.Abbie Hoffman foi um personagem absolutamente incontornável do movimento contestatário norte americano e mundial,com especial importância nas décadas de 60 e 70 do século passado,digno do respeito e admiração daqueles que consideram que o mundo não é uma quinta dos poderosos, que têm nos governos, os servidores institucionais para o gerirem em seu benefício.Abbie assumiu-se como um agente da contracultura,um transgressor do  "establishment",introduziu na sociedade americana dúvidas sobre as verdades oficiais e os preconceitos,angariando centenas de milhares de pessoas para as suas causas,servindo-se frequentemente para as publicitar,de dramatizações surrealistas e desconcertantes,que interessaram os mais jovens.Interrogo-me se a sua infeliz doença bipolar,não contribuiu para esta capacidade de utilização do surreal na política,para uma atitude de relativização das consequências,quer dizer,do que de mau lhe poderia acontecer a nível pessoal.Esta liberdade de pensamento e de acção,o saudável desrespeito pelas convenções ,o desafio permanente à autoridade institucional,mostram que Hoffman tinha uma concepção dinâmica,inovadora e criativa de fazer política.Diria que, o que o  interessou foi mudar a realidade social através da "política das causas",independente tanto quanto possível dos partidos institucionais,e resultou,o fim da guerra no Vietname,imposto à administração Nixon,provam-no.
Quando penso na actualidade,parece-me  que,passados 40 anos, muitos dos  problemas de então permanecem na mesma ou piores,e que as gerações mais novas estão condenadas a um mundo medíocre e injusto,ficando-se por uma resignação paralisante,mas por outro lado,ao recordar Hoffman,anima-me a esperança  de que actualmente também haverá  gente capaz de liderar causas justas,de reinventar a política,de chegar aos outros estabelecendo objectivos e definindo estratégias modernas e inovadoras,eles vão aparecendo,é preciso é sair da letargia e apoiá-los.

jotacmarques
 

domingo, 11 de março de 2012

O Big Brother internético

Diáriamente quando abro o "facebook",ao ler as mensagens publicadas,ocorre-me sempre o mesmo pensamento,o da  inutilidade de 90% do que lá se publica.Desde as fotografias dos filhos,dos amigos ,dos avós,dos bichos lá de casa,das casas,dos próprios,aos links para músicas,para  o ""youtube,para tudo e mais alguma coisa,insisto que a grande maioria das publicações são completamente inúteis e sem interesse para serem publicitadas.As mais recorrentes são as "bocas",de uma inutilidade e basismo chocantes,tretas sobre tudo e nada,a encherem "walls" inteiros,um abuso e  um atentado, para quem tem que desvendar naquele labirinto de vulgaridades,qualquer coisa interessante. Há quem se ache uma estrela,e publique em massa fotografias de si, tipo modelo,numa quebra de intimidade enorme,outros e quantas vezes os mesmos,resolvem expor os problemas afectivos,com os namorados,com os amigos,com a família, um verdadeiro  massacre à paciência de quem lê,também  há o das "bocas" políticas,surgem autenticas pérolas da escrita e do pensamento,mais próprias de arruaceiros do que quem pretende ser  politicamente interveniente,os originais também abundam,são os que se acham diferentes de toda a gente,que nutrem um odioso desprezo pelo normal,são os alternativos das curas naturais,das seitas religiosas,das alimentações espartanas.As pressões americanas para vigiar e controlar o "facebook" e demais espaços de opinião na internet,é um ataque  criminoso à liberdade de expressão,uma afronta aos direitos humanos,mas interrogo-me se nós não estaremos a atear as fogueiras da moderna inquisição, com o uso indevido daqueles espaços.É que, com a publicação desenfreada,a exposição publica de não importa o quê e como,damos ideias peregrinas a quem governa os estados,o poder institucional sempre esteve e está  na disposição de controlar o pensamento das sociedades e dos cidadãos,só precisa de justificações,a mais recorrente foi e é a do uso abusivo da palavra escrita e oral.
O que quero dizer a quem me lê,é que sou da opinião de que quando não há que dizer,é melhor estar calado,e que se falarmos, devemos pensar o que  dizemos e como o dizemos.
O "facebook" é um espaço internético pouco atractivo,concebido inicialmente para outros fins,que foram avassaladoramente  ultrapassados,que em minha opinião,os detentores do site não têm sido capazes de o reformular convenientemente,no design,no layout,nas inúmeras e confusas opções,na desordem funcional ,e sobretudo, na instauração de padrões éticos e morais de conduta dos utilizadores,no entanto,e com todas as suas imperfeições, é o mais poderoso meio de comunicação a nível mundial dos tempos modernos,um mecanismo ao alcance de todos,sem igual em termos de partilha democrática.
As redes sociais da internet,com o facebook em 1º lugar,têm  desempenhado um papel decisivo na divulgação e na convocação das mais variadas causas políticas e sociais,ceio mesmo que,no  presente e no futuro,são os mais poderosos e eficientes meios de interacção entre as pessoas,daí os ataques e tentativas de controle,são e devem continuar a ser janelas de comunicação pessoal e social,dos mais variados interesses,onde óbviamente cabem os "diários" individuais,escritos e fotográficos,mas é preciso bom senso e contenção nos conteúdos,na reserva da intimidade,até porque não há pachorra para aturar a Jaquina que se zangou com o Manel, num bar do Bairro Alto  6ª feira passada.

jotacmarques

quinta-feira, 8 de março de 2012

Jesus no país das maravilhas

Há uma cantiga de José Feliciano com o seguinte refrão:"Come down Jesus and see what we've done,come down Jesus,come down and I'll pray,you won't believe on the things you'll see today .....".Mais coisa menos coisa é assim..Imagine-se por um momento, que Jesus tinha ouvido a canção e escolhera Portugal,para ver ao vivo o que cá se passava. Aterrava na Portela,tinha o Cardeal  Patriarca ,o  Cavaco e o Passos Coelho, à espera na passadeira vermelha,o Portas também ,já me esquecia...também não há quem o veja,recebia as inefáveis e absolutamente inúteis honras militares,alinhava meia dúzia de balelas para os orgãos de comunicação social na sala VIP,partia num carrão dos caros,mercedes,bmw,audi,daqueles que há aos magotes para transporte dos figurões do Estado e que nós pagamos com língua de palmo,e cansado,Jesus repousaria a seguir, umas horas, num hotel de luxo.Voltava a partir no tal carrão,para cumprimentar o Cavaco em Belém,coisa completamente desnecessária,já que tinham sido apresentados horas atrás,em seguida uma pequena reunião de trabalho,à noite,jantarada à grande e à francesa no Palácio da Ajuda,com carradas de entidades públicas e privadas,todos muito,mesmo muito importantes,e nós a pagar .O repasto foi longo e cansativo,muitos brindes,muitos cumprimentos,exausto Jesus recolhe-se ao hotel.Na manhã seguinte há a romagem ao túmulo de Camões nos Jerónimos,um ajudante de campo traz uma coroa de flores,Jesus compõe as fitas,está feita a homenagem ao povo português,saída por entre filas de curiosos que pedem a benção,muitas meninas das organizações católicas em catatonia histérica com a presença do filho de Deus,escuteiros solícitos,velhas em êxtase,milhões de padres e freiras em azáfama, e claro está,toda esta fauna posta à distância pelos guarda costas,gorilas encafuados em fatos escuros de alpaca,óculos escuros,coisas metidas nos ouvidos para comunicarem e atitude ameaçadora.Jesus avança a fazer cruzes no ar,a distribuir sorrisos e festas às crianças e deficientes que estão mais à frente,há cânticos,rezas,avés-maria e pai nossos,gritos,súplicas,e há mesmo quem desmaie,se sinta mal ,o sol aperta implacável,o INEM e os bombeiros não têm mãos a medir.Parte o caravana em velocidade furiosa,evoluindo em ruas desertas de trânsito cortado,os motociclistas da GNR vão de sirenes acústicas e luminosas,os dos serviços de segurança vão antes e depois do carro de Jesus,aos seis e sete em sardinha enlatada,outra vez para Belém,para o palácio presidencial.O almoço é em Queluz ,servido pelo restaurante Cozinha Velha,após as comezainas,Cavaco recebe um fragmento de madeira de oliveira,do Monte das Oliveiras  em Jerusálem,oferece a Jesus uma caravela em filigrana de prata feita em Gondomar e um tête-à-tête em porcelana de Vista Alegre,o que é português é bom,é preciso aumentar as exportações para o Céu.Após um pequeno descanso,à tarde há a visita a uma fábrica de enchidos em Mafra,ultramoderna,toda super equipada com tecnologias de ponta,financiadas pelos fundos europeus,tipo mete-se o porco por um lado e no outro saem os enchidos,mas também há uma reunião com o sector empresarial e financeiro,a visita ao colégio Amor de Deus em Cascais,um encontro com a Opus Dei,tudo antes de mais uma jantarada no palácio episcopal.Quando finalmente se deita,Jesus está de rastos,adormece profundamente,hoje nem foi preciso tomar um indutor do sono,tal era a canseira.Novo dia,e mais um desfilar de obrigações idênticas ao do dia anterior.Finalmente a partida num Boeing 747 da Companhia Aérea Celestial,em vias de se fundir com a Lufthansa ,com a almejada chegada ao Céu para daí a 36 horas.Já na sua terra,Jesus volta ao papel de governante  teocrata,e no dia seguinte ainda a recuperar do jet lag,depois de assinar vários decretos e ordens de expulsão para o Inferno e para o Purgatório dos dissidentes mais activos,dedica um momento de reflexão à viagem a Portugal.Concluí que tudo vai bem,no caminho certo,não viu miséria,desempregados,filas para a distribuição de bens alimentares e roupas,violência,não vislumbrou um traço de tristeza no rosto daqueles com quem contactou,enfim, um mar de rosas,patenteado e afirmado repetidas vezes por Cavaco,Passos Coelho e acólitos,que certamente não iam mentir,já o cardeal, veio com umas conversas meio esquisitas e certamente exageradas,portanto foi com gosto e reconfortado que conclui que Portugal era um país em progresso,no carril certo,em que foram tomadas medidas certas para um futuro próspero e sustentado.
José Feliciano andava a delirar,inventava coisas,não era por acaso que era cego,provavelmente  um castigo do Pai por ser um pecador mentiroso!

jotacmarques

quarta-feira, 7 de março de 2012

Viagem ao país de Ruy Belo

Aconteceu-me,na passada semana,ir duas vezes à zona de Rio Maior.Uma à aldeia natal do poeta Ruy Belo,onde se comemorava o dia do seu aniversário,e a  segunda à festa das tasquinhas em Rio Maior.Não sou dado a efemérides e sempre mantive uma antipatia visceral por Rio Maior, a partir do dia em que inventaram a célebre moca.Lá fui no entanto à aldeia de S.João da Ribeira,acompanhar a minha querida amiga Teresa,viúva do poeta,assistir à inauguração de um painel de azulejos com poesia do Ruy.Houve romagem ao cemitério local,à campa do poeta,e em alturas solenes foram ditos poemas,e muito bem ditos, registe-se.Havia meninos da escola,autoridades autárquicas,e povo,muita gente presente.Os habitantes locais são de uma simpatia contagiante,de relação muito fácil,e por isso,estabeleci rápidamente empatia com aquela gente.Trata-se na sua maioria de gente simples,pouco intelectualizada,felizmente quero acrescentar,mas com um conhecimento da obra poética de Ruy Belo,que me deixou impressionado.As pessoas dinamizadas pelo seu presidente da junta de freguesia,trouxeram a poesia para sua vida,têm Ruy Belo nas paredes e nas cabeças,e também nos corações,fundo nos corações.Aqui as coisas bateram certo,a obra do poeta anima a vida do seu povo,e o povo evoca o seu poeta descobrindo a sua obra.Alguns dias depois,voltei à região,desta vez a Rio Maior à festa das tasquinhas.A poucos quilómetros da cidade estão as salinas,um lugar mágico, de uma nostalgia tocante,com os seus armazéns de sal em madeira,construções simples que se alinham em ruas e ruelas onde  imagino contos fantásticos da minha infância.Na biblioteca pública em Rio Maior,fui ver um painel mural encomendado pela autarquia a um "grafitter" conceituado.A obra consiste na escrita a preto sobre branco,com letras enormes,de um verso de um poema de Ruy Belo,e tem sido objecto de grande polémica entre os habitantes da cidade.Apesar de ter gostado,confesso que não seria a minha primeira escolha,no entanto agrada-me a provocação.Conseguiu-se aqui um dos objectivos fundamentais da criação artística,a polémica instalou-se,houve quem ficasse desassossegado e outros nem tanto,através da arte instigou-se o debate,abalou-se o "status quo" do conformismo e do politicamente correcto.
Com estas duas pequenas e simples idas ao concelho de Rio Maior,em primeiro lugar,pulverizou-se o meu preconceito de antipatia de muitos anos,depois,reforcei a minha antiga convicção,de que foi e é o poder autárquico que fez e faz este país, finalmente,colhi exemplos muito válidos de que é possível que o povo simples se interesse pela cultura passada e contemporânea,assim os seus representantes sejam capazes de promover e executar bem, iniciativas que vão ao encontro dos interesses das pessoas.

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