domingo, 30 de dezembro de 2012

O "Eixo do mal" na praça Tahrir

Há para aí um programa televisivo chamado "Eixo do mal", que passa na Sic Notícias aos sábados a dar para o tarde, onde quatro comentadores debitam regra geral baboseiras que pretendem abordar a política numa lógica de humor. O resultado é mais ou menos desastroso, mas ontem, Clara Ferreira Alves, de longe a mais esperta e assertiva do bando, falou a sério e produziu uma ideia muito interessante a propósito do derrube dos governos impopulares. Disse ela que, na Grécia e em Portugal as manifestações de rua parecem não produzir grandes resultados, já que no primeiro está tudo na mesma e cá não é melhor,  como  se a "normalização" do que é excepcional lhe banalizasse e enfraquecesse o conteúdo. Na opinião da Clara, o que se tem passado  no Egipto na praça Tahrir, onde multidões enormes de populares ocupam dias e dias a praça em protesto contra os governos, até que Mubarak se demitisse, ou, mais actualmente, contra  o presidente Morsi e a lei que lhe confere poderes ditatoriais, tem sido a fórmula de manifestar o descontentamento dos cidadãos que produziu os  resultados mais notáveis relativamente aos objectivos pretendidos.

Ferreira Alves considera que os países Europeus se deviam debruçar com mais atenção sobre estas experiências de cidadania dos povos islâmicos  e aprender com elas. O ocidente que insiste em exportar os seus modelos para todo o Mundo, a maioria das vezes forçadamente e sem resultados animadores, talvez tenha que aprender com as práticas actuais  dos anteriores colonizados, infere-se da posição de Clara F. Alves.

A ideia é interessante e muito pertinente, mas há que contextualizar. De facto, o que se tem passado no Cairo tem contado com a complacência da polícia e do exército, que fazem vista grossa às concentrações populares, ou pelo menos não se abatem ferozmente sobre as pessoas. Em Portugal , na Grécia e em Espanha as coisas não se passam assim, as cadeias de comando político-militares funcionam e ainda não se degradaram como no Egipto. Provávelmente virá a acontecer a implosão das cadeias de comando a curto ou médio prazo, se a situação se degradar muito, as exigências da repressão se acentuarem, e se tornem intoleráveis para a polícia, cujos efectivos também sofrem na pele os efeitos da crise tal qual os demais cidadãos.

Então sim, transformar as praças europeias à semelhança de Tahrir, ou prosseguir o que aconteceu em Madrid nas Portas do Sol, sem que a polícia de choque espanque gente indefesa, é muito possível e desejável.

Até lá continuemos a afirmar a nossa revolta em manifestações de rua, em grandes protesto como o de 15 de Setembro, sem partidos a creditarem e a manipularem o descontentamento.


jotacmarques



     

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

O discurso do nada

Vi e ouvi a recente entrevista feita ao 1ºministro, uma soma de repetições, de frases velhas e estafadas, de teimosias de ignorante, que ignoram  o sentido criativo de governar. Da última vez para esta, não se acrescentou um parágrafo, uma frase , um simples ponto ou virgula ao discurso. O vazio tomou conta de Passos Coelho, que persiste na caminhada fatal, para ele e trágicamente  para nós. É como se  um  tremendo cataclismo se tenha abatido sobre nós e que no final  nada reste.

No mesmo ou noutro dia, o ministro da segurança social esforçava-se afincadamente em justificar a necessidade de reformar o sector. Fechei os olhos, dispus-me a ouvir atentamente, na esperança de identificar uma ideia, uma simples ideia criativa, que contribuísse para o ajustamento  que também eu acho  necessário fazer, o resultado foi desolador. Foi mais uma vez o nada.

Ministros, secretários de estado, deputados, políticos em geral, falam, refalam, trifalam, falarão até ao insuportável, mas produzem mais do mesmo, os da situação e os que se lhes opõem,  nada de novo.

O país paralisou, cristalizou nas posições do governo e da oposição, e a capacidade de  inovar e de criar  teorias, políticas, sociais e económicas para ultrapassar a crise é anémica.

Greves, manifestações, outras milhentas formas de protesto, são absolutamente necessárias, mas só por si não bastam.O aparecimento de novas fórmulas alternativas e viáveis a curto prazo, que se oponham às teorias do governo, é imprescíndivel, já e em força.

De outro modo, a continuar-se na astenia paralisante do discurso do nada do governo versus oposição, tipo os cães ladram mas a caravana passa, vamos morrer a breve trecho, como nação e como país.

jotacmarques 

 

sábado, 17 de novembro de 2012

A carga policial do dia 14 de Novembro

A carga policial sobre os manifestantes em S Bento no passado dia 14 vai alimentar durante dias jornais e televisões. Opiniões sobre a justeza ou não da carga policial,  relatos apaixonados de testemunhas oculares, consequências dos acontecimentos, farão a felicidade do exército de comentadores e de opinion makers deste país de paixões.

No entanto, nada de inédito se passou, e certamente que  situações idênticas se passarão no futuro próximo se não se aprender nada, polícia e manifestantes, com os presentes acontecimentos.

Durante cerca de duas horas a polícia foi invectivada e vítima de pedradas e de outros objectos de arremesso,  sem que tenha havido a detenção dos autores da proeza. Os arremessadores constituíam um grupo de poucas dezenas de pessoas, sitiados nas linhas da frente da multidão presente, cerca de 5 mil pessoas, e portanto fácilmente identificáveis  e passíveis de serem detidos antes que as coisas inchassem.

Estes indivíduos achavam-se quase todos mascarados e alguns ostentavam símbolos anárquicos. A polícia tinha agentes à paisana infiltrados na multidão. Dir-se-ia surrealista a situação, em que uns cometeram ilegalidades durante horas, nas barbas de outros que pura e simplesmente deixaram que acontecesse.

A carga policial acabou por desabar, e como em tantas outras vezes foi indiscriminada, quem estivesse  à mão levou pela medida grande, velhos ou novos, mulheres ou homens. Depois foi a debandada e as perseguições  habituais, e neste caso, património danificado e focos incendiários.

Do grupo dos problemas, trata-se de arruaceiros, que não fazem a mais leve ideia do que é o anarquismo e que pensam certamente que Bakunine é um dos jogadores do Celtic de Moscovo. É gente que gosta da violência pela violência , hooligans que parasitam o justo descontentamento dos povos que estão a ser vítimas das iniquidades das politicas da austeridade. Claro está que, não é de excluir um ou outro manifestante convicto e  por regra pacífico, que no auge da confusão se exalte e descontrole e que também atire a sua pedra ou parta o mobiliário urbano. 

Do lado da polícia o comportamento é o da falta de discernimento racional sobre quem deve de abater a repressão, o que de resto vem fazendo a regra. Cordões policiais e infiltrados têm que, devem de, deter imediatamente os aprendizes de feiticeiros violentos evitando a escalada dos acontecimentos. Estão lá não para bater indiscriminadamente, mas para evitar que ser chegue a esse ponto, isolando os arruaceiros.

Os manifestantes, vítimas maiores de tudo isto, devem de considerar afastar-se dos arruaceiros e da polícia sempre que as coisas comecem a dar para o torto, ou correm o risco de serem espancados sem terem culpa de nada.

No que diz respeito à hierarquia policial e governativa, o mínimo que se pode dizer é que falharam redundamente. Não é honesto que se venha louvar a actuação policial, que se pautou por falta de prevenção, e por falta de capacidade interventiva durante duas horas sem deter os energúmenos das pedradas. Não há justificação que valha a este comportamento, que acabou por resultar no habitual, carga indiscriminada sobre os manifestantes, devido ao mau desempenho das chefias da cadeia de comando.

No futuro próximo as manifestações e outras acções de protesto vão intensificar-se na proporção das iniquidades da austeridade, a agressividade será crescente, e é de prever o aumento de  actos de descontrolo. 

Ao habitual e bacoco apelo à responsabilidade, em que por via de regra ninguém assume coisa nenhuma, é urgente que se apele à inteligência. Refiro-me à capacidade intelectual de interagir o raciocínio com a realidade tangível e de adoptar as acções mais harmoniosas e correctas, falo da inteligência emocional óbviamente.

jotacmarques









terça-feira, 13 de novembro de 2012

Merkel em Portugal

Afinal a contestação à Chanceler alemã foi pífia, apenas escassas dezenas de manifestantes orlaram Belém e S. Julião da Barra. Da visita, espremida, nada. Nada das esmolas ansiosa e servilmente esperadas por alguns - novos investimentos, revisões às posições defendidas por Merkel-, apenas declarações frouxas e pouco convicentes de apoio às politicas do governo de Passos Coelho.

Merkel, rápida e decidida, às vezes desinteressada, Passos Coelho, servil e abatido, fiel à sua inspiradora, de uma subserviência pastosa e de mesuras superlativas disse o que a chanceler queria ouvir, pôs-se em bicos de pés quanto à qualidade de dilecto bom aluno, e foi absolutamente mudo quanto à defesa dos interesses do povo que o elegeu. 

Merkel também esteve com Cavaco, mas não faço a mais pequena ideia sobre o tema da conversa e duvido que o venha a saber, tendo em consideração o que tem vindo de Belém, isto é, um  ensurdecedor silêncio sepulcral.

Antes de viajar para Berlim, a chanceler alemã ainda foi fazer uma perninha  ao congresso luso-alemão no CCB. Fiquei deveras entusiasmado com a promessa de Merkel vir passar férias a Portugal quando deixar de ser chanceler.

De forma que, como dizia o outro, nada de novo na frente oriental!

Uma última nota para o empenhado aparelho de segurança durante a visita. Foi um momento alto, altíssimo, das nossas forças de segurança. A concepção do plano, sem dúvida da autoria de grandes competências, de pessoas muito conhecedoras e espertas, centrou-se no principio de um polícia para cada manifestante, e na supressão da circulação de tudo o que mexia, o que neutralizou em absoluto qualquer tentativa criminosa contra as comitivas dos dois países. Nalguns casos por deficit de manifestantes, era dia de trabalho normal, havia mais polícias do que meliantes, certamente mais um record do Guiness, tão ao agrado dos nacionais. Não esquecer também, as ruas cortadas ao transito já na véspera, e o encerramento do espaço aéreo durante a aterragem e a descolagem do avião da chanceler, não fosse algum caça inimigo ou quiçà, uma avioneta kamikaze  aparecer no horizonte.

E lá vamos andando com a cabeça entre as orelhas, como diria o Sérgio!

 
 jotacmarques
  

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Grécia massacrada

A Grécia volta à ribalta da informação com as grandes manifestações e a greve geral. Mais um pacote de austeridade ameaça este povo tão massacrado.

Em rigor, a Grécia nunca saiu das bocas do mundo. A situação na Grécia é sistemáticamente  invocada como  mau exemplo, aponta-se à Grécia o anátema do não cumprimento das medidas indispensáveis á recuperação orçamental e da divida externa. Critica-se-lhe as acções violentas durante as manifestações, alude-se à preguiça endémica do país e ao desregramento financeiro dos gregos, que andaram a gastar acima das suas possibilidades.

O  nível de vida deste povo tem baixado significativamente,com o PIB a perder pontos e  o desemprego altíssimo e crescente. A Grécia,  foi o primeiro país da UE a ser intervencionado, o primeiro onde a troika começou a ensaiar a miraculosa receita da austeridade. Portugal foi o terceiro e tem sido "um bom aluno", dizem. Os resultados da política de austeridade em ambos os países são semelhantes, quer dizer, à descida generalizada dos indicadores económicos  corresponde um recuo civilizacional grave. As regras da lógica só podem concluir que, se a um modelo igual, aplicado um bem e outro mal, corresponde resultados igualmente maus, então a origem do mal está no modelo.

Sobre a Grécia, diz-se que  não se quer ser igual, nos países em apertos é vulgar a expressão - " nós não somos iguais à  Grécia " ou " não queremos ser uma nova Grécia "- indicativa de que a Grécia é um péssimo exemplo, que a todo o custo é preciso evitar. Também se ameaça despudoradamente os gregos de serem expulsos da UE, caso não cumpram as medidas impostas pelos credores. No entanto, o país  está esmagado pela austeridade ditada pelos credores e o modelo de "recuperação " é o imposto pelos credores. A sociedade grega está em destruturação acelerada, devido ao cumprimento das medidas exigidas pelos credores, a saber, o FMI , a UE e o BCE. O ciclo vicioso criado por mais dinheiro de empréstimos e mais dinheiro de juros, a pagar em prazos impossíveis, com metas orçamentais e de redução da dívida impraticáveis, é   assassino de qualquer réstea de esperança no crescimento económico.

Na prática, são os bancos  europeus mais ricos os verdadeiros financiadores dos déficits gregos, que compraram dívida soberana grega nos mercados financeiros internacionais, antes  e depois do regaste,  contribuindo para o financiamento  da Troika,  que por sua vez garante o financiamento à Grécia durante o período de intervenção.

É claro que estes países não viram obstáculos em emprestar somas astronómicas à Grécia en quanto lhe vendiam o que exportavam,  criando com frequência falsas necessidades e induzindo a população a endividamentos  e a níveis de  consumos fora das suas possibilidades reais. Falamos da Alemanha, da Holanda e da França, entre outros, e por exemplo, dos submarinos vendidos por empresas alemãs, cujo valor foi colossal e a necessidade/aplicação muito duvidosa. No entanto convinha saber quem realmente arrastou a Grécia para a situação actual. Naturalmente há que considerar o excessivo consumo e o endividamento das famílias, mas o mais gravoso foi sem dúvida a gestão ruinosa do Estado. O Estado grego foi sucessivamente governado por um leque de  partidos corroídos pela corrupção e defensores de  poderosos interesses corporativos e financeiros. A estrutura do Estado, burocrática e pesada, mostrou-se  ineficaz na cobrança de impostos e na implementação de reformas estruturais, e a burocracia  favoreceu a  enorme corrupção. A instabilidade governativa, provocada pela falta de consenso entre os partidos políticos, manifestou-se em eleições sucessivas, que resultaram em governos de coligação fracos e pouco credíveis, sem base de apoio popular consistente. Pacotes sucessivos de austeridade, greves parciais e gerais em catadupa , desordem nas ruas,  falta de solidariedade da UE,  e a enorme falta de capacidade dos governos em gerir a crise, arrastaram o país para uma situação catastrófica. De passagem, há que referir  a colossal e permanente migração de dinheiro grego para bancos estrangeiros, na ordem  dos biliões de euros,  que se sitiaram em bancos alemães e foram excluídos do financiamento à economia da Grécia.

Neste contexto, a compreensão e a ajuda de Bruxelas impunha-se, mas contrariamente, o desmerecimento, a crítica e a ameaça permanentes, estão na ordem do dia das instituições europeias. Os países intervencionados desdobram-se em declarações para se destacarem da Grécia, como se o país tivesse peste e pertencesse a um outro universo, que não a União Europeia.

A atitude da UE em relação à Grécia é prenúncio da desagregação da Europa comunitária, não se podendo falar de união quando um dos membros do clube é permanentemente alvo de  discriminação. Os países do norte da Europa , com a Alemanha no comando, constituíram-se num grupo à parte, pretendendo que os países do sul cumpram estritamente as suas exigências, que passam por metas e metodologias incomportáveis do ponto de vista social e do crescimento económico.

As declarações críticas e isolacionistas para com a Grécia são uma enorme imoralidade e quebra de solidariedade para com um parceiro da mesma união política e financeira. Devem  acabar já e radicalmente! O Governo português deve fazê-lo sem hesitações, até porque em breve vamos ser identificado com a Grécia e alvo dos mesmos desmandos, não porque este país nos tenha contagiado  uma doença, mas sim porque  estamos a ser vitimas da mesma receita ruinosa, que acabará por nos arrastar para a mesma situação.

jotacmarques



quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Precisões de linguagem

 Governo, opinion makers, deputados, etc, todos os dias nos massacram com declarações de que é preciso cortar nas despesas do Estado para que os impostos não subam a níveis absurdos. O que à  primeira vista parece estar certo, surge duvidoso quando nos interrogamos sobre o tipo de despesa a cortar. 

O que geralmente acontece é que as despesas consideradas pelo Governo, não são de modo nenhum as que o cidadão comum quer ver diminuídas. O Governo avança com cortes na saúde, na educação, nas prestações sociais, o cidadão gostava de ver cortes na frota automóvel de luxo, nas ajudas de custo dos altos funcionários, nos almoços e jantares pagos pelo erário público, nas reformas escandalosas dos administradores  das empresas públicas, etc. Também gostava o cidadão comum que, se denunciassem os contratos feitos pelo Estado com o mundo empresarial privado em que estes saíram manifestamente beneficiados,  as obras públicas não disparassem os custos  para valores duas ou três vezes superiores ao inicialmente previsto,   as mesmas obras considerassem nos projectos o principio da estrita necessidade,  não fossem decididas para satisfação de clientelas político-partidárias, não fossem para os intervenientes do processo embolsarem ilegal e criminalmente dinheiro dos contribuintes, não tomassem dimensões megalómanas, enfim, tivessem em conta o cuidado criterioso que deve presidir à gestão do dinheiro público.

No entanto não foi nem é o que se passa, como todos sabemos, o que acontece é exactamente o contrário. Fizeram-se rotundas aos milhares, inúteis muitos milhares, estádios de futebol que não foram nem são utilizados, procedeu-se à  recuperação e construção do parque escolar à rica, com escolas próprias dos países mais ricos do planeta,  à construção de equipamentos desportivos e culturais de luxo  feitos pela autarquias e que só são utilizados uma mão cheia de vezes por ano quando o são, construíram-se  autoestradas do "lá vai um" para satisfazer caciques, gastou-se à bruta na Expo98 para agora se ter privatizado o Pavilhão Atlântico e não se saber há anos o que fazer com o Pavilhão de Portugal, etc, etc.

É a isto que o povo quer ver o fim, que se ponha um ponto final, não é aos cortes na educação e na saúde, não é que se reduza na cultura a ponto da vida vegetativa, o que o povo quer é correr de vez com as práticas e os protagonistas que enterraram o país, não é de modo nenhum a minimização de sectores públicos estruturante e nucleares ao presente e ao futuro de Portugal.

Evidentemente que, quando se reduz brutalmente nos direitos constitucionais e se faz pagar serviços anteriormente grátis ou se agravam taxas, na prática corresponde a mais impostos ou a cortes salariais, ou ainda  ao que se pretendia com a famosa novela  da TSU .

Ás  palavras correspondem conceitos que devem ser inequívocos, neste caso, quando se fala de despesa é conveniente precisar do que é que falamos, porque óbviamente que não estamos a falar da mesma coisa .

Será mais um erro de comunicação, ou será que nos querem atirar areia para os olhos???

jotacmarques

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Discurso sobre a cegueira

Que o governo é estúpido já  sabia, mas que também é cego, descobri com a questão do orçamento para 2013. Também sabia que a maior parte dos membros do governo, assessores e demais, são ignorantes, gente que só   conhece o povo e o país do que aprenderam nos meandros das jotas  e na teoria das faculdades, algumas, diga-se de passagem, de qualidade bem duvidosa. Trabalho no duro, népia, planearam carreiras partidárias, moveram-se no tráfico de influências e parasitaram as estruturas partidárias que eram trampolim para o poder. Entre eles, selaram pactos de cumplicidade, partilharam segredos e negócios, num vai e vem de créditos e débitos para as suas vidas, ou então até ao oportunismo de novas e mais compensadoras alianças. Passos Coelho e Relvas parecem siameses, apesar  da imbecilidade militante  e do  cadastro duvidoso do segundo, que se revela sériamente prejudicial para o primeiro.

O governo é duplamente cego, porque toma medidas cegas que não olham a nada e a ninguém, excepto o capital financeiro e a riqueza,  porque é incapaz de prever o que provoca com estas  acções. A classe média, a mais gravemente atingida,  está em vias de extinção. Muito em breve teremos um país de muito pobres, pobres e ricos.  Teremos um país explosivo!

Sendo sabido que, nas democracias representativas, a classe média constitui a espinha dorsal da sociedade, e que históricamente, sempre que esta classe se desagrega, aparecem soluções autoritárias ou caóticas, só se percebe a atitude do governo tendo em conta a incapacidade política de entender os contextos históricos e as suas dinâmicas. Se por um lado  é patente a incapacidade cultural para contextualizar , por outro apresentam uma fé cega num modelo que invariávelmente se engana  nas previsões económicas e financeiras, sem que assumam a mais leve responsabilidade pelos erros ou ponham em causa o modelo.

O que parece mais grave, neste caos  destrutivo do Estado social , é no entanto a absoluta inconsciência do que vão causar, nomeadamente o crescendo dos extremismos de direita e de esquerda, por via da destruição da classe média. Evidentemente que a implementação do modelo ultraliberal é o objectivo ideológico deste governo, mas a  cegueira política relativamente ao que vem associado, além de perversa é perigosa.

Em suma, cega, estúpida, inculta e incompetente, a acção deste governo está a pôr o país na miséria e está a criar as condições favoráveis ao aparecimento de messias salvadores de que já sabemos amargamente o resultado, ou de modelos que em nome do povo são supressores da liberdade. A resistência, nas suas mais variadas formas de expressão ,legalmente estabelecida pela  Constituição, é o caminho a seguir pelos cidadãos deste país, esperando que o governo caia ou se demita, antes que  que se descambe na violência generalizada e na desordem.

 jotacmarques

Ps: Saramago compreenderia certamente a apropriação do título para esta reflexão 

    


quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Agonia

Vítor Gaspar falou ao país! Brincou com os seus queridos modelos teóricos, viajou por percentagens e números, juntou muitos gráficos que nós não vimos em casa, falou de êxitos fantásticos que ninguém conhece, regozijou-se com a confiança que os mercados têm em Portugal, exultou com pagamentos adiados de que vamos pagar mais juros, e todo este aparato para dizer o que toda a gente já sabia, vamos pagar mais impostos. Desde que que o governo tomou posse tem sido sempre assim, os êxitos são de arromba, mas é preciso mais dinheiro, pagamos  mais sempre que um governante vem falar à população.

Sobre os rendimentos do trabalho, Vítor sabia bem o que fazer, reescalonamento do IRS, taxas extraordinárias mais altas, corte de subsídios, mas no respeitante ao capital, que sim, sim senhor, umas coisas, mas iam ver melhor, depois diziam mais quando se discutisse o orçamento. Incisivo para os trabalhadores, vago para o capital, o habitual.

O ministro das finanças parece que estava numa reunião de técnicos, esqueceu-se de que falava ao povo. O intrincado, a renda era tão de curvas e gráficos, a linguagem tão hermeticamente cifrada, o põe ali tira daqui foi tão complicado, que o povo deve  ter ficado na mesma, ou melhor, ficou pior, mas nem se deve ter apercebido bem. O curioso é que o povo não é burro, o que coloca a questão de quem é a culpa de pouco se ter percebido da comunicação. Seguramente que foi do ministro, que colocou no discurso tanta complicação, tantas variáveis técnicas, que das duas uma, ou não consegue adaptar a linguagem da mensagem ao receptor , um problema de comunicação, ou a complicação é propositada. Acredito  que seja a segunda, o governo precisa de criar diversões que afastem as pessoas da compreensão do verdadeiro problema.

O verdadeiro problema consiste num modelo de ajustamento financeiro e orçamental baseado na austeridade e na desvalorização do factor trabalho. Trata-se das teses neoliberais, assentes nas doutrinas ultra-reaccionárias da Escola de Chicago, cujo mentor Milton Friedman foi chamado pelo ditador Augusto Pinochet para aplicar o seu modelo económico ao Chile. O que levaram a cabo foi o desmantelamento da economia de inspiração socialista de Allende e da sua substituição pelo modelo liberal, que disponibilizou o país para os grandes grupos norte-americanos.

Entretanto, não se conhecem países que tivessem saído de crises por via do modelo de Friedman. Actualmente, os estados sociais europeus estão a ser campos experimentais para a teoria, e até agora o que temos é o que já se viu nos anos 70 no Chile, a destruição das estruturas sociais do Estado, as quedas brutais na actividade económica e nos recursos da população, as privatizações em massa de empresas estratégicas e a sua venda aos interesses económico-financeiros privados nacionais e internacionais.

O modelo neo-liberal é  completamente desprovido de sensibilidade social e intencionalmente promotor de taxas elevadas de desemprego, no pressuposto de que quanto maior a oferta da força de trabalho mais baixo  o seu valor , e vive de modelos de fé, concretamente, a crença inabalável nos mercados que tudo ajustam e regulam com justiça e benevolência. O corolário consiste em que o que é bom para os mercados é bom para as pessoas, sem tomar seriamente em consideração as enormes manipulações especuladoras a que os mercados são sujeitos a toda a hora.

Os portugueses e outros povos europeus estão debaixo do fogo dos agentes desta teoria, os resultados de ano e meio deste governo estão à vista,  se quisermos aliviar a pressão temos que nos ver livre de Passos Coelho & companhia.  A ilegitimidade do governo é patente, prometeu e não cumpriu, tem feito exactamente o contrário do que os seus  eleitores esperavam, é incompetente, as suas previsões são geralmente erradas e não alcança as metas a que se propõe, é irresponsável,  a culpa nunca lhe pertence, ele está certo e  o povo é que não se comporta conforme o esperado, vide o caso da TSU que é uma medida extraordinária, sublime, mas que os empresários ignorantes não compreendem o alcance, finalmente ,conta na sua composição com gente pouco recomendável, que todos sabemos quem são.

Com este cadastro não vejo razões para que continuem!

jotacmarques



  

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Evidências

Correm tempos conturbados, já todos sabemos, mas não estou certo de que a maioria da população portuguesa e europeia se dê conta da magnitude das más consequências que se desenham no curto e médio prazo, se não houver um alteração radical nas políticas de Bruxelas e dos estados mais poderosos da União Europeia.

A indignação despertada no países do Sul da Europa, originada pela brutal queda das condições de vida , rápidamente passará a revolta, se a Alemanha e aliados continuarem a pressionar os ajustamentos financeiros com base em draconianas medidas de austeridade e na desvalorização do trabalho. Na Grécia e em Espanha há casos evidentes de acções de revolta, com confrontos e destruição de património pertencente a entidades que simbolizam o poder financeiro que esteve na origem da actual crise.

O agravamento do sentimento de revolta, a  acontecer, como tudo parece indicar face à intransigência com a austeridade, prenuncia  acontecimentos cada vez mais duros por parte dos descontentes. Sem catastrofismo, é de esperar que as manifestações populares descambem em violência e confrontos, numa escalada pré-insurrecional .

Por outro lado, em  Espanha , mais concretamente na Catalunha, há sintomas muito fortes que põem em causa a unidade territorial e política do país vinda do  sec. XV. A acontecer o  "referendum" que o Governo Autónomo pretende fazer, e sendo muito possível que os catalães se pronunciem pela separação de Espanha, a questão alastrará imediatamente a outras autonomias. A Galiza seria a próxima,  já que do País Basco nem é preciso falar. O perigo  da Espanha acabar como país tal como actualmente conhecemos, é muito real e poderá estar na ordem do dia.

A Itália, país resultante de unificações sangrentas e formado no sec.XIX, é enquanto Estado Europeu uno, relativamente jovem, e as pulsões regionais , resultantes da História das antigas potências que actualmente compõem o país, somadas aos interesses actuais dessas regiões, também constituem terreno fértil para separatismos. É conhecida a tentação do Norte rico com sede em Milão para se destacar do resto do país bastante mais pobre.

Se quisermos ir mais longe,  também se poderia falar da Bélgica, dividida entre Valões e Flamengos, que se odeiam fraternalmente.

Estas questões do separatismo, algumas antigas e adormecidas, outras porventura mais efervescentes, estão a ser repescadas devido à situação caótica que tem origem na crise, mas muito fundamentalmente devido à receitas desastrosas do ajustamento financeiro e orçamental, que aprofundam as diferenças entre regiões ricas e pobres, e levam à quebra de solidariedade por parte das primeiras, na vã esperança de se salvarem do desastre.

A concretização de separatismos, com a proliferação de pequenos países cada um com interesses próprios, porventura inconciliáveis, levará no estado actual da Europa à desagregação da União, com um rol de consequências imprevisíveis, donde não se pode excluir a guerra.

Estas evidências, para quem se preocupa com o que se passa na actualidade, parecem não preocupar a maior parte dos governantes europeus, que continuam teimosos nos seus modelos económico-financeiros ruinosos e de consequências inquietantes.

O governo português assobia para o lado e quer fazer crer que as manifestações populares não o incomodam. Num exercício de autismo grave, continua a seguir submisso a chanceler alemã, que sem disparar um tiro vai conseguindo o que Hitler não conseguiu com  guerra, submeter a Europa.

Aos autistas procura-se o estabelecimento de relações com o real, ao governo autista idem, mas neste caso as técnicas psico-terapeuticas são outras, são as movimentações populares na rua, de protesto e  de indignação, até que não lhe seja mais suportável e se demita.

jotacmarques

  




domingo, 30 de setembro de 2012

Carta ao chefe do governo de Espanha


Não são precisas mais considerações. A leitura é quanto basta.




> 
> 
> Querido señor Presidente: es usted un hijo de puta. Usted y sus ministros
> 
> Por: José Luis Sampedro
> 
> Querido señor Presidente: es usted un hijo de puta. Usted y sus
> ministros. por José Luis Sanpedro 11.05.12
> 
> José Luis Sampedro Sáez (Barcelona, 1 de febrero de 1917) escritor,
> humanista y economista español que aboga por una economía «más humana,
> más solidaria, capaz de contribuir a desarrollar la dignidad de los
> pueblos».
> 
> En 2010 el Consejo de Ministros le otorgó la Orden de las Artes y las
> Letras de España por «su sobresaliente trayectoria literaria y por su
> pensamiento comprometido con los problemas de su tiempo».
> 
> En 2011 recibió el Premio Nacional de las Letras Españolas.
> -------------------------------------
> 
> 
> Querido señor Presidente: es usted un hijo de puta. Usted y sus ministros.
> Se lo digo así, de entrada, porque sé que nunca va a leerme, como
> nunca lee usted libros, ni nada más que periódicos deportivos como
> usted mismo ha confirmado, jactándose, como buen español de ser un
> ignorante.
> No se engañe, por eso lo han votado tanta gente.
> Perdonen los demás el exabrupto, pero es que está demostrado que somos
> lo que nuestros padres nos han educado, y si usted y sus ministros son
> como son, es porque sus madres muy bien no lo han hecho. A pesar de
> los colegios de pago, de pertenecer a la oligarquía de épocas
> dictatoriales, etc.
> 
> Verá usted, señor presidente. Lo que más me molesta no es que usted
> sea un bastardo malnacido, sino un ignorante, y sobre todo un
> mentiroso.
> Se presentó a unas elecciones diciendo que no haría cosas que ahora hace.
> Dijo hace tiempo que la posibilidad de una amnistía fiscal le parecía
> injusta y absurda, y no ha tardado ni tres meses en recurrir a esta
> medida de forma injusta y absurda, como señala el diputado de IU
> Alberto Garzón al que usted y sus secuaces ningunean como a cualquier
> otro que no sea seguidor suyo.
> Ésa es la democracia que ustedes entienden, ignorar a los
> representantes de la ciudadanía que no les afín.
> Usted dijo que la Sanidad y la Educación no se tocaban, y la han
> tocado pero bien.
> A la banca nada, y eso que los grandes expertos en economía señalan
> que, o le metemos mano a sus amigos de las finanzas, o nos vamos a
> pique.
> 
> Le voy a explicar unas cuantas cosas dado que usted es un ignorante
> que lee prensa deportiva en lugar de libros de historia, economía o
> política.
> Durante los años 20 hubo gente que tuvo la genial idea de crecer
> mucho, por encima de sus posibilidades como ahora tienen ustedes tan
> de moda decirnos. Tanto que incluso a Churchill, para salir de la
> situación de postguerra, se le ocurrió revalorizar la libra, lo que
> trajo bajada de sueldos y aumento de las horas de trabajo. No sólo no
> se creció por encima de lo esperado sino que destruyó la posibilidad
> de crear un modelo sostenible de crecimiento basado en el consumo, lo
> que permite terciarizar una economía y hacerla verdaderamente
> competitiva.
> Eso es ser un país desarrollado y no ganar mundiales de fútbol.
> Cuando llegó la crisis del 29 y la posterior recesión mundial en los
> 30, en un país tan poco sospechoso de socialista, comunista o lo que
> ustedes quieran, como EEUU, decidieron adoptar una cosa llamada New
> Deal, que consistió, entre otras cosas, en subir los sueldos y bajar
> las horas de trabajo.
> Como consecuencia, había más puestos de trabajo para cubrir esas horas
> de menos, y los que salían de su trabajo lo invertían en consumo, lo
> que reactivó la economía y permitió al país dar un definitivo empujón
> hacia arriba para salir victorioso de una Guerra Mundial que libró en
> tres continentes.
> 
> Por si usted no lo sabe, las medidas que está ejecutando han
> conseguido lo contrario.
> Hablo en pasado porque tal vez no lo sepa, pero no hay nada nuevo en
> los famosos "recortes".
> Argentina, Chile, Polonia, Rusia y así hasta un largo etc de países
> engrosan una horrible lista de fracasos de las políticas neoliberales
> de Milton Friedman y el Consenso de Washington que desde los 70 llevan
> intentando hacernos creer que sumergir a un país en el shock económico
> es una salida a la crisis.
> Jamás las medidas de la Escuela de Chicago han funcionado.
> Jamás un país ha salido de la crisis de esa forma.
> Jamás una sociedad se ha beneficiado de ello.
> Por el contrario, ha generado suicidios, deterioro del Estado del
> Bienestar (que ustedes insisten en decir que se ha terminado mientras
> vemos cómo crece y se desarrolla en otros países de nuestro entorno) y
> ha destruido el futuro de numerosas generaciones.
> 
> Usted miente, señor Presidente, y es sumamente peligroso. Porque el
> anterior era un inútil, pero usted es un pirómano en mitad de un
> incendio.
> El otro creía vivir en el País de las Maravillas y usted nos está
> sumiendo en el País de los Horrores.
> Toda política fiscal que no se base en la generación de riqueza, toda
> medida relativa al empresariado que no atienda prioritariamente a las
> empresas que cotizan más del 60% de sus ganancias en forma de sueldos
> e impuestos en España (y no Repsol, que solamente invierte un 20% y
> ahora la defienden como española; hay empresas extranjeras que
> reparten más beneficios al conjunto del país).
> Todo lo que no sea alumbrar un futuro basado en la investigación y no
> en el trabajo precario, es destruir el futuro del país.
> A usted y sus secuaces se les llena la boca diciendo que hay que
> fomentar el emprendedorismo y en lugar de ello desarrollan un plan
> basándose en los ideales especulativos de los dirigentes de la CEOE
> cuyo historial de empresas arruinadas por la especulación de la que
> ellos salen indemnes mientras el Estado se hace cargo de los parados
> que dejan es absolutamente bochornosa.
> Eliminan de todo plan de emprendedores la posibilidad del emprendedor
> social y generan únicamente una nueva casta de tiburones amparados en
> una reforma laboral neofeudal.
> 
> Ustedes se olvidan que los países desarrollados como EEUU, Alemania,
> Francia, etc., invierten entre el 2'6 y el 3'4% del PIB en I+D+I.
> España no sólo necesita un esfuerzo superior (en torno al 6%) para
> ponerse a su altura sino que ustedes nos bajan la inversión del 1'3%
> al 0'9%.
> Para entendernos, usted que sólo lee sobre deportes, es la diferencia
> entre inventar un coche, y fabricarlo.
> Quien lo inventa tiene los beneficios de todos y cada uno de los
> coches que se venden.
> Quien lo fabrica sólo de las unidades que salen de su fabrica.
> ¿Dónde se inventan los coches? En Alemania, por citar un caso.
> ¿Dónde se fabrican? En España, Polonia o Rumania.
> Es evidente de quiénes estamos más cerca, pues.
> Al darle el hachazo que usted le ha dado a la investigación nos
> condena a ser un país de camareros, portaequipajes, y por supuesto de
> trabajadores poco o nada cualificados que trabajemos para empresas
> extranjeras a sueldos miserables mientras tenemos la moneda de los
> países con mejor calidad de vida.
> Si seguimos en el euro es para vivir como ellos, no para que ustedes
> nos hagan vivir como en Botsuana con precios de París.
> 
> Usted nos está suicidando económicamente.
> Tal vez no sepa quién es Paul Kruggman, pero es Premio Nobel de Economía.
> Para él es evidente que usted nos miente o no quiere darse cuenta de
> que no estamos ni siquiera en recesión, sino en fase de depresión, y
> sus medidas nos hunden cada vez más.
> Ha aceptado ser el banco de pruebas del FMI, cuyas medidas ya
> arruinaron a varios países, pregunte si no por Grecia o Italia donde
> están fracasando estrepitosamente.
> Usted no le dice a la gente que estamos metidos en una III Guerra
> Mundial cuyas armas no son de fuego, sino que tienen a forma de
> experimentos socio-económicos, donde los tanques son agencias de
> calificación de la deuda, donde los países utilizan a los ciudadanos
> para intereses ajenos a estos, y donde, al final, la gente está
> muriendo y sufriendo, como en cualquier guerra.
> Usted nos dice que es bueno meter a cuarenta alumnos por clase, que es
> bueno que haya menos profesores, menos médicos, menos atención
> sanitaria, y a veces pienso que simplemente usted es gilipollas, que
> no puede ser que actúe con maldad.
> Y créame, lo sigo pensando.
> Los malos seguramente son otros, usted no tiene la inteligencia
> suficiente para darse cuenta de todo eso.
> Sí la tiene, en cambio, para saber que todo esto puede traer revueltas
> sociales, agitación en la calle.
> Por eso va a aprobar una medida por la cual será terrorismo y condena
> criminal resistirse a la voluntad del Gobierno expresada en sus brazos
> de coerción, es decir, al policía.
> Como yo le estoy diciendo esto, seguramente me acusará de terrorismo
> por incitar a la gente a decirle a usted las verdades a la cara.
> 
> Señor Presidente, usted no quiere decirlo porque la Führer Merkel le
> amenaza desde el IV Reich que se ha instalado.
> No es una exageración, oiga, que lo dice hasta el Financial Times que
> como todo el mundo sabe es muy de izquierdas sin duda.
> Estamos metidos en mitad de una III Guerra Mundial, vuelvo a
> repetírselo, y no es una idea únicamente mía, sino de gente de esa que
> ha estudiado, tiene doctorados, ha dado clase en varias universidades,
> ha viajado por el mundo, ha leído mucho, mucho, habla varios idiomas,
> ha vivido diferentes procesos de crisis y recuperación, y a algunos
> también les gustan los deportes.
> Pero también ven que ustedes nos metieron una primera fase de
> Movimientos Financieros que ahogaron nuestra economía y ahora nos
> meten en una fase de Posiciones para hundirnos en el shock, en el
> miedo, en la angustia.
> 
> Solo le deseo que si algún día la sociedad se rebela, salimos a la
> calle, tomamos los poderes públicos, proclamamos una Asamblea
> Constituyente, convocamos un referéndum sobre la forma de Estado,
> disolvemos los partidos actuales y los obligamos a refundarse en
> partidos que atiendan a las ideologías políticas y no a las
> económicas, establecemos un sistema de elecciones realmente
> democráticas, nos salimos de la moneda alemana (llamada también euro)
> y establecemos pactos bilaterales con los países importantes,
> invertimos en educación e investigación.
> Si todo eso pasa y empieza con una mecha que la sociedad enciende. Si
> pasa y asaltamos su palacete en la Moncloa , ojalá usted esté ya
> camino del exilio en Berlín.
> 
> O lo va a pasar mal. Muy mal.
> 
> "Los recortes se aceptan por una de las fuerzas más importantes de la
> humanidad, el miedo."
> Cita José Luis> Sampedro> 
> 
> "Hay dos tipos de economistas: los que trabajan para hacer más ricos a
> los ricos y los que trabajamos para hacer menos pobres a los pobres"
> :::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::
> José Luis Sampedro, para quien no lo sepa, tiene 94 años. una persona,
> capaz de seguir desarrollando sus ideas, publicando novelas,
> escribiendo artículos, etc.
> Y ya no sólo eso, sino hacerlo con ese entusiasmo, seguridad y el
> toque revolucionario, de cambio, que tienen muchas de sus frases y
> pensamiento.

jotacmarques

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Carta aberta a Maria Teresa Horta a propósito do prémio D. Dinis

Exma. Senhora

Conhecemo-nos de há muito, V.Exª das superlativas  posições feministas que sempre tomou e eu anónimo cidadão, que entre dentes ruminei alguns impropérios contra algumas dessas suas posições. V. Exª. assumiu-se e assume-se , ouvi há pouco a entrevista dada na Antena 1 a Maria Flôr Pedroso, excelente diga-se de passagem, na defesa dos direitos das mulheres, eu na  dos direitos humanos independentemente do sexo. Claro que a senhora também é uma defensora intransigente dos direitos humanos das mulheres e dos homens, mas confesso que o enfoque que continua a dar aos das mulheres parece-me algo despropositado nos dias de hoje.

Mas o que me traz a esta mensagem não é o pouco que nos separa, é antes o que fundamentalmente nos une, a dignidade e a coerência.

V.Exª. recusou receber o prémio D. Dinis que lhe foi atribuído este ano pela Casa de Mateus, porque não quis que fosse Passos Coelho a entregar-lho. Justificou V.Exª. a sua atitude, argumentando que não podia em consciência escrever uma coisa, a defesa de uma sociedade mais justa e igual, e receber um prémio das mãos do 1º ministro de um governo que faz literalmente o contrário.

Indecentemente, foi acusada pela Casa de Mateus de uma atitude não democrática e no entanto a senhora mostrou-se disposta a receber o prémio das mãos do Presidente da Republica ou da Presidente da Assembleia da  Republica, ambos do PSD. Francamente não se percebe a acusação que lhe foi feita, mas V.Exª. ao longo da vida já foi certamente alvo de faltas de educação e grosserias impróprias de gente civilizada como esta que a Casa de Mateus teve, ainda mais grave por anteriormente a  terem designado para o prémio D. Dinis. São daquelas situações que só se resolvem ao estalo, coisa a que compreensivelmente VExª. não deve estar disposta, ainda que possa ter vontade.

Minha senhora, a atitude de V. Exª é evidentemente de dignidade e coerência , pelo seu passado e pelo presente, e pelo o que sei de si, pouco confesso, não deve deixar ninguém admirado. O prémio D.Dinis é uma das maiores distinções literárias atribuídas neste país, certamente muito dignificante e gratificante para quem o recebe, e apesar de tudo  V.Exª. recusa-o pelas razões já referidas. Imagino quanto lhe deve ser doloroso e a coragem  de que  precisou

A sua atitude, minha senhora, é notável, considerando a bandalheira de valores dos tempos actuais, é notabilíssima, mas a sua coragem é rara.

Deixe-me, minha cara, manifestar a minha admiração e dizer que V.Exª apesar do seu feminismo militante, é uma mulher com eles até ao chão...falo de tomates evidentemente, coisa cada vez mais rara entre muita população masculina que se exerce por aí!

jotacmarques

P.S. Maria Teresa Horta recusou-se a participar na cerimónia oficial presidida por Passos Coelho para a entrega do prémio D. Dinis. No entanto, e muito bem, aceitou a importância em dinheiro inerente ao prémio. Mereceu-o e recebeu-o, quanto a festas e honrarias, o que daria "panache" ao Governo, declinou-as.
Fica o esclarecimento .

jotacmarques
  

domingo, 23 de setembro de 2012

A redução da TSU

Parece que o governo vai deixar cair a redução da TSU à custa dos trabalhadores. O essencial a reter em toda esta trapalhada é que o recuo do governo se deveu à resistência do povo manifestada na rua em 15 de Setembro e à vigília em Belém, ponto final!

Hoje podem fazer crer que, ponderadas as coisas prevaleceu o bom senso do governo, o Conselho de Estado foi importante e  Cavaco Silva foi decisivo, mas não passa de truques de magia mistificadora para relativizar as manifestações de descontentamento e desvalorizá-las. Repito, foi o povo na rua quem inverteu a ignomínia !

No entanto, o problema ada austeridade subsiste, já foi dito que para cumprir o déficit  a verba que falta tem que aparecer, e mais uma vez com a subida dos impostos, do IRS e de mais um imposto extraordinário. Feito o balanço, não se indo lá pela TSU  vai-se por outro modo, recaindo sobre os rendimentos do trabalho continuando a desvalorização. Quanto a ricos, cócegas incipientes!

Não foi isto que vi e ouvi nas manifestações! Vi e ouvi as pessoas contra as opções da política económica e financeira do governo, contra a austeridade excessiva e a falta de uma estratégia económica de crescimento e desenvolvimento, contra a minimização do estado social, contra a corrupção e os abusos dos políticos e apaniguados. Não sou nem cego nem surdo e muito menos mudo!

Por isso digo que rua continua na agenda do dia, que não podemos descansar, perder o ritmo, deixar amolecer!

Sabem o que diz o povo?..."quem sente mole, pisa"...

jotacmarques

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

A vigília em Belém

O que se vai passar no Palácio de Belém hoje, com a reunião do Conselho de Estado, é fácil de adivinhar, Cavaco tentará, ouvidos os conselheiros, apaziguar os ânimos e cozinhar uma solução que mais uma vez entrará nos bolsos dos Portugueses. Aceitará, sem sombra de dúvidas, que a  redução da TSU continue a ser uma transferência   do trabalho para o capital, "modulando"(???) a fórmula, mas sem atender ao cerne desta questão, que consiste na rejeição do postulado execrável de que o povo ainda consegue aguentar mais medidas de austeridade e de que o trabalho tem que ser desvalorizado a favor dos patrões para o país ganhar competitividade externa.

A vigília convocada para o Palácio de Belém às 18h, com concentração às 17h30 na Praça do Império,é um acto de resistência importante, na medida em que  representa a continuação do que se passou a 15 de Setembro e significa a permanência activa da luta popular contra a autocracia delirante do Governo e do seu modelo politico-ideológico. Os resultados práticos e concretos da  vigília  nas decisões a tomar pelo Presidente serão poucos ou nenhuns, mas eu vou lá estar pelo que que ela representa e significa em termos ideológicos.

A realidade objectiva e subjectiva actual PODE e DEVE ser alterada pela acção directa da população, que tem que EXIGIR em vez de pedir e esperar, o Governo e a Assembleia emanam da vontade popular e só conservam a sua legitimidade enquanto intérpretes e executantes dessa mesma vontade.

 "A procissão ainda vai no adro",só futuras MEGA MANIFESTAÇÕES  POPULARES DE RUA  é que podem forçar os políticos a perceber que NÃO QUEREMOS a bandalheira e o imbróglio em que eles nos meteram, que há gente incompetente e aldrabões que queremos  fora do governo e dos altos cargos da administração pública e que o programa de ajustamento financeiro e económico também é ECONÓMICO.

O povo reganhou em 15 de Setembro uma força e uma dinâmica poderosas, não vamos deixar que o Governo espere a ver se passa, o Governo PSD/CDS  falhou redundamente deixando o país à míngua,  vamos EXIGIR NA RUA ELEIÇÕES e PREVENIR  quem fôr eleito de que  fica amarrado sem desvios ao programa que apresentar, sob pena de também ser derrubado na rua.

Vemo-nos logo ao fim da tarde na vigília em Belém!

jotacmarques

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Passos Coelho o Grande Incompetente



Tenho uma pequena história para vos contar, de que me lembrei quando Passos Coelho declarou triunfal na entrevista dada à RTP1, que dormia pouco mas descansado, porque tinha a consciência tranquila, dava o melhor de si na governação do país, o melhor que sabia e podia.

Há anos atrás contratei com um polidor de móveis o restauro de um lote de peças para venda na loja que tinha nessa altura. Tratava-se de um profissional, um homem já a entrar na velhice, que desde miúdo tinha aquela profissão. Tratou dos vários móveis, paguei-lhe, despedimo-nos e coloquei as peças à venda. Algum tempo depois grande parte delas foram vendidas a um cliente de Viseu. Poucas semanas após  o negócio recebi uma reclamação do comprador, queixou-se de que nos tampos das mesas e dos aparadores, por debaixo da camada de polimento havia manchas brancas, como de bolor se tratasse. Bizarro pensei, mas erros todos cometem, resignei-me. Transportados os móveis de Viseu para Lisboa, o polimento foi corrigido e os ditos reenviados ao dono. Pouco tempo depois, outra reclamação pelos mesmos motivos. Desta feita a correcção foi feita em Viseu por um profissional da terra. Todas estas operações ficaram  muito caras e foram inteiramente suportadas por mim.
O nosso homem, o primeiro polidor, a quem exigi responsabilidades, descartou-se afirmando que o erro era do material usado que estava defeituoso, e declarou que  trabalhava  há quase 50 anos na arte e portanto tinha larga experiência. Investiguei e concluí que nada se passava com o material, o erro tinha sido do "mestre". Em conversa subsquente a coisa aqueceu, ele continuou a  insistir na sua grande experiência, até lhe ter dito que a experiência era má e que ele toda vida terá  sido provávelmente um profissional pouco competente . Cortámos relações, só nos voltámos a falar passados muitos anos!

O 1º ministro de Portugal é um incompetente, o das finanças idem, do Relvas nem merece a pena falar. O governo globalmente é incompetente, prevê e falha, sempre, os objectivos traçados nunca são alcançados, os índice económicos estão cada vez piores, a degradação social  é galopante. Quando se explicam, Passos Coelho e os outros, são confusos, atabalhoados, delirantes, inventam no momento, são completamente desligados da realidade e manifestam uma imperdoável ausência  de sensibilidade social.

Das últimas medidas, nem falo, para não me enervar e ser  inconveniente, falo deles, dos membros do governo. São um bando de incompetentes, repito, de autistas sociais, de descuidados, de desleixados que tomam atitudes sem cuidarem das consequências, de inventores de delírios, de irresponsáveis experimentalistas que estão a levar o país à miséria. O que disse ao polidor, assenta nestes que nem uma luva, a experiência que acumularam no governo não é má, é péssima, e eles uns incompetentes colossais, é absolutamente irrelevante que durmam pouco, que tenham a inconsciência dos pobres de espírito quanto ao seu desempenho, que se esforcem muito e cada vez mais. O resultado é o que sabemos, lastimável, uma calamidade para quem vive neste país, para isto era bem melhor que não fizessem nada, não se esforçassem nada, que passassem a vida na cama a dormir profundamente.

As acções dos incompetentes têm  resultados incompetentes, como os de que estamos a ser vítimas. Nem vejo a hora de de nos livrarmos deste bando!

Vamos resolver o assunto na rua! Manifestação amanhã 15 às 17h!

jotacmarques 

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Só na rua é que isto se resolve...

Quem ontem viu e ouviu Manuela Ferreira Leite na TVI a demolir a política económica e social do governo, ficou certamente admirado com a justeza e desassombro  do discurso da antiga ministra das finanças e militante do PSD. Ferreira Leite assumiu posições que politicamente alinham muito à esquerda do seu partido e até de alguns segmentos do PS. Colocou de maneira muito imaginativa uma questão que poucas vezes tem sido equacionada, a saber, que atitude devem de ter os deputados da maioria governativa perante o caminho desastroso que o governo  está a impôr ao país. A questão para os deputados eleitos pelo povo e que suportam o governo é a de escolherem entre o povo que os elegeu e o governo que têm apoiado, isto é, ou tomam o partido do povo que  está a ser vítima de enormes iniquidades ou do governo que prossegue cego na implementação de medidas económicas e sociais assassinas da coesão social e da sobrevivência dos pobres e da classe média, medidas que já toda agente percebeu que não tiveram sucesso e cuja continuação agravará a situação para níveis  calamitosos.

Na opinião de MFLeite a escolha deve recair sobre o povo, e nessa medida contra orçamento geral do estado para 2013, devendo os deputados do PSD que o entendam votar contra o orçamento, assumindo até às últimas consequências a sua atitude, até à demissão se tal considerarem necessário. A posição defendida pela  antiga ministra,  para além de justa e corajosa, é criativa e imaginativa, e situa-se muito mais à esquerda do que a tibieza , opacidade e capitulação mostrada por António José Seguro.

Manuela está desesperada, revoltada e descrente em relação ao governo, como todos nós estamos, não foi decidida quanto à eventualidade de se manifestar na rua no próximo dia 15, mas também não descartou a possibilidade. A minha perplexidade perante as declarações de MFLeite foi grande, no fim de contas ela tem sido e é uma defensora activa e importante do modelo que temos no país, defende um modelo económico e social capitalista e exerce-se num parlamentarismo partidário caduco e esgotado. Para estes senadores do regime tomarem posições do teor da de FLeite, é de desconfiar  que a realidade do país é capaz de ser muito pior do que supomos!

O governo perdeu a credibilidade e a base de apoio, isto já não vai com remodelações na sua composição e muito menos com jogos florais com o  presidente da republica  e tribunal constitucional, tem que ser apeado, corrido sem hesitações.

Não podemos cair na armadilha de que as instituições democráticas(???) resolvem as questões, de que a nossa democracia(???) está pensada e é eficaz para ultrapassar o problema!

No sábado dia 15 vai estar calor, bom prá praia, também no dia anterior andaste na farra e foste quase de manhã prá cama, não dá, um gajo ir à manif é lixado, é um sacrifício do caraças! Pensa assim pensa, põe-te com teorias de que estás muito cansado, de que um não faz a diferença, refila mas não te dês a sacrifícios e incómodos e vais ver o lindo futuro que vais ter!

 À malta nova pertence a construção do presente e do futuro, apoiados e em união com os mais velhos que também cá andam e vão andar a levar porrada destes gajos, não há hipótese com este governo e pelos vistos a oposição não vale nada, ou somos todos a fazer força na rua que é o meio mais eficaz e visível para manifestar a revolta ou a coisa não dá, há um burburinho durante algum tempo e depois tudo seguirá o caminho anterior.

Prá rua no dia 15, todos e em força!!!

jotacmarques






segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Prá rua...

 As últimas medidas anunciadas por Passos Coelho ultrapassaram de vez  o risco, já não existe ponto de retorno para ele e para os comparsas da governação, estão irremediávelmente perdidos para os portugueses que perceberam o enorme e desonesto embuste do discurso, que mais não pretendia  que justificar os cortes para os trabalhadores em geral  e a ausência de medidas restritivas concretas para o capital. De uma penada desvaloriza-se o trabalho e transfere-se para o capital os resultados do roubo, contrai-se o consumo diminuindo o peso das  importações na balança comercial, provoca-se a falência de mais pequenas e médias empresas criando mais mercado para as grandes.

A troika e o tribunal constitucional aparecem no cenário como justificação.

Penso que , considerando históricamente os meandros das lideranças, há um momento em que os governantes se passam para o outro lado da realidade e se desligam do seu povo, insistindo em métodos e tomando medidas que só nas suas cabeças fazem sentido e contrariam a realidade concreta dos interesses da comunidade, numa espécie de autismo social, que em última análise pode fazer precipitar enormes rupturas e conflitos. O 1º ministro e o seu governo estão no ponto, pisaram o risco! O que se pode esperar deste governo será mais do mesmo, numa espiral recessiva que porá o país a pão e água!

A nós, não nos resta alternativa senão derrubá-los! NA RUA, NUMA GIGANTESCA MOVIMENTAÇÃO DE PESSOAS QUE INTERNA E EXTERNAMENTE SE FAÇA OUVIR E QUE LHES IMPONHA O MEDO!

Os gregos são capazes de o fazer e não vejo obstáculos para que também o façamos, numa corrente de solidariedade com eles e com outros que estão a ser sujeitos a estes crimes humilhantes.

Passam-nos a mão pelo pêlo, que somos ordeiros, respeitadores, confinando-nos à docilidade dos eunucos capados, mas este povo já mostrou anteriormente que os tem no sítio.

Estou zangado e  quero estar, encontro assim a força anímica para os apear, para os pôr no olho da rua, a eles e à suas teorias abusivas e matreiras. Enquanto não tiverem medo do povo na rua, continuam a tratar-nos como se fôssemos mentecaptos, atrasados mentais impotentes, que não percebem o que lhes acontece e são completamente incapazes de reagir, apenas capazes de lamúrias e protestos inócuos.

VAMOS RESOLVER O ASSUNTO NA RUA! 

jotacmarques      

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Que oposição...?

Em Loulé, Mário Soares agastado com a prática do governo, disse que é preciso que as pessoas façam alguma coisa, que lutem contra o que está a acontecer. Soares está contra a avalanche das privatizações, até as águas comentou, solidarizou-se com as pessoas que foram atiradas para a miséria e apontou o dedo a Passos Coelho, acusando-o de não ter sido capaz de reduzir o déficit  para   4.5% apesar das pesadas medidas de austeridade impostas.

Não disse foi que tipo de lutas é que as pessoas deviam de adoptar. Já ontem à noite em entrevista de  Fátima Campos Ferreira ao filósofo José Gil na RTP1, também ele defendeu a luta de oposição ao rumo imposto pelo governo ao país, no entanto não especificou as acções de luta a desenvolver.

Esta ausência de definição das formas de luta é transversal nas muitas intervenções a que tenho assistido últimamente. Parece haver cada vez mais cidadãos intervenientes, intelectuais, artistas, professores, etc, que estão de acordo na oposição ao modelo que está a ser implementado, mas quanto a estratégias que impeçam o seu avanço não se pronunciam.

Não me parece que haja falta de coragem para o compromisso, que estes cidadãos tenham medo de se comprometer, acho é que não sabem o que  fazer. Nem eles, nem eu, e duvido que haja muita gente que o saiba!

Os acontecimentos são novos, desconhecidos,ainda que de alguma maneira tenham pontos de contacto com outras situações anteriores. No essencial, as pessoas foram apanhadas desprevenidas pela torrente dos acontecimentos, comportamentos na economia e nas finanças que não reagem às fórmulas conhecidas de os controlar e influenciar, não esperavam a enorme vitalidade das doutrinas liberais que muitos julgavam aniquiladas pelo crash de 2008 e episódios subsequentes.

Por outro lado, as pessoas das gerações mais recentes que estão em condições de tomar partido são substancialmente diferentes daqueles, mais velhos, que exercem a sua acção com visibilidade pública, e que estão em posição de ser referências inspiradoras. Mário Soares é com certeza uma referência na democracia portuguesa, mas o seu "habitat"  pouco tem em comum com os mais novos.
Os partidos encarregaram-se de fazer desmobilizar os jovens da política. Com práticas e discursos a cheirar a mofo, apenas interessam aos jovens das jotas que quando forem grandes querem no mínimo ser secretários de estado.

O quadro não é encorajador, mas a urgência da acção não se comove com desgraças, ou actuamos ou perecemos. Para  problemas  novos soluções novas, cabe a cada um encontrar dentro  das suas melhores capacidades e aptidões a sua forma de oposição, pode ser na escola, no emprego, na família, no bar, na rua, na net, o importante é que haja acção reactiva. O poder tem de saber que tem opositores activos contra a politica da calamidade, tem que ser pressionado para recuar!

Olhe, se não sabe por onde começar, fica aqui uma informação que pode ser útil, no próximo dia 15 há uma manifestação de rua contra a troika.

jotacmarques     

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Porra que estou farto...

De uma vez  por todas, alto e bom som, com clareza, é preciso dizer que há sectores públicos na vida económica  nacional em que as receitas geradas nunca darão para cobrir as despesas! Os transportes, a saúde, o ensino, a segurança social, nunca, repito, gerarão receitas que paguem os custos, e se isso acontecesse seria à custa da exclusão do benefício desses serviços da esmagadora maioria da população portuguesa. Estamos a falar de garantias constitucionais dos cidadãos, tão importantes como a liberdade de expressão, de reunião, etc, que configuram um todo coerente e indivisível e que constituem a essência da sociedade democrática.

Os custos sociais desses sectores da economia, terão que ser subsidiados pelo orçamento de estado, por isso também se apelidam de custos subsidiados, e por mais que os liberais se esganicem a vociferar contra o facto, a diabolização dessa realidade não pega para quem defende uma sociedade justa e equilibrada para todos. Os impostos que pagamos e que constituem a receita principal do Estado, devem e têm que servir o financiamento dos serviços básicos fundamentais da comunidade. Se não fôr esse o caso, o país democrático e social afundar-se-á inevitávelmente, a exclusão será cada vez maior, e a diferença ente ricos e pobres ganhará contornos intoleráveis. Na situação actual em que a paranóia da relação custo/receita /lucro alastra como água, é previsível a catástrofe que ocorrerá se não nos opusermos. Atente-se nas recentes disposições que o governo tomou a propósito dos passes sociais. Só os membros dos agregados familiares com menos de pouco mais de 500 euros é que têm acesso ao passe social, excluindo-se dezenas de   milhares de cidadãos que anteriormente tinham esse direito, com a justificação de reduzir custos.

Quanto a mim, os impostos que pago devem destinar-se a estes fins, não ao delírio das PPP, das auto-estradas políticas que lobbies de interesses económico-políticos inventam para se amanharem com o nosso dinheiro, não aos ordenados e prémios fabulosos de gestores públicos e camarilhas, não às frotas de dezenas de automóveis de luxo em que se fazem transportes as élites dos poderes, não a um sem fim de modormias abusivas que cresceram por todo o lado à nossa custa.

A febre criminosa das privatização de tudo o que possa ser negócio para a actividade empresarial  privada, exponenciada no disparate da televisão e da rádio públicas, transfere para o sector privado nacional e estrangeiro sectores estratégicos da nossa economia, REN, TAP, EDP, RTP, ÁGUAS, são algumas das grandes empresas estratégicas que foram ou estão em vias de ser vendidas. Estes negócios que nos vão colocar à mercê de interesses em que o lucro é o móbil, que vão provocar milhares de despedimentos por via das políticas de redução dos custos, correspondem à implementação de um modelo político-económico ulta-liberal que acredita na infalibilidade dos mercados.

Desde 2008 que conhecemos os resultados deste modelo, um recuo civilizacional em toda a linha! Se mais não fosse, o exemplo da Grécia é elucidativo, depois de lhes terem vendido submarinos de que não precisavam, de lhes terem emprestado somas astronómicas de dinheiro a juros agiotas que nunca mais vão ser capazes de pagar, e pasme-se, de os peritos de repudiadas agências de rating internacional, das que nos avaliam diáriamente, terem contribuído para aldrabar as contas públicas quando da candidatura do país à UE, vem agora a troika, em defesa das donzelas ofendidas e escandalizadas, vidé a Alemanha que foi a vendedora dos submarinos, defender a imposição de 6 dias de trabalho semanal. Esperemos pela pancada!

Olhe leitor, se concorda com as iniquidades aqui apontadas, deixe-se estar quieto, que eles fazem o serviço, mas se não quer continuar a viver na confusão e incerteza permanentes, a ver o futuro negro, e a contentar-se com 500 euros por mês se conseguir arranjar emprego, não sei do que é que está à espera para fazer barulho.

É que se chegarmos ao ponto de nos porem uma canga ao pescoço como se fazia aos escravos, levaremos muito tempo até nos libertarmos outra vez!

jotacmarques

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Os gays é que pagam as favas...

Há dias disseram-me que estava difícil de arranjar namorado porque há muitos gays. Está na moda ser gay, acrescentou. Passou-se numa faculdade e presentemente no quotidiano profissional e social. Acho curioso que uma rapariga de cerca de 30 anos tenha esta vivência, que a dificuldade de se relacionar afectivamente com um rapaz, esteja condicionada ao facto de haver muitos gay no seu universo social.

Trata-se evidentemente de um falsa questão. Mas o que interessa desenvolver aqui é o "estar na moda ser gay ".

Se se entender que estar na moda, é a adopção, num dado contexto histórico-social, de comportamentos e símbolos aceites com normalidade pela comunidade, houve noutros tempos sociedades em que ser ou  praticar a homosexualidade era comum, era moda. Nas sociedades clássicas, grega sobretudo, mas na romana também, a homosexualidade era aceite sem grandes dramas. Noutras comunidades espalhadas pelo mundo registava-se a mesma coisa, para não ir longe, no Norte de África, entre os mouros a homosexualidade era praticada frequentemente.

Os comportamentos  que se instalaram e instalam nas sociedades humanas, têm razões de ser, aparecem ou desaparecem por causas concretas e objectivas.

Ser-se diferente sexualmente é natural, já a proliferação em escala deste ou doutro comportamento terá outras determinantes. Parece-me claro que causas sociológicas decisivas determinam o fenómeno actual de"estar na moda ser gay",  porventura outras determinaram o comportamento sexual na Grécia antiga e na Roma clássica. Talvez nas sociedades esclavagistas antigas com as necessidades de mão de obra resolvidas por via dos escravos, existisse maior disponibilidade para o prazer na sexualidade, maior tolerância para com a diversidade sexual, despoletasse o interesse pela  homosexualidade.  Talvez...!

Estou é convencido de que "a moda gay" actual tem causas sociológicas importantes e interessantes de indentificar, que não são compatíveis com a explicação de um mero fenómeno de moda, rápidamente perecível.

Até porque é difícil de digerir que a minha amiga  tenha dificuldade em arranjar namorado, porque há muitos gays na faculdade, nos empregos e de um modo geral na sociedade, porque é moda!

jotacmarques

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Depressão

Toda a gente tem um limite para o que pode mental e afectivamente suportar, para além do qual se produzem processos disruptivos  de consequências imprevisíveis. Esse limite, a que chamo de "breaking point", evidentemente que varia de pessoa para pessoa, assim como as causas que determinam a ruptura. A sociedade tende a normalizar comportamentos e reacções, classificando de anormalidade tudo o que não se insere no léxico do "normal" socialmente estabelecido, desprezando a característica individual, diversa  e única do comportamento humano.
Idealmente, cada pessoa devia de conhecer o seu "breaking point" e ser capaz de recorrer à ajuda técnicamente especializada sempre que entrasse em ruptura. Talvez se pudessem evitar tragédias como a que aconteceu muito recentemente em Castro Marim, uma mulher com cerca de 40 anos e em depressão profunda diagnosticada regou com gasolina o quarto em que se encerrou com os dois filhos adolescentes e acendeu o isqueiro.

"À segunda feira é fácil adivinhar os resultados dos jogos de  futebol", reza o povo, e cumprindo-se, um batalhão de psiquiatras e psicólogos, comenta, declara que a depressão é uma patologia grave, que há casos em que os pacientes devem de ser internados, que o suicídio é recorrente em situações de depressão profunda, etc, etc,etc. É normal que assistamos a uma maior visibilidade dos especialistas de serviço quando se verificam situações excepcionais, mas a pergunta que se me coloca é: onde estavam os técnicos que acompanhavam este caso? Mais, que medidas terapêuticas foram tomadas, e quais as razões que explicam que uma mulher neste estado não estivesse internada?

A psiquiatria e a psicologia são hoje ciências fundamentais na saúde dos cidadãos, mas não se lhes deve recorrer  para resolver estados de alma mais ou menos incómodos,  que decorrem de contrariedades e tristezas pelas quais todos passamos. Ouço frequentemente etiquetar de depressão esses estados e fico alarmado com a facilidade com que é feito, porque baralha e minimiza a gravidade dos  estados depressivos reais, originando em última análise que, pela vulgarização, situações como a de Castro Marim não sejam  avaliadas na sua verdadeira dimensão. 

A crescente psiquiatrização  da vida nas sociedades desenvolvidas corresponde a novas situações da saúde mental  das populações e a novos padrões de bem estar,  mas tem necessáriamente de evitar que o que era tratado por amigos e familiares e até pelos padres  passe para a sua área. O trigo e o joio estão muito misturados, isto é, começa a não haver uma diferenciação clara do que são as verdadeiras doenças psiquiátricas e o seu tratamento por especialistas, e os estados de alma incómodos que são por regra transitórios e que os mais próximos e o próprio são capazes de resolver. 

Nos Estados Unidos parece que toda agente tem o seu psiquiatra ou psicólogo, muitas vezes numa relação terapêutica que dura grande parte da vida, não gosto que isso esteja a acontecer no meu país. Toda gente teve e tem problemas, passou por situações traumatizantes, mas o ser humano encerra uma enorme capacidade de reacção para os ultrapassar, deve de usá-la em vez de se apoiar em "bengalas que só contribuem para lhe anular a natural força reactiva, sem prejuízo das situações patológicas que, insisto, devem de ser diagnosticadas e tratadas por técnicos especializados.

Dos cerca de 30% da população portuguesa que lidou ou lida com problemas de depressão, de acordo com notícia publicada, certamente que haverá muitos que estão a ocupar indevidamente psiquiatras, psicólogos e outros técnicos de saúde mental, assoberbando-os com casos, contribuindo para esgotar os recursos humanos e materiais, e, porventura, dificultando-lhes a avaliação integral e objectiva dos casos  patológicos.

Não sei o que se passou sob o ponto de vista psiquiátrico em Castro Marim, mas ainda não vi nenhum dos intervenientes chegar-se à frente e esclarecer a desgraça!
Prestariam um serviço enorme à população verdadeiramente atingida pelo flagelo da depressão! 

jotacmarques  

    


sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Se eu fosse mosca...

Se eu fosse mosca gostaria de voar pelo palácio de S. Bento em dias de conselho de ministros. Voaria rápida e irritante, pousando em ministros e secretários de estado, atraída provávelmente pelo cheiro das palavras, ou quem sabe, pelo suor excretado dos pensamentos e das propostas que povoam essas grandes cabeças que nos governam.

Cansada, aterraria em qualquer sítio onde pudesse ouvir com clareza o que viria, a coberto de mãos e jornais que incansáveis procuravam excluir-me do mundo dos vivos. Há muito que a curiosidade me espicaçava para assistir a uma destas sessões, certa que estava de aqui se passavam coisas importantes. 

O conselho ia começar, estando presentes à volta de duas dezenas de figurões. O 1º ministro aclarou a voz , mavioso e cordial deu as boas vindas e esclareceu a ordem de trabalhos, tratava-se de preparar a agenda da próxima avaliação da "troika". O das finanças arengou sobre os excelentes resultados alcançados, é certo que o desemprego tinha aumentado mais do que se estimara, que as receitas dos impostos recuaram por via da quebra do consumo interno, que a comparação homóloga dos índices económicos também acusava  recuos e que o  investimento era cada vez mais baixo. Acrescentou no entanto, que as exportações apesar das oscilações lá se iam aguentando, e grandes notícias, as taxas de juro para empréstimos a Portugal nos mercados financeiros internacionais tinham descido ligeiramente. Estávamos no bom caminho portanto, em breve, se fossemos cumpridores e não nos afastássemos uma linha do compromisso com a "troika", viria o paraíso para esta terra abençoada.

O ministro da economia seguiu-se, que não podia correr melhor, o acordo com os patrões e o cagalhésimo da representação dos trabalhadores produzira a desejada desvalorização do trabalho, mais, à parte mais uns milhares no desemprego, inevitável e marginal, já se vê, assistia-se a uma limpeza por via das falências das empresas pequenas e obsoletas, que mais não faziam que poluir o universo da actividade empresarial dos grandes grupos. Uma enorme benfeitoria o que se estava a passar, finalizou.

A agricultura, através dos secretários de estado, o ministro estava de férias no estrangeiro, exultou com o excelente trabalho produzido, que entretanto era só promessas, mas que qualquer dia, não se sabia exactamente quando, se concretizariam. A boa notícia era que as importações de bens alimentares tinha descido, com a perda de poder de compra  as pessoas tinham comido menos. Era óptimo para a redução do "déficit" da balança comercial e para o "fitting".

O ministério dos negócios estrangeiros também proclamou grandes êxitos na política da pedincha de chapéu na mão  levada a cabo na Ásia e noutras zonas do globo. Também neste caso o ministro não estava, andava há meses em viagens pelo estrangeiro, ninguém o via coitado, o que ele trabalhava, sempre de copo na mão naquelas recepções frívolas e chatas, um calvário.

Reincidiu o das finanças, estava eufórico com as recentes notícias emitidas pela Bloomberg , Portugal era um grande exemplo a seguir pelos países resgatados, disciplinado e leonino o governa tinha excedido as expectativa  no que respeita a medidas austeras, assim é que era, em breve, com algumas reservas, com este comportamento, estaríamos em  condições para voltar aos mercados financeiros. Mais, a economia voltaria ao crescimento, anémico infelizmente, todavia  um grande feito. Geralmente, tudo o que bate com força no fundo volta para cima,  o ponto de partida para o almejado crescimento estava ao nível de há 30 ou 40 anos atrás, o recuo tinha sido enorme, cogitava eu com os meus botões.
Também me parecia tal qual como diz o ditado, "quando a esmola é grande, o pobre desconfia", que esta coisa de voltar aos mercados financeiros era uma manobra para nos emprestarem mais dinheiro e ganharem com os juros exorbitantes

Eu, feito mosca, estava perplexo. Então tudo piorava e esta gente continuava convencida da inevitabilidade do cada vez pior, para no futuro ficarmos bem? Alto, isto não é normal, ou eles não conheciam o país ou deliravam. Teimosos como os burros, continuavam a pressionar a tecla da austeridade apesar do panorama se degradar.

Escapei-me antes da reunião acabar, é que aquele ambiente não era bom para a cabeça. Fugi, porque receei que a insanidade mental fosse contagiosa, eu sei lá , ouve-se tanta coisa a propósito de doenças. Foi melhor assim, deixá-los lá sózinhos naqueles jogos florais de nós e os nossos umbigos, porque eu que ando por muito lado, por onde andam as pessoas nos seus quotidianos,  só oiço queixas, que isto está uma desgraça, que  cada vez tá pior. Não entendia o que se passa com aquela gente, é um mundo irreal, parecia que estavam a falar "pró boneco", a gente ajaezada com tantos sacrifícios, nunca chegam, cada vez mais, a ver que os putos fazem os cursos e piram-se para o estrangeiro, porque cá de empregos népia, os velhos com pensões miseráveis e tudo aumentar, enfim um rosário de coisas más de que vocês também são vítimas, e aqueles gajos a acharem que tudo vai bem.Porra!.............Porra!..............

Cá fora fiquei para os ver sair!

Ele era sorrisos, cumprimentos e abraços, satisfeitos consigo mesmos pelo desempenho do dever cumprido. Amanhã  tinham óptimas notícias para a "troika", claro que eles iam exigir mais medidas austeras, mas isso era o menos, o povo estava resignado e submisso. Entravam para os carrões pretos com motorista, topos de gama de dezenas de milhares de euros, compenetrados e graves, como se fossem donos do mundo.

Disse para mim que para assistir a estas coisas não queria ser mais mosca, talvez melga ou abelha , sempre podia ferroá-los, que é o que eles merecem.

Talvez, pensando melhor, não seja má ideia ser uma ave de rapina como eles, só que agora era para cravar-lhes as garras nos lombos, voar até ao Atlântico e já fora das águas territoriais, deixá-los cair, em terra óbviamente, numa ilha, não os queria afogar, apenas livrar-me deles para sempre.

Porque não num paraíso fiscal, talvez nas ilhas Caimão?.......

jotacmarques

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Leituras

 De leitor assíduo desde a infância, actualmente vai para muitos meses que não pego num livro, ou se o faço, ao fim de  poucas páginas  desisto. Foi sempre assim, alternando longos períodos de leitura compulsiva com interrupções mais ou menos curtas, mas agora a interrupção é longa e começa a ser preocupante.

Com certeza que devo ter lido centenas, senão algum milhar de livros, em português obviamente, mas também em inglês e francês. Foram leituras pouco organizadas, dou-me hoje conta, aleatórias, tanto li a obra completa de alguns autores, como da de outros, porventura muito mais importantes, apenas li um livro. Esta deriva também aconteceu com os vários tipos de literatura, romance, novela, ensaio, li o que me apeteceu sem a preocupação de uma metodologia coesa e coerente. O resultado é um "melting pot"  rico e variado, sem dúvida, mas também muito disperso e com enormes lacunas. É o caso da poesia, que pouco ou nada conheço, e de que sinto uma enorme carência. Exceptuando os poetas referenciais na cultura portuguesa, um ou outro na inglesa e na francesa, o panorama é de uma ignorância confrangedora.

Hoje, pensando em voz alta, apercebo-me da falta que me fez e faz a poesia na construção do "eu". Talvez eu fosse um ser humano diferente, melhor, se a poesia tivesse feito parte da minha vida, se fosse uma presença constante na interpretação do mundo e dos outros.

Sempre preferi o romance a todas as outras expressões literárias, densos e profundos, quanto maiores melhor. Joseph Conrad, personifica a escrita que me interessa, cada palavra, cada frase, cada linha encerra ideias profundas, constitui uma visão fortemente intelectualizada do universo de interdependências do Homem com o seu semelhante e com o  meio. Conrad é um escritor conciso e objectivo, quantas vezes seco e "enxuto", que trata fundamentalmente da questão da natureza humana.

Quando questiono a importância das leituras na minha vida, arrependo-me de não ter sido mais organizado e sistemático, e equaciono a influência que tiveram em mim. Li muita coisa desprezível, completamente inútil, outras inócuas, mas estou convencido da enorme importância que a literatura teve e  tem na minha existência. O escritores contribuíram decisivamente para moldar a minha atitude perante a vida, ajudaram-me sempre a suportar o pior e a apreciar o melhor, nos seus escritos encontro "outros mundos" que me curam e assossegam , aprendi que o mal e o bem absoluto não existe, que existimos para além dos umbigos.

A dialéctica presente entre o livro e o leitor é talvez a relação mais profunda que um ser humano estabelece entre o universo dos inconscientes, do seu e do escritor, suscita muitas vezes o que nem sequer  supúnhamos existir ou escondemos, sem a possibilidade de censura  e de repressão.
Essa relação configura o estado de liberdade total e de comunhão total com o semelhante, a sua vivência  é insubstituível e nuclear na vida de qualquer ser humano.

jotacmarques