A tatuagem está na moda, cada vez mais se exibem corpos tatuados. Novos, velhos, assim assim, nos braços , nas pernas, no tronco, nas costas, flores, bichos, caras, símbolos tribais, frases, nomes, a preto, a cores, é um ver se te avias de incisões subcutâneas, operadas por profissionais com negócios prósperos, alguns deles de indiscutível elevada qualidade técnica e estética.
Por este andar creio bem que o futuro é tatuado, a não ser que a moda mude e a mania acabe. Não simpatizo com a teoria maniqueísta , de que os tatuados são uns "chungas", gente de pouca categoria, e os outros não, mas decididamente não simpatizo com corpos tatuados.
A tatuagem funcionou desde sempre e continua a funcionar, em algumas culturas, como um código de identificação, da tribo, do grupo social, da iniciação, do estado social, da classe, etc. É um "chip" gravado na pele que reconhece um estado ou uma qualidade ao seu portador. Num passado recente, as pessoas tatuados eram mal vistas socialmente, eram consideradas marginais ou de classe social baixa, geralmente vítimas de exclusão e rejeição.
A "normalização" da tatuagem impôs-se e tem como substrato teórico corrente a ideia de permanência. Conversando com pessoas tatuadas, quase todas referem a permanência como causa para se tatuarem. Evidentemente que para além desta justificação transversal, para cada pessoa há uma variada panóplia de outros argumentos individuais.
Sempre defendi e continuo a defender o direito à diferença e reconheço a cada um o direito de fazer o que quer com o seu corpo. Reservo no entanto o direito de não gostar e criticar seja o que for, mesmo que não seja politicamente correcto fazê-lo, e nem por isso aceito o apodo de ultrapassado ou de não compreender os tempos modernos.
Chegados aqui, dou conta da minha perplexidade ao assistir a que novos e velhos se permitam seviciar o corpo, com práticas arcaicas e perfeitamente supérfulas nas sociedades ocidentais desenvolvidas. É uma sevícia, porque inflige dor e desconforto quando é feita e porque podem resultar complicações patológicas graves, como é o caso de inflamações e infecções. É supérfula, porque actualmente existem miríades de outros processos de identificação codicial que não implicam nem dor, nem complicações decorrentes e sobretudo, são reversíveis. Não se compreende a ideia de permanência associada às tatuagens, quando é sabido que nada no Mundo e na vida é permanente, que é legítimo mudar-se de opinião e que a irreversibilidade não importa do quê, é no mínimo altamente condicionante de qualquer acção, e como tal atenta contra a liberdade individual.
Se querem tatuar-se, força façam-no, mas será que daqui a 30 anos ou menos, o corpo, com o desgaste natural e transformado, aguenta da mesma maneira uma tatuagem feita anteriormente?...Duvido que a aparência sejam tão cintilante!...
jotacmarques