sábado, 31 de dezembro de 2011

Mensagem de fim de ano

Amanhã dia de ano novo lá teremos as habituais mensagens dos dois mais importantes governantes da nossa terra,a saber,o inefável Cavaco Silva e o simpático Passos Coelho.O tema será o da necessidade de nos sacrificarmos hoje, para termos um país melhor e sermos mais felizes no futuro.Cavaco meterá uma ou outra bucha de aviso ao governo,a parecer que seria mais brando nas medidas de austeridade,que é o paladino na defesa dos velhos e reformados,de pobres e desempregados e outras misérias afins.Passos Coelho vai-nos fazer ver que a privatização da EDP,esse feito grandioso,trouxe-nos o paraíso na Terra,que é preciso ir mais longe que a troika, no rigor e na austeridade,para os mercados verem que assim é que é, e passarem a confiar cegamente em nós.De um e de outro lado é um "dèjá vu",já vimos este filme!O discurso vai num sentido e a realidade dos factos no oposto,os juros pagos ao ditos mercados sobem,o país está cada vez mais de cócoras perante os credores e há-de passar à posição horizontal,se é que não está já,os desempregados,os reformados,velhos,novos,toda a gente, estão cada vez mais pobres e desamparados.E tudo aconteceu e acontece numa espiral vertiginosa,que nós aparvalhados, nem conseguimos perceber como e o que é que nos aconteceu,apenas que o dinheiro é cada vez menos e que tudo fica mais caro.De forma que, e porque amanhã ninguém nos vem explicar nada disto,apenas nos vêm mais uma vez pedir para amocharmos,dobrarmos mais a cervical perante o grande inevitável,a minha mensagem de fim de ano é a de que toda agente vá passear,que o tempo está bom,que não se ouça o Cavaco e o Coelho,que todos se estejam "a cagar",perdoem-me o populismo,para as mensagens de ano novo.

jotacmarques

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

11%............???

A China está a crescer a um ritmo de 11% ao ano é a notícia dada ontem na RTP1.Fico siderado com uma taxa tão impressionante,especialmente quando na Europa e nos Estados Unidos o grande feito consiste em evitar a recessão, esforço improfícuo,e alcançar crescimentos pífios.Entretanto,segundo relato na rádio de um nosso concidadão emigrado num confim qualquer chinês,a repartição da riqueza criado com este enorme crescimento é muito desigual.Apesar de se evidenciar na melhor qualidade de vida da população em geral,o fenómeno da enorme desigualdade faz conviver ferraris e lamborghinis com ricoxós e bestas de carga, em ruelas enlameadas e sujas a formigar de gente.Uma fotografia pouco edificante e esclarecedora de um país que há anos cresce com taxas de dois dígitos ou a rondar.A China abdicou de uma economia centralizada e planificada,e introduziu o sistema liberal capitalista,numa coexistência com um regime político e social de partido único comunista.Benefícios sociais não existem,liberdade de expressão idem,a política de salários muito baixos e de cargas horárias de trabalho elevadíssimas é a regra geral,o uso e abuso na aplicação da pena de morte é medieval,o poderoso sector industrial pouca ou nenhuma prevenção aplica na defesa do ambiente, originando níveis muito elevados de poluição,enfim,estamos perante uma economia que cresce baseada em paradigmas que no mundo ocidental eram impensáveis.A complexa e difícil concorrência com este tipo de economias,chamadas de "emergentes"(China,Índia,Brasil,as mais importantes),versus ocidente,originando ciclópicas transferências financeiras para estes países,está na origem da ruína da Europa e das dificuldades dos Estados Unidos.Claro está que o ocidente que há anos vem deslocando para estes países empresas e tecnologias,que facilitou as importações,na mira gananciosa de grandes, fáceis e rápidos lucros,tinha a médio e longo prazo de pagar a factura,o que actualmente está a acontecer.
Conclui-se que alguém está a perder com o enriquecimento da nomenclatura política e económica chinesa,quem será,é perguntar ao exército de trabalhadores chineses e o dos países ocidentais.

jotacmarques

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

A justiceira

Ontem aconteceu na SIC Notícias um raro e importante momento do jornalismo televisivo português,Maria João Avilez foi entrevistada por Mário Crespo.Em foco, a privatização de 20 e tal % das acções da EDP, propriedade do Estado português,que como é sabido,foram vendidas à Three Gorges,controlada pelo Estado chinês.Maria João, num raro momento de lucidez proclamou a operação como histórica,inicio de uma era de maior "liberdade,igualdade e justiça" para Portugal e para os portugueses.Finalmente a EDP,monopólio da energia eléctrica do país,livrava-se do Estado opressor e injusto,promotor de desigualdades,tal é a linha de raciocínio da jornalista.Avilez já nos habituou a um estilo de "palpitaças,de análises tolas e nada rigorosas,de falar e escrever do que não sabe,mas perante aquela proclamação apoteótica,pus-me em causa.O que é que me teria passado,que falta de capacidade a minha,que não consegui atingir a relevância do acontecimento?É que eu,na minha limitada compreensão,não vejo como é que fico mais livre e me façam maior justiça,quando quase um quarto do controle que o Estado democrático português tinha na eléctrica nacional,passa para a propriedade de uma companhia estrangeira controlada por um Estado ditatorial.
Enfim "mea culpa",que não tenho esperteza para compreender raciocínios superiores...

jotacmarques

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Marretas

A pouco e pouco vou ficando cada vez mais "marreta",como aqueles da televisão.Já me começa a irritar estar contra tudo e todos sempre que leio ou vejo as notícias do dia,que faço "zapping" pelos "reality shows" ou ouço estórias da vida.Estarei amargo,mais intolerante, ou simplesmente o que se passa à minha volta alinha por standards cada vez mais pobres?As duas hipóteses,talvez.Seja como for,o certo é que tenho que acabar com as "marretices",que vão minando o humor e promovem o pessimismo.No entanto,e a propósito dos "reality shows" da TV,embasbaco-me com o que vejo e ouço na"casa dos segredos" da TVI,nunca vi pior,uma lixeira.O figurino do programa faz destilar o que de mau existe nas pessoas e nas relações,a exposição despudorada da intimidade individual é do pior,a contribuição para a estupidificação geral do povo intolerável.Obviamente que sei que os jovens portugueses não se reveem no padrão,não são assim,não se exercem naquela mixórdia de actores e situações de lástima...felizmente que neste ponto podemos ser optimistas.

jotacmarques

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Há dias em que

Há dias em que sem razão aparente me dá para meditar sobre o Homem e a sua relação com os demais universos,melhor dito, com os outros seres vivos,animais e plantas.É um acto de higiene mental e profilático,recentrar o problema da natureza humana tomada individualmente e em grupo.Será um cliché,mas ainda assim uma questão eternamente em aberto.Aconteceu-me pensar nisto, por causa de um debate sobre o ensino superior em Portugal, e de um programa do National Geographic,ambos passados na RTP1.Este último, tratava da vida de bichos capazes de feitos impressionantes para adaptação ao meio,nomeadamente uma aranha minúscula, capaz de se deslocar em queda livre,em distâncias superiores em cem vezes o seu tamanho.Caía super velozmente sobre presas colocadas em folhas inferiores,a grande distância,e aniquilava-as em menos de um ai.Uma máquina impressionante de perfeição e eficácia.No entanto pertence a um grupo de animais que é muito mal querido pelas pessoas,no essencial por causa de um imaginário mítico-popular desfavorável, e talvez,por caber no padrão estético do horroroso.Quando aparecem,quase toda a gente se empenha em assassiná-las sem piedade.No debate sobre o ensino superior,falou-se muito de investigação científica e de cientistas,jovens e velhos que se dedicam a perceber o que nos rodeia,a criar forma de nos tornar a vida mais fácil.Esta gente partilha os seus "skills",nomeadamente a sua inteligência e tenacidade,com o Mundo,numa dádiva de generosidade impagável.É curioso como nos dois casos,um que avilta a perfeição,outro que a persegue,emerge a contradição que somos.Nesta contradição que se desloca entre " o preto e o branco,nas cem variedades de cinzento" reside a essência da natureza humana, e portanto e porque é imperfeita,também a relação com as demais realidades existentes o é.Claro que esta conclusão vale o que vale,provavelmente pouco,mas nem por isso a deixo de partilhar...porque me ocorreu hoje.

jotacmarques

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

MANOEL DE OLIVEIRA

Manuel de Oliveira é cá dos meus!
Em entrevista dada a Fátima Campos Ferreira da RTP1,a 11 de Dezembro,no dia do seu aniversário,estabeleci uma relação de sintonia com M.de Oliveira,que, confesso,não tenho com a sua obra.Manoel,permito-me a familiaridade,é um homem de 103 anos,com uma clarividência notável,um conversador excelente.Os seus filmes,muitos e longos,tiveram inúmeros prémios,o realizador é venerado em todo o Mundo,mas o que me interessa neste homem ,é a sua longa vida,as suas vivências ,o seu olhar de tantos anos.Descobri ao longo da entrevista,um ser humano que olha os outros,as coisas e aos acontecimentos, com uma enorme simplicidade e bonomia,alguém que sabe da sua importância humildemente.Deu lições de vida sem valores absolutos,criou espaços aos outros,alegrou-se por estar vivo,reconheceu a efemeridade das pessoas e das coisas.Manoel de Oliveira atingiu a simplicidade,a síntese,da enorme complicação que é a vida.Agradeço que o tenha manifestado tão claramente nesta meia hora de conversa,que me tenha ensinado tanto em tão pouco tempo.

jotacmarques

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Inversão

Os franceses e os alemães chegaram a acordo sobre o que se deve fazer para atenuar a crise das dívidas soberanas e salvar o euro.Os jornais não falam de outra coisa,alguns até ironizam com a capitulação de Sarkozy face a Merkel.De entre as medidas acordadas, realço o mecanismo automático de sanções para quem pisar o risco dos 3% do deficit imposto pelo "pacto de estabilidade",e o papel de vigilância no desempenho orçamental a cargo dos Tribunais Constitucionais de cada país.Claro que quem defende que só se deve gastar o que se tem,que o endividamento sistemático e sem fim é insuportável,tem que concordar com estas medidas.Tratam-se de imperativos da boa gestão que resistem solidamente à controvérsia das ideologias.A questão central de tudo isto não reside nesta ou naquela medida,que consideradas individualmente são válidas,mas no modelo adoptado para resolver a crise.Aí sim,a concepção politico-ideológica é fundamental,é a determinante do modelo social e económico que se desja.
Decididamente rejeito o modelo ultra liberal que nos estão a impor,de empobrecimento rápido e generalizado,contraposto ao enriquecimento cada vez maior do capital financeiro especulativo.A ideia é a de fazer recuar os padrões de vida de alguns estados europeus 30 ou mais anos,e ainda por cima, numa expiação dos excessos pecaminosos desses países,que em última análise contribuíram para a fartura de outros,vidé o caso da Alemanha.A Economia começa e acaba na satisfação das necessidades da pessoa,e por isso mesmo, ética e moralmente não deve ser um instrumento de gritantes desigualdades,como está a acontecer cada vez mais.Cabe aos povos, quando a subversão deste princípio acontece,inverter a situação,assumindo claramente a ruptura com os políticos e a política responsáveis pelo facto.

jotacmarques

domingo, 4 de dezembro de 2011

HABEMUS PAPAM

A expectativa era alta,mas fiquei desiludido.O filme é interessante,a ideia de um papa que não o quer ser,um psicanalista narcisista que é chamado para o tratar, a fuga do Vaticano,vai definir o estilo de comédia,mas como o assunto é sério ficamos nas meias tintas.Vislumbra-se uma critica à hierarquia da Igreja,ao seu conservadorismo,à incapacidade de interagir com os problemas do mundo actual,à politica de fachada.No entanto,parece-me que se trata o tema com luva branca ,não se quer complicações.Não é por acaso que o Vaticano difundiu a notícia de que esta obra não tomava posição contra ou pró Igreja.Nanni Moretti é mais corajoso,mais incisivo e "engagé",noutros filmes que realizou.No "Quarto do filho",por exemplo,trata o tema sem artifícios,é mais profundo,claro e transparente.Esta película arrasta-se entre a comédia e o drama,sem se definir,perde-se em repetições,é monótona e tíbia.
Gostei frouxamente, acrescentei pouco,se não visse não vinha mal ao Mundo.

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quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Mudanças

Resolvi mudar o nome deste blogue,o anterior era muito bem intencionado mas nunca funcionou.Por agora julgo que este nome está mais de acordo com a caminho que as coisas seguiram.

jotacmarques

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

O descalabro

Esta manhã ao ouvir as notícias e os comentaristas de serviço na Antena 1,a propósito da crise económico-financeira,ocorreu-me que não tenho nenhuma razão para tristezas com o descalabro,ou não desejasse eu,desde a adolescência,a queda do modelo capitalista.De facto, desde que me entendo politica e ideologicamente,que me incomoda e rejeito este sistema que transforma tudo e todos em mercadorias transaccionáveis, para enriquecimento de uma clique ínfima.Esta obscenidade,que permite que, enquanto se morre de fome e doença em vastas áreas do planeta por falta de recursos mínimos,muito poucos se afoguem num usufruto imoral de luxos e grandezas,à conta da apropriação das mais valias geradas na exploração e na especulação,ironicamente,transporta os códigos da sua própria destruição.Faz lembrar a história do escorpião e do elefante!
O que vivemos na actualidade é ,sem dúvida, a agonia deste modelo,que numa deriva paranóica de medidas e actores cada vez piores,se aproxima inexoravelmente do "requiem".Vou-me portanto deixar de tristezas ,mas tenho uma enorme preocupação e evidentemente,uma inquietante curiosidade com o que lá vem a seguir. Esta variável anda à solta,era adquirido para mim,e provavelmente para muitos outros,que um modelo substituiria o outro,e nada se vislumbra.Esta é porventura a questão mais importante e actual,que deveria ser pensada e desenvolvida,como se procura uma vacina ou um medicamento para uma doença.A teorização e organização dos movimentos de expressão popular que aparecem por toda a parte,assim como o de experiências anteriores de busca de soluções autónomas de poderes,parece-me a mim um dos caminhos possíveis,para preparar o futuro próximo e afastar o vazio inquietante e caótico.
Se for o caos a sobejar,será mais custoso,mas alguma coisa dele surgirá,na história da humanidade já aconteceu e na ordem cosmológica é todos os dias!

jotacmarques

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Antigamente é que era...

Vem a propósito de uma conversa tida esta manhã,o saudosismo do "antigamente é que era".Ouço recorrentemente esta fórmula, quando se pretende desclassificar o presente,a significar tempos formidáveis,passados e irrecuperáveis.Os autores do dislate são os mais velhos,obviamente.
Se é certo que, em termos relativos, tempos houve em que a vida era mais segura,mais previsível,as relações pessoais e sociais mais duradouras,a verdade é que,em termos absolutos,o presente é substancialmente melhor.Os indicadores económicos e de bem estar,dos países e das pessoas,mostram-no claramente.Não se percebe portanto a recorrência à fórmula,o que sugere que quem a usa,tende a não compreender o tempo presente. Esta situação conduz frequentemente a perturbações psicossociais graves,a conflitos socio-emocionais devastadores,e em última análise,também aqui residem os conflitos geracionais.
O rigor nunca é em demasia,aconselha-se veementemente!

jotacmarques

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

No meu tempo...

Falando de idades voltei a ouvir a inefável forma "no meu tempo",referindo-se obviamente juventudes passadas.O Português usa e abusa desta frase, remetendo saudosista para os anos da juventude as coisas boas da vida.Quando o faz,parece que se resigna a um presente cinzento,que se abstém do futuro.Começa a ser velho!Uma lamechice viscosa!
Quanto às razões podíamos escrever um tratado,mas o que me interessa é apenas um registo e aconselhar a forma "anteriormente", quando se pretender referir anos passados.Tem outra dignidade e é mentalmente mais higiénico.

jotacmarques

sábado, 24 de setembro de 2011

As lágrimas amargas de Petra Von Kant

Vejam a peça no Dona Maria.Não sou um frequentador assíduo do Teatro, vou mesmo muito raramente,mas fui ver esta peça e gostei,saí com a sensação confortável da harmonia de um trabalho colectivo.Se alguma coisa tenho a dizer a propósito,é que os actores,ou melhor,as actrizes,estão umas para as outras,como o azul para o ouro,há harmonia no desempenho.A encenação não me pareceu ambiciosa,pende para o coloquial,para a facilidade de um público mais abrangente.Por mim ainda bem,que tenho dificuldade em linguagens herméticas.A geringonça que domina o espaço cénico,uma enorme caixa com diversos mecanismos de abre e fecha,estende e encolhe,tem imaginação,mas funcionalmente é um desastre,levando os actores ao limbo da confusão,muito ao género de terem que pensar antes de se moverem.Guarda roupa muito vulgar e a assentar mal no corpo.Já agora ,seria conveniente uma climatização mais correcta da sala.
O trabalho dos actores corrige os defeitos tornando-os desprezíveis.Custódia Gallego,que eu não conhecia,óptima, compõe uma mulher complexa,Petra,numa deriva entre o excesso do ego e o abismo da não existência,
dando conta desta esquizofrenia da condição humana entre a grandeza e a miséria de espírito.Isabel Ruth,de presença muito forte,encarna a mãe,uma mulher mundana,distante e egoísta,numa conseguida representação,contida e introspectiva.Inês Castel-Branco é Karin Timm,e constrói muito bem a personagem, à volta da mulher superficial, afectivamente dividida e indecisa.As restantes três actrizes acompanham cabalmente.
A actualidade da temática da peça mantém-se passados que são 40 anos,ainda que as questões mais presentes que se colocam ao lesbianismo sejam outras.
Mais uma vez dou por mim a pensar na relação da arte com a transcendência,neste caso com a natureza humana, imenso desconhecido inatingível e por isso transcendente.

jcmarques

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Pedra mármore

Numa volta por Pêro Pinheiro,ali para os lados de Sintra,pólo importante da indústria de transformação de mármores e granitos,há um entreposto de pedras junto à estrada para Mafra,onde um mundo de beleza aterrou.Centenas de grandes placas de rochas decorativas estão expostas.Vêm de toda a parte,Brasil,Angola,México,Escandinávia,África,Índia,etc,etc.Olhando-as,imagino enormes pinturas,obras-primas que a natureza e o tempo criaram,expressões de liberdade imensa,compêndios da côr ,da forma,da imaginação ilimitada.Nestas alturas compreendo melhor os artistas,torna-se mais claro entender o processo criativo.É como se a intangibilidade da perfeição das composições naturais, desencadeasse uma inquietação permanente e crescente,um processo de busca sem fim ,uma subordinação dolorosa ao belo e ao único.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

A última aula de Vitorino Nemésio

Há dias fui ao CCB assistir a uma conferência sobre "A última aula de Vitorino Nemésio",dada ,salvo o erro,em 1971.Cheguei atrasado mas,ainda assisti a metade de uma das intervenções,integralmente a outra e à leitura ,por um "diseur",da dita aula.As duas intervenções estiveram a cargo de dois académicos, na mesa mais duas eminências e,está claro,o inefável Mega Ferreira a presidir.Sala à cunha.
Ia ouvindo,ora enfastiado ora mais interessado,e ao mesmo tempo ia deixando que a cabeça se enchesse de impressões do que via e ouvia,tal e qual  uma maré na enchente,com a água a inundar caoticamente  a praia.
Só me lembrava do Nemésio que me entrava em casa há muitos anos via televisão,nas conversas  do "Se bem me lembro".Não o reconheci no que se ia dizendo,não identifiquei a figura que fazia as pessoas apressarem-se ou olhar as horas para não perderem aquela meia hora de conversa, de gestos e esgares,que conciliava o intelectual com o seu povo.Vitorino Nemésio tornara-se popular,identificara-se com o homem/mulher comum,falava de coisas e de maneira que interessava a qualquer pessoa.Agostinho da Silva e José António Saraiva,cada um à sua maneira,também conseguiram a mesma coisa,mais distante,mas ainda assim,Eduardo Lourenço também,só para citar alguns.Estabeleceu-se nestes casos uma simbiose natural,que deverá ser eternamente mantida,relembrada,dinamicamente alimentada.Vitorino Nemésio foi um eminente académico,um intelectual brilhante,mas foi uma figura popular e querida do cidadão comum, precisamente através da expressão do seu universo intelectual.Pode ser homenageado como académico,mas também,e sobretudo,  tem que  ser cultivado como figura popular.Nemésio ainda povoa o imaginário das gerações de meia idade,mas duvido que os mais novos saibam quem ele foi.Não assisti ao documentário que encerrava a sessão,quero acreditar que também tratou do Nemésio popular,porque senão será imperdoável.
Não vejo os homens e as mulheres que vão construindo a memória colectiva deste povo, a serem minimamente lembrados,tratados como o património cultural que foram e  são.Alguns são mesmo apagados,como se não existissem, e em sua substituição proliferam os "Famosos",quais construções artificiais e anedóticas,que vêm do nada e que nada são.
Em Portugal teríamos certamente muito a aprender com os povos que colocam os seus antepassados no presente,extraindo força anímica e lucidez dessa relação.A ausência de um projecto nacional , a falta de mobilização e  astenia popular,enraízam neste esquecimento,nesta falta de consideração a que se votam aqueles que nos constroem.
Ou mudamos ou estamos lixados!Aliás,já estamos...e muito!

jotacmarques









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quinta-feira, 15 de setembro de 2011

O tempo de reflexão

Num momento em que se teme pelo fim do euro e quiçá da Comunidade Europeia,é preciso afastar a cacofonia manipuladora e permanente,e colocar a pergunta fundamental...PORQUÊ E QUEM?Actualmente,com as doses maciças e permanentes de informação/desinformação,em alvoroço histérico e patológico de telejornais gritados  por pivots  excitados ou em capas de jornais próprias de pasquins panfletários ,não há reflexão,não nos é permitida a digestão.O tempo de metabolizar a informação desapareceu,é um frenesim stressante e indutor da superficialidade e da ignorância.Assisto incrédulo a entrevistas, em que o entrevistador cospe perguntas idiotas,tem uma atitude agressiva e não está nada,rigorosamente nada, interessado em ouvir a resposta,cortando e falando por cima.Os debates,com uma ou outra excepção,são lamentáveis,com os intervenientes mais interessados em tempo de antena,em protagonismo,do que em esclarecer seja o que for.

O cidadão comum como eu, só se pode defender desta gigantesca armadilha adoptando a dúvida metódica cartesiana para o que ouve ou lê,como um filtro de purificação,um detector de mentiras ou um tanque de decantação.O objectivo final será sempre o de descobrir o PORQUÊ E QUEM,iludindo toda esta diabólica encenação, que intencionalmente  parece querer-nos ocultar a razão e a autoria  dos desmandos,do mais completo e absoluto desprezo que governantes e parasitas adjacentes manifestam pelos seus concidadãos.

jotacmarques





domingo, 11 de setembro de 2011

Nota introdutória

Ontem fui ao Monumental,fui ver a "Autobiografia de Nicolai  Ceausescu". Fiquei derreado,esgotado,são cerca de 3 horas ,sem intervalo,numa sucessão cronológica de excertos de documentários produzidos pelo regime comunista Romeno.Uma cine-biografia,quase toda a preto e branco,do ditador.Numa realização de grande qualidade,o realizador faz desfilar só  imagens reais,abstendo-se de juízos de valor,remetendo-os inteiramente para o espectador. Talvez o filme mais honesto e decente que vi nos últimos anos.Evidentemente que a megalomania e o esmagador culto da personalidade de Ceausescu  são evidenciados,mas essa foi a realidade pura e dura desses tempos na Roménia.Não fosse o  edifício da Assembleia Nacional o segundo maior do Mundo, a seguir ao Pentágono,não tivesse um quinto de Bucareste antiga sido arrasada para ceder espaço às construções faróonicas do Regime.Nicolai Ceausecu visitou duas vezes a Coreia do Norte,ficando fortemente  impressionado com o ditador Kim Il-Sung e com o seu  modelo de governação assente no culto da personalidade,majestático e imperial,tendo adoptado o estilo.O desfecho da história de Nicolai e de Elena Ceaucescu é trágico,após um julgamento sumário.mais que duvidoso,são executados a 25 de Dezembro de 1989,a única execução de responsáveis comunistas durante e após a derrocada do Bloco de Leste.Suprema ironia para o responsável do comunismo na Europa que mais se destacou da União Soviética,que se manifestou contra a invasão da Checoslováquia pela forças do Pacto de Varsóvia,que fomentou a presença da Roménia em Los Angeles nos Jogos Olímpicos de 1984,que permitiu que o seu país fosse o primeiro do Bloco de Leste a relacionar-se com a Comunidade Europeia.

Fiz este blogue para falar de tudo e de todos,passado e presente,com alguma objectividade e informação,também para me e nos relacionarmos com uma das minhas paixões de vida,de que fiz profissão,as coisas antigas e velhas,sobretudo as ditas antiguidades de sec.XX.,O MODERNISMO dos anos 50,60,70.
São necessárias todas as colaborações...a ver o que dá!


jotacmarques