domingo, 30 de dezembro de 2012

O "Eixo do mal" na praça Tahrir

Há para aí um programa televisivo chamado "Eixo do mal", que passa na Sic Notícias aos sábados a dar para o tarde, onde quatro comentadores debitam regra geral baboseiras que pretendem abordar a política numa lógica de humor. O resultado é mais ou menos desastroso, mas ontem, Clara Ferreira Alves, de longe a mais esperta e assertiva do bando, falou a sério e produziu uma ideia muito interessante a propósito do derrube dos governos impopulares. Disse ela que, na Grécia e em Portugal as manifestações de rua parecem não produzir grandes resultados, já que no primeiro está tudo na mesma e cá não é melhor,  como  se a "normalização" do que é excepcional lhe banalizasse e enfraquecesse o conteúdo. Na opinião da Clara, o que se tem passado  no Egipto na praça Tahrir, onde multidões enormes de populares ocupam dias e dias a praça em protesto contra os governos, até que Mubarak se demitisse, ou, mais actualmente, contra  o presidente Morsi e a lei que lhe confere poderes ditatoriais, tem sido a fórmula de manifestar o descontentamento dos cidadãos que produziu os  resultados mais notáveis relativamente aos objectivos pretendidos.

Ferreira Alves considera que os países Europeus se deviam debruçar com mais atenção sobre estas experiências de cidadania dos povos islâmicos  e aprender com elas. O ocidente que insiste em exportar os seus modelos para todo o Mundo, a maioria das vezes forçadamente e sem resultados animadores, talvez tenha que aprender com as práticas actuais  dos anteriores colonizados, infere-se da posição de Clara F. Alves.

A ideia é interessante e muito pertinente, mas há que contextualizar. De facto, o que se tem passado no Cairo tem contado com a complacência da polícia e do exército, que fazem vista grossa às concentrações populares, ou pelo menos não se abatem ferozmente sobre as pessoas. Em Portugal , na Grécia e em Espanha as coisas não se passam assim, as cadeias de comando político-militares funcionam e ainda não se degradaram como no Egipto. Provávelmente virá a acontecer a implosão das cadeias de comando a curto ou médio prazo, se a situação se degradar muito, as exigências da repressão se acentuarem, e se tornem intoleráveis para a polícia, cujos efectivos também sofrem na pele os efeitos da crise tal qual os demais cidadãos.

Então sim, transformar as praças europeias à semelhança de Tahrir, ou prosseguir o que aconteceu em Madrid nas Portas do Sol, sem que a polícia de choque espanque gente indefesa, é muito possível e desejável.

Até lá continuemos a afirmar a nossa revolta em manifestações de rua, em grandes protesto como o de 15 de Setembro, sem partidos a creditarem e a manipularem o descontentamento.


jotacmarques



     

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

O discurso do nada

Vi e ouvi a recente entrevista feita ao 1ºministro, uma soma de repetições, de frases velhas e estafadas, de teimosias de ignorante, que ignoram  o sentido criativo de governar. Da última vez para esta, não se acrescentou um parágrafo, uma frase , um simples ponto ou virgula ao discurso. O vazio tomou conta de Passos Coelho, que persiste na caminhada fatal, para ele e trágicamente  para nós. É como se  um  tremendo cataclismo se tenha abatido sobre nós e que no final  nada reste.

No mesmo ou noutro dia, o ministro da segurança social esforçava-se afincadamente em justificar a necessidade de reformar o sector. Fechei os olhos, dispus-me a ouvir atentamente, na esperança de identificar uma ideia, uma simples ideia criativa, que contribuísse para o ajustamento  que também eu acho  necessário fazer, o resultado foi desolador. Foi mais uma vez o nada.

Ministros, secretários de estado, deputados, políticos em geral, falam, refalam, trifalam, falarão até ao insuportável, mas produzem mais do mesmo, os da situação e os que se lhes opõem,  nada de novo.

O país paralisou, cristalizou nas posições do governo e da oposição, e a capacidade de  inovar e de criar  teorias, políticas, sociais e económicas para ultrapassar a crise é anémica.

Greves, manifestações, outras milhentas formas de protesto, são absolutamente necessárias, mas só por si não bastam.O aparecimento de novas fórmulas alternativas e viáveis a curto prazo, que se oponham às teorias do governo, é imprescíndivel, já e em força.

De outro modo, a continuar-se na astenia paralisante do discurso do nada do governo versus oposição, tipo os cães ladram mas a caravana passa, vamos morrer a breve trecho, como nação e como país.

jotacmarques