A carga policial sobre os manifestantes em S Bento no passado dia 14 vai alimentar durante dias jornais e televisões. Opiniões sobre a justeza ou não da carga policial, relatos apaixonados de testemunhas oculares, consequências dos acontecimentos, farão a felicidade do exército de comentadores e de opinion makers deste país de paixões.
No entanto, nada de inédito se passou, e certamente que situações idênticas se passarão no futuro próximo se não se aprender nada, polícia e manifestantes, com os presentes acontecimentos.
Durante cerca de duas horas a polícia foi invectivada e vítima de pedradas e de outros objectos de arremesso, sem que tenha havido a detenção dos autores da proeza. Os arremessadores constituíam um grupo de poucas dezenas de pessoas, sitiados nas linhas da frente da multidão presente, cerca de 5 mil pessoas, e portanto fácilmente identificáveis e passíveis de serem detidos antes que as coisas inchassem.
Estes indivíduos achavam-se quase todos mascarados e alguns ostentavam símbolos anárquicos. A polícia tinha agentes à paisana infiltrados na multidão. Dir-se-ia surrealista a situação, em que uns cometeram ilegalidades durante horas, nas barbas de outros que pura e simplesmente deixaram que acontecesse.
A carga policial acabou por desabar, e como em tantas outras vezes foi indiscriminada, quem estivesse à mão levou pela medida grande, velhos ou novos, mulheres ou homens. Depois foi a debandada e as perseguições habituais, e neste caso, património danificado e focos incendiários.
Do grupo dos problemas, trata-se de arruaceiros, que não fazem a mais leve ideia do que é o anarquismo e que pensam certamente que Bakunine é um dos jogadores do Celtic de Moscovo. É gente que gosta da violência pela violência , hooligans que parasitam o justo descontentamento dos povos que estão a ser vítimas das iniquidades das politicas da austeridade. Claro está que, não é de excluir um ou outro manifestante convicto e por regra pacífico, que no auge da confusão se exalte e descontrole e que também atire a sua pedra ou parta o mobiliário urbano.
Do lado da polícia o comportamento é o da falta de discernimento racional sobre quem deve de abater a repressão, o que de resto vem fazendo a regra. Cordões policiais e infiltrados têm que, devem de, deter imediatamente os aprendizes de feiticeiros violentos evitando a escalada dos acontecimentos. Estão lá não para bater indiscriminadamente, mas para evitar que ser chegue a esse ponto, isolando os arruaceiros.
Os manifestantes, vítimas maiores de tudo isto, devem de considerar afastar-se dos arruaceiros e da polícia sempre que as coisas comecem a dar para o torto, ou correm o risco de serem espancados sem terem culpa de nada.
No que diz respeito à hierarquia policial e governativa, o mínimo que se pode dizer é que falharam redundamente. Não é honesto que se venha louvar a actuação policial, que se pautou por falta de prevenção, e por falta de capacidade interventiva durante duas horas sem deter os energúmenos das pedradas. Não há justificação que valha a este comportamento, que acabou por resultar no habitual, carga indiscriminada sobre os manifestantes, devido ao mau desempenho das chefias da cadeia de comando.
No futuro próximo as manifestações e outras acções de protesto vão intensificar-se na proporção das iniquidades da austeridade, a agressividade será crescente, e é de prever o aumento de actos de descontrolo.
Ao habitual e bacoco apelo à responsabilidade, em que por via de regra ninguém assume coisa nenhuma, é urgente que se apele à inteligência. Refiro-me à capacidade intelectual de interagir o raciocínio com a realidade tangível e de adoptar as acções mais harmoniosas e correctas, falo da inteligência emocional óbviamente.
jotacmarques
Ah amigo Carlos, falar de inteligência emocional a um polícia de choque é o mesmo que explicar o princípio da incerteza de Heisenberg a um analfabeto.Bem vê, é muito difícil...
ResponderExcluirAl Kantara é muito capaz de ter razão. E se estamos à espera de algum tipo de inteligência de algum sr. ministro... Mesmo quem achava que estes senhores percebiam pouco de pessoas , do que gostavam mesmo era de contas, começa a ter as suas dúvidas.
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