sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Pedro Abrunhosa e o seu olhar

Vi e ouvi Pedro Abrunhosa a ser entrevistado,foi inteligente,interventivo,culto e destemido.O compositor,é isso que eu acho que Pedro é,e ele também,tem uma obra importante e referencial na música portuguesa,mas o cidadão Pedro Abrunhosa é deveras interessante.Assumiu sem rodeios a importância que os artistas devem ter na intervenção cívica e política,tomou partido contra o atropelo dos direitos dos cidadãos,não quis falar do enigma dos seus olhos,que considerou não ser importante, e não tirou os óculos,simbolizando com isto,o desprezo que deveríamos ter pela intriga e pela coscuvilhise nacional,falou da cultura e foi culto nos argumentos,não se pôs em bico de pés a propósito de si e da sua música.Aconteceu uma entrevista exemplar,na forma e no conteúdo,aconteceu o que eu acho que devia de acontecer na comunidade intelectual e artística.Mas o que mais me alertou, foi a preocupação maior de Pedro Abrunhosa,com a passividade e astenia dos portugueses perante o descalabro do que nos está a acontecer.Sempre me preocupou este fenómeno,uma juventude sem saída profissional,em processo acelerado de emigração,paga miseravelmente,quando não se eternizam os estágios à borla,condenada a viver pior que os pais...não reage,não protesta.Fizeram-lhes a cabeça para aceitarem o inconcebível,a vergarem o lombo à farsa do inevitável,condenaram-nos à impotência da resignação.Os mais velhos andam acagaçados,têm cagaço de falar no emprego,de contestarem,estão acomodados aos seus universos,às suas vidinhas.Eis um povo que só reage de vez em quando,mas que eu sei capaz de se indignar muito,uma gente generosa e corajosa,mas que está numa letargia fatal,subordinada a um destino sem esperança.E no entanto há reacções disponíveis ,sem se cair no exemplo grego,pesadelo de governantes,partidos e sindicatos,é preciso é que as pessoas se auto-organizem para defesa do seu modo de vida,autónomas de partidos e quejandos,se constituam em grupos de cidadãos que se oponham aos abusos,aos dislates do poder político e económico/financeiro,nos empregos,nas escolas,nos bairros.O movimento popular de base, autónomo e independente de partidos e outras formas de poder,capaz de se relacionar no seu conjunto, através de homens-bons escolhidos pelas comunidades,articulado internacionalmente com congéneres,pode constituir a grande alternativa capaz de se opor a este festim de barbaridades contra o povo.Quanto à inspiração anarquista,no verdadeiro sentido do termo,na sua expressão filosófica política e social,não na corruptela abusiva generalizada,não se preocupem,não se rotulem,se calhar já vos chamaram coisas piores.

jotacmarques

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