segunda-feira, 9 de julho de 2012

Coitados dos bancos

Numa altura em que se fala de mais medidas de austeridade por causa do déficit público, nomeadamente estender o corte do subsídio de Natal ao sector privado, convém  mais um olhar sobre a banca e a sua recapitalização.

Está na ordem do dia para alguns comentadores e "opinion makers" independentes ou a soldo,  a vitimização dos bancos. O argumento é o de que os fundos de recapitalização emprestados pelo Estado vão pagar um juro muito elevado, julgo que 8,5% ao ano. O dinheiro reservado para o financiamento à banca tem origem no empréstimo feito ao Estado Português, 78 mil milhões de euros, pelo FMI, a EU e o BCE. O juro a pagar por este financiamento é de cerca de 4%, talvez um pouco menos, donde resulta que os bancos poderão vir a pagar o dobro do valor inicial do juro, se recorrerem aos 12 mil milhões de euros postos à sua disposição. Até à data foram utilizados cerca de 7 mil milhões de euros deste fundo para a recapitalização. Uma perfeita agiotagem levada a cabo pelo Estado sobre a banca, que ganha 100% no negócio e asfixia o sector financeiro, afirmam alguns.

A questão que se coloca é a de se saber onde andou e anda o dinheiro dos depósitos que os bancos administram, e porque é que a banca está descapitalizada. Durante dezenas de anos a banca e os empresários da construção civil amarraram os portugueses aos empréstimos para a compra de casa própria. Várias gerações sem alternativa, o mercado de arrendamento era mais que incipiente, contraíram empréstimos para a vida. Foi um maná para a banca, com clientela certa e spreads altos, que ganhou milhares de milhões, para os construtores que encaixaram outros milhares de milhões e, já agora, para o Estado que recebeu regular e sistemáticamente os impostos e emolumentos destes negócios.

Põe-se portanto a pergunta de onde é que andam as somas astronómicas dos depósitos e das mais valias geradas com os empréstimos para a habitação. Dizem -nos que a banca portuguesa não comprou activos tóxicos, que resistiu bem à crise dos mercados financeiros, que não há problema, que podemos confiar. Só que ainda não consegui entender porque é que as acções do Millenium se têm desvalorizado tanto, a ponto de serem precisas seis para pagar uma bica. Igualmente com o BPI  e o Espírito Santo no que toca à desvalorização das acções. É estranho que tudo corra tão bem e que os bancos valham cada vez menos. Também não entendo, o problema é certamente meu , como é que está tudo tão bem e os bancos andam há mais de um ano a ser financiados pelo BCE,  porque no mercado financeiro internacional não há quem lhes empreste dinheiro. Por fim temos esta questão do Estado português que foi  intervencionado, actualmente somos um protectorado e não uma nação independente, para obter dinheiro que devia ser aplicado na recuperação da economia, e emprestou mais de 15% do valor total do empréstimo aos bancos, para estes continuarem a não financiar a economia. Querem o dinheiro para quê?

Ponho-me a cogitar se não será para tapar grandes buracos, perdas enormes em negócios especulativos, para pagar remunerações e prémios escandalosos aos gestores e mordomias inacessíveis ao comum cidadão.

Cá por mim só vejo solução com a nacionalização integral da banca. Nem mais, resolvia-se o problema do Banco de Portugal, que já foi enganado várias vezes, fora as que não sabemos, canalizava-se o dinheiro para o investimento na economia , era possível controlar as remunerações escabrosas, praticavam-se spreads decentes, enfim, punha-se a banca ao serviço de quem deve estar, as pessoas.

Claro que os accionistas, que é quem deve capitalizar os bancos privados e não o faz significativamente, iam gemer. Mas há que escolher quem geme, tomar partido, ou eles, uma escassa minoria de poderosos, ou nós, o povo, que já andamos a gemer há muitos, mas mesmo muitos anos.

jotacmarques


      

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