Não me lembro de assistir em tempos anteriores a que as pessoas pusessem tão em causa a sua dignidade por insignificâncias. Actualmente observo com frequência situações e actos indignos que anteriormente eram raros e excepcionais. Quase todos se relacionam com a posse ou a pretensão a bens materiais. A crescente tendência predominante de se considerar alguém pelo que possui em vez do que é, de se valorizar o ter em vez do ser, está na origem da perda constante e exponencial da dignidade humana. Na política ter poder e influência é o mais importante, o objectivo superior para quase todos, resultando situações deploráveis como a de Miguel Relvas. A ganância pelo poder e pelo dinheiro comandam actualmente as acções de uma elite que contagiou a sociedade em geral . Há uma perda muito grave dos valores éticos e morais, operada através do relativismo e do individualismo, geradores duma certa anarquia social de valores que em última análise redunda no salve-se quem puder que eu já me safei. A prazo, a sociedade encontrará novos códigos de comportamento, não sei se melhores ou piores, mas o processo histórico é revelador desse processo. A dinâmica do processo histórico social estabelece ciclicamente novas ordens de valores éticos e morais, não há a mínima dúvida, mas a questão reside mais nos iatos anarquizantes do que no resultados. No presente, vive-se precisamente um desses momentos de instabilidade dos códigos anteriores e a incerteza do que virá, situação muito favorável para os oportunismos e oportunistas duvidosos.
Nestas alturas de desgoverno a busca por personalidades providenciais, salvadores, é históricamente uma constante, mas na generalidade os resultados têm sido catastróficos. Há no entanto pessoas exemplares, moral e éticamente superiores, que têm servido e servem como símbolos de identidade e de identificação. Foi assim com Gandhi e com a generalidade dos notáveis religiosos e é assim com Nelson Mandela.
Mandiba, como é carinhosamente tratado Mandela, nome do clan donde descende, ou Tata , como também é conhecido e significa pai, é um ser de excepcional craveira ética e moral, sobreviveu a 27 anos de cárcere na África do Sul por uma causa justa, a reconstrução de um país com direitos iguais para toda a gente independentemente da côr e das origens. Nelson Mandela é também uma referência na defesa da paz entre povos e nações.
A Natureza encarregou-se de o manter vivo e com uma provecta idade, ele tomou a cargo a tarefa de fazer da sua existência um exemplo de dignidade.
Mandela é o elemento de identificação por excelência de uma vida digna, no considerando de que a dignidade é o valor ético mais importante e fundamental. O seu percurso de vida fez-se na afirmação do ser e não do ter, é uma inspiração nuclear do código de valores que deve e tem forçosamente de presidir à organização social, sob pena de perecermos enquanto seres gregários se rejeitarmos este corolário.
Homenagem à dignidade de Mandela!
jotacmarques
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