sexta-feira, 1 de março de 2013

Imperdoável

 Há quase quarenta anos que vou a manifestações. Não é uma actividade que me dê especial prazer. Não me entusiasmam particularmente multidões, apertos, palavras de ordem, cartazes, bandeiras, etc. 

Acontece porém, que só o povo na rua é eficaz na demonstração do apoio ou não às políticas dos governos. Os governos, geralmente , reputam-se de legítimos durante os quatros que duram as legislaturas, e sem dúvida que é assim, mas a legitimidade requerida advem do cumprimento estrito e escrupuloso dos programas eleitorais, acabando quando se pisa o risco e se quebra a regra de ouro da observância rigorosa das promessas eleitorais.

Neste caso, muito frequente nos dias de hoje, o pacto entre os eleitores e os os eleitos quebra-se e a legitimidade democrática deixa de existir. Por mais que deputados e ministros berrem que só no final do mandato é que devem de ser avaliados em novas eleições, eles e nós sabemos que se trata de uma mistificação, duma treta grosseira para se manterem no poleiro, quando o povo  protesta na rua  às centenas de milhar contra as políticas implementadas.

O nosso modo de vida está a ser completamente desmantelado, está em curso uma revolução palaciana ultraliberal, que no ambiente confortável dos gabinetes dos ministérios é programada e posta em prática diáriamente e que tem por objectivo substituir o  "Estado social" , construído nos últimos quarenta anos, por um modelo minimalista e entregar aos interesses privados sectores estratégicos da economia nacional. 

O recuo civilizacional  é evidente, cortes sociais, salariais, privatizações a favor de oligopólios poderosos, nos transportes, na saúde, nos seguros, etc, impostos insuportáveis , corrupção a cada esquina, oligarquias de poder instaladas, económicas e políticas, passaram a integrar o quotidiano do cidadão comum. A complacência do governo,  a participação activa na catátrofe e a traição ao programa eleitoral,  já lhe retiraram há muito a legitimidade democrática. Os governantes não podem sair à rua sem serem vaiados e insultados, greves e manifestações quase diárias, artigos em jornais, entrevistas, blogues, facebook e outras plataformas, dão conta do descontentamento geral e da oposição a este governo.  

De forma que, mais uma vez, amanhã, lá estarei no Marquês de Pombal às 16h, para protestar. É claro que tinha coisas mais agradáveis para fazer, o dia até deve de estar bom, e tu também és capaz de pensar assim, mas será imperdoável se cederes a tentatações e não fores ao Marquês, saibas ou não de política, memo que te interrogues se vale a pena. É que a escolha reside entre seres livre ou viveres como os chineses, e como diz o povo, o que tem que ser tem muita força.

jotacmarques



 

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