sexta-feira, 15 de março de 2013

Incapacidades

Hoje, ao ouvir o ministro das finanças a propósito da 7ª avaliação da "troika",  assisti ao maior exercício de incapacidade de um governante como jamais assisti anteriormente desde o 25 de Abril. Gaspar já não é o patusco engraçado e exótico dos primeiros tempos, deixou de ser o cromo com quem se condescendia, Gaspar é o rosto de um governo esgotado e completamente desorientado, incapaz de resolver os problemas do país. Rodeado por secretários de estado cinzentos e deprimidos, expôs durante longos e penosos minutos o quadro catastrófico em que o país se encontra e permananecerá nos próximos anos. Usou dum "economês" gongórico para desfilar números e percentagens, "ratios" e curvas, baralhou e voltou a dar três valores do déficit de 2012, corrigiu em baixa  previsões anteriores, tem mais um ano mas não se trata de mais tempo, tudo para confusamente nos dar conta do que todos já sabíamos , a situação económica é uma castátrofe e vai piorar. 

 As soluções são mais do mesmo, agora até  2015  pelo menos, e de certeza durante muitos mais anos se fossem reeleitos. Gaspar, em nenhum momento, mesmo no período de perguntas e resposta pôs em causa o modelo e o desempenho do governo, antes pelo contrário, gabou o estrito cumprimento do acordo, mitificou o regresso aos mercados como sendo obra do governo e transferiu as causas dos insucessos para a conjuntura recessiva internacional.

No período das respostas aos jornalistas, Gaspar esquivou-se ao compromisso com as futuras medidas de austeridade, e os secretários também, ficando nós  a saber que eles não fazem a mínima ideia de nada, que vão estudar e depois dizem.

Neste miserável cenário, ninguém teve a honestidade de reconhecer que o famoso modelo de recuperação económoca e orçamental é uma aberração irrealista cujos brilhantes resultados já tínhamos visto na Grécia, ninguém foi capaz de reconhecer que não acertam  uma única previsão e uma única meta a que se tivessem proposto, e finalmente, ninguém foi capaz de assumir que, assim sendo, são um bando de incompetentes, um bando de inconscientes que deram cabo da vida a milhões de pessoas e que têm que ser corridos, já que por "motu" próprio não vão sair.

É neste contexto de incapazes, que nos confrontamos com outras  incapacidades nacionais, a saber, o presidente da república, incapaz de produzir o que quer que seja para resolver o imbróglio, a assembleia da república, dominada pela maioria  que sustenta o governo incapaz e onde proliferam as incapacidades da oposição de se constituir em alternativa, os tribunais em geral com um tribunal contitucional incapaz de produzir em tempo razoável um juízo sobre as iniquidades do orçamento para 2013,  e porque não, a nossa própria incapacidade, enquanto povo,  que deixámos que uma "nomenklatura" de alguns milhares nos tenha conduzido até aqui.

Não é descabido considerar que o quadro intitucional da democracia representativa portuguesa não está neste momento capaz de gerar uma solução séria e eficaz para os nossos problemas e que consequentemente, possam aparecer receitas perigosas, quer do tipo populista  do comediante italiano, quer do tipo das erupções de violência inconsequente já vistas na Grécia.

Umas e outras não acrescentam nada á resolução dos problemas, poluindo e agravando o cenário já existente.  Os povos têm sido, históricamente, sempre capazes de encontrar alternativa  ao que não está bem. Nós temos exemplos anteriores em  que gerámos dinâmicas colectivas e pessoais capazes de  organizar novas realidades políticas, sociais e económicas. Não muito longe, o 25 de Abril foi um desses momentos, lá mais para trás no sec.XIV, a crise de 1383-85 foi outro, e outros mais se encontrariam. Não há razão nenhuma para que não sejamos capazes de o voltar a fazer....talvez estejamos demasiado aparvalhados e desorientados com o que nos aconteceu !

jotacmarques






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