Vejam a peça no Dona Maria.Não sou um frequentador assíduo do Teatro, vou mesmo muito raramente,mas fui ver esta peça e gostei,saí com a sensação confortável da harmonia de um trabalho colectivo.Se alguma coisa tenho a dizer a propósito,é que os actores,ou melhor,as actrizes,estão umas para as outras,como o azul para o ouro,há harmonia no desempenho.A encenação não me pareceu ambiciosa,pende para o coloquial,para a facilidade de um público mais abrangente.Por mim ainda bem,que tenho dificuldade em linguagens herméticas.A geringonça que domina o espaço cénico,uma enorme caixa com diversos mecanismos de abre e fecha,estende e encolhe,tem imaginação,mas funcionalmente é um desastre,levando os actores ao limbo da confusão,muito ao género de terem que pensar antes de se moverem.Guarda roupa muito vulgar e a assentar mal no corpo.Já agora ,seria conveniente uma climatização mais correcta da sala.
O trabalho dos actores corrige os defeitos tornando-os desprezíveis.Custódia Gallego,que eu não conhecia,óptima, compõe uma mulher complexa,Petra,numa deriva entre o excesso do ego e o abismo da não existência,
dando conta desta esquizofrenia da condição humana entre a grandeza e a miséria de espírito.Isabel Ruth,de presença muito forte,encarna a mãe,uma mulher mundana,distante e egoísta,numa conseguida representação,contida e introspectiva.Inês Castel-Branco é Karin Timm,e constrói muito bem a personagem, à volta da mulher superficial, afectivamente dividida e indecisa.As restantes três actrizes acompanham cabalmente.
A actualidade da temática da peça mantém-se passados que são 40 anos,ainda que as questões mais presentes que se colocam ao lesbianismo sejam outras.
Mais uma vez dou por mim a pensar na relação da arte com a transcendência,neste caso com a natureza humana, imenso desconhecido inatingível e por isso transcendente.
jcmarques
Concordo consigo, gostaria talvez de um pouco mais de contenção - que nem sempre significa hermetismo. Pelo contrário percebe-se ( quem vê) tudo, se o actor utilizar a emoção com parcimónia ( como quando se chora sem berrarias);quem se emociona é o espectador.
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