terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Inversão

Os franceses e os alemães chegaram a acordo sobre o que se deve fazer para atenuar a crise das dívidas soberanas e salvar o euro.Os jornais não falam de outra coisa,alguns até ironizam com a capitulação de Sarkozy face a Merkel.De entre as medidas acordadas, realço o mecanismo automático de sanções para quem pisar o risco dos 3% do deficit imposto pelo "pacto de estabilidade",e o papel de vigilância no desempenho orçamental a cargo dos Tribunais Constitucionais de cada país.Claro que quem defende que só se deve gastar o que se tem,que o endividamento sistemático e sem fim é insuportável,tem que concordar com estas medidas.Tratam-se de imperativos da boa gestão que resistem solidamente à controvérsia das ideologias.A questão central de tudo isto não reside nesta ou naquela medida,que consideradas individualmente são válidas,mas no modelo adoptado para resolver a crise.Aí sim,a concepção politico-ideológica é fundamental,é a determinante do modelo social e económico que se desja.
Decididamente rejeito o modelo ultra liberal que nos estão a impor,de empobrecimento rápido e generalizado,contraposto ao enriquecimento cada vez maior do capital financeiro especulativo.A ideia é a de fazer recuar os padrões de vida de alguns estados europeus 30 ou mais anos,e ainda por cima, numa expiação dos excessos pecaminosos desses países,que em última análise contribuíram para a fartura de outros,vidé o caso da Alemanha.A Economia começa e acaba na satisfação das necessidades da pessoa,e por isso mesmo, ética e moralmente não deve ser um instrumento de gritantes desigualdades,como está a acontecer cada vez mais.Cabe aos povos, quando a subversão deste princípio acontece,inverter a situação,assumindo claramente a ruptura com os políticos e a política responsáveis pelo facto.

jotacmarques

2 comentários:

  1. Sempre se percebe mais qualquer coisa por aqui.
    Bem haja!

    Como é que se assume a ruptura em 2011 quase 12 ?

    Fui leiloando todas as armas que tive e agora estou desarmada...sem rumo e sem caminho.É o que pensa a gente.

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  2. Nos tempos que correm, assumir rupturas é cada vez mais um acto individual.A organização colectiva tradicional da contestação e da resistência numa sociedade de individualismos,é cada vez complicada porque as instituições tradicionais de oposição aos poderes,sindicatos,partidos políticos,associações profissionais,etc,estão cedendo terreno e eficácia a outras formas de intervenção,que utilizam redes sociais e novas tecnologias para convocarem os cidadãos.Estes movimentos,adoptando novas linguagens e meios de comunicação,estão rapidamente a substituir discursos antigos,repetitivos e desactualizados,que parecem não compreender as dinâmicas actuais e eternizam estratégias cada vez mais desajustadas e menos sedutoras para a população mais jovem.O recente fenómeno da "geração à rasca",nascido da convocação de um grupo de cidadãos jovens através do facebook,ou outros através de sms,originaram enormes manifestações de rua,que dificilmente aconteceriam com partidos ou sindicatos.Parece tratar-se de um reinventado processo de exercício da cidadania ,muitíssimo eficaz,que as organizações tradicionais temem e ostracizam.Os elemento agregador dos aderentes ao fenómeno não é ideológico e aparece pontualmente.O movimento dos "indignados"de abrangência mundial,e particularmente forte em Espanha e nos Estados Unidos,aparece mais persistente e duradouro e já com conteúdo político-ideológico,pondo em causa as desigualdades geradas pelo sistema capitalista.Na Grécia, a contestação, parece-me,visa a catástrofe económico-financeira nacional e as medidas restritivas adoptadas,e é portanto mais circunscrita do que a dos "indignados".A ruptura está a aparece deste modo,e os cidadãos comuns que se indignam ,têm que estar atentos,informar-se e participar activamente neste movimento.Petições públicas,voluntariado em acções de carácter social,são formas participativas da cidadania.Os cidadãos estão a ser convocados para a intervenção cívica,a retomarem a gestão das suas comunidades e interesses,por muito que isso custe aos partidos políticos e ás suas clientelas parasitárias,e no entanto mantêm a sua autonomia e individualidade.A acção individual politico-ideológica, junto de familiares,amigos,colegas,etc,não tem menos importância do que as demais,e é um imperativo actual.

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