domingo, 18 de março de 2012

Alentejo da minh'alma, tão longe me vais ficando...

Nasci em Lisboa mas adoptei e fui adoptado pelo Alentejo,habituei-me há muito aos excessos do frio e do calor,à paisagem a perder de vista,verde e amarela,ao branco que chega a ferir,aos azuis e aos ocres que emolduram,às cidades prenhes de passados,belas e humanas,às vilas e aldeias do silêncio, ao correr lento do tempo.Gosto das conversas que se arrastam, mansas e de gerúndios,histórias de lavouras e bichos,de dificuldades passadas e presentes,sem queixume,apenas contadas,sobre os os estão e os que foram,gosto desta gente humilde e digna,que sabe que o tempo é coisa que não se perde,que olha o céu e profetiza sol e chuva,suão e trovoadas,que se faz perder, olhando calados a imensidão da planície.Mas o  Alentejo vai-me ficando mais longe,quando se foi o meu querido amigo  Ti  Joaquim,corpo franzino,arqueado e moído de servidões de uma vida, falar doce  de corruptelas linguísticas, sempre espantado com a originalidade das encomendas do Eduardo,ou quando também se foi o meu vizinho Elias, o poeta de lengalengas demoradas,de caçadas sentado à espera da presa,que as pernas o atraiçoaram,de pescarias em barragens, na sombra de sobreiros e azinheiras, na companhia do  amigo Zé,ou ainda quando  partiu  o Raspa,também poeta,este de obra publicada,barbeiro,agricultor,homem de mil trabalhos,fala fácil de histórias de Lisboa,mas regresso à terra para ser velho.O Alentejo da minh'alma ainda me ficou mais longe,ao saber que ao "o meu fiel jardineiro"lhe falhou o coração,que tem dificuldade em falar e reconhecer,e que eu se calhar não volto a que me chamem"patrão",que o Ti Domingos,o "Farela como também o conheciam,já não me tira mais do sério,ao podar as laranjeiras à maneira das azinheiras e das oliveiras,antes o continuasse a fazer,laranjeira eu fosse.

jotacmarques 

2 comentários:

  1. Ficam as memórias e as marcas que, por mais que se dissipem com o passar do tempo e das gerações, não se perdem, nunca desaparecem por completo.

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  2. Eles morrem e muita servidão é herdada. Antes escravo que sabujo Isto é para o post anterior, claro...

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