Aconteceu-me,na passada semana,ir duas vezes à zona de Rio Maior.Uma à aldeia natal do poeta Ruy Belo,onde se comemorava o dia do seu aniversário,e a segunda à festa das tasquinhas em Rio Maior.Não sou dado a efemérides e sempre mantive uma antipatia visceral por Rio Maior, a partir do dia em que inventaram a célebre moca.Lá fui no entanto à aldeia de S.João da Ribeira,acompanhar a minha querida amiga Teresa,viúva do poeta,assistir à inauguração de um painel de azulejos com poesia do Ruy.Houve romagem ao cemitério local,à campa do poeta,e em alturas solenes foram ditos poemas,e muito bem ditos, registe-se.Havia meninos da escola,autoridades autárquicas,e povo,muita gente presente.Os habitantes locais são de uma simpatia contagiante,de relação muito fácil,e por isso,estabeleci rápidamente empatia com aquela gente.Trata-se na sua maioria de gente simples,pouco intelectualizada,felizmente quero acrescentar,mas com um conhecimento da obra poética de Ruy Belo,que me deixou impressionado.As pessoas dinamizadas pelo seu presidente da junta de freguesia,trouxeram a poesia para sua vida,têm Ruy Belo nas paredes e nas cabeças,e também nos corações,fundo nos corações.Aqui as coisas bateram certo,a obra do poeta anima a vida do seu povo,e o povo evoca o seu poeta descobrindo a sua obra.Alguns dias depois,voltei à região,desta vez a Rio Maior à festa das tasquinhas.A poucos quilómetros da cidade estão as salinas,um lugar mágico, de uma nostalgia tocante,com os seus armazéns de sal em madeira,construções simples que se alinham em ruas e ruelas onde imagino contos fantásticos da minha infância.Na biblioteca pública em Rio Maior,fui ver um painel mural encomendado pela autarquia a um "grafitter" conceituado.A obra consiste na escrita a preto sobre branco,com letras enormes,de um verso de um poema de Ruy Belo,e tem sido objecto de grande polémica entre os habitantes da cidade.Apesar de ter gostado,confesso que não seria a minha primeira escolha,no entanto agrada-me a provocação.Conseguiu-se aqui um dos objectivos fundamentais da criação artística,a polémica instalou-se,houve quem ficasse desassossegado e outros nem tanto,através da arte instigou-se o debate,abalou-se o "status quo" do conformismo e do politicamente correcto.
Com estas duas pequenas e simples idas ao concelho de Rio Maior,em primeiro lugar,pulverizou-se o meu preconceito de antipatia de muitos anos,depois,reforcei a minha antiga convicção,de que foi e é o poder autárquico que fez e faz este país, finalmente,colhi exemplos muito válidos de que é possível que o povo simples se interesse pela cultura passada e contemporânea,assim os seus representantes sejam capazes de promover e executar bem, iniciativas que vão ao encontro dos interesses das pessoas.
jotacmarques
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E o poeta bem merece ser amado por quem ele tanto amou.
ResponderExcluirParabéns pelo novo visual.
O novo visual está muito bom. Aliás, reflecte a qualidade do que aqui se escreve, que merece ser lido sem ficarmos com dores nos olhos! Obrigada por continuares a escrever e agora incentivares (ainda mais) a leitura deste blog.
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