sexta-feira, 16 de março de 2012

Política da irreverência,precisa-se

Abbie Hoffman é um nome que não deve dizer nada à maioria das pessoas, recentemente  passou nos canais tvcine da zon,  um filme chamado"A geração hippie",que trata de maneira  rápida mas esclarecedora da biografia deste americano, que viveu de 1936 a 1989 e foi um dos mais destacados fundadores do Youth International Party ("Yippies").Abbie foi um personagem muito polémico,que recorreu ao LSD e outras drogas,como método de afirmação e potencialização das suas ideias e  acções,foi preso inúmeras vezes,condenado em tribunal,foragido,foi ferozmente perseguido pelo FBI,que o considerava  uma grave ameaça à segurança nacional,em 1980 foi-lhe diagnosticada uma patologia bipolar,morreu em circunstancias misteriosas, sendo provável  o  suicídio, com a ingestão de bebidas alcoólicas e de mais de cem comprimidos.Foi um revolucionário que lutou pelos direitos humanos das minorias e das mulheres,defendeu uma redistribuição mais equilibrada do rendimento,protestou contra a CIA e as ilegalidades por esta cometidas,advogou uma maior limitação e controle dos poderes policiais e institucionais,mas foi a luta contra a guerra no Vietname que o tornou mais visível e conhecido.Abbie Hoffman foi um personagem absolutamente incontornável do movimento contestatário norte americano e mundial,com especial importância nas décadas de 60 e 70 do século passado,digno do respeito e admiração daqueles que consideram que o mundo não é uma quinta dos poderosos, que têm nos governos, os servidores institucionais para o gerirem em seu benefício.Abbie assumiu-se como um agente da contracultura,um transgressor do  "establishment",introduziu na sociedade americana dúvidas sobre as verdades oficiais e os preconceitos,angariando centenas de milhares de pessoas para as suas causas,servindo-se frequentemente para as publicitar,de dramatizações surrealistas e desconcertantes,que interessaram os mais jovens.Interrogo-me se a sua infeliz doença bipolar,não contribuiu para esta capacidade de utilização do surreal na política,para uma atitude de relativização das consequências,quer dizer,do que de mau lhe poderia acontecer a nível pessoal.Esta liberdade de pensamento e de acção,o saudável desrespeito pelas convenções ,o desafio permanente à autoridade institucional,mostram que Hoffman tinha uma concepção dinâmica,inovadora e criativa de fazer política.Diria que, o que o  interessou foi mudar a realidade social através da "política das causas",independente tanto quanto possível dos partidos institucionais,e resultou,o fim da guerra no Vietname,imposto à administração Nixon,provam-no.
Quando penso na actualidade,parece-me  que,passados 40 anos, muitos dos  problemas de então permanecem na mesma ou piores,e que as gerações mais novas estão condenadas a um mundo medíocre e injusto,ficando-se por uma resignação paralisante,mas por outro lado,ao recordar Hoffman,anima-me a esperança  de que actualmente também haverá  gente capaz de liderar causas justas,de reinventar a política,de chegar aos outros estabelecendo objectivos e definindo estratégias modernas e inovadoras,eles vão aparecendo,é preciso é sair da letargia e apoiá-los.

jotacmarques
 

Um comentário:

  1. É preciso ser um pouco de bruxo e um pouco mártir para sair da manada. Despir o fatinho e a gravata, ter asas e abandonar a zona de conforto não é para todos. Há poucos - mas que las hay, las hay- quando aparecem são desvalorizados/as. Não vendem, que é o que vale por aqui.

    Talvez este post seja uma inspiração...

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