quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Agonia

Vítor Gaspar falou ao país! Brincou com os seus queridos modelos teóricos, viajou por percentagens e números, juntou muitos gráficos que nós não vimos em casa, falou de êxitos fantásticos que ninguém conhece, regozijou-se com a confiança que os mercados têm em Portugal, exultou com pagamentos adiados de que vamos pagar mais juros, e todo este aparato para dizer o que toda a gente já sabia, vamos pagar mais impostos. Desde que que o governo tomou posse tem sido sempre assim, os êxitos são de arromba, mas é preciso mais dinheiro, pagamos  mais sempre que um governante vem falar à população.

Sobre os rendimentos do trabalho, Vítor sabia bem o que fazer, reescalonamento do IRS, taxas extraordinárias mais altas, corte de subsídios, mas no respeitante ao capital, que sim, sim senhor, umas coisas, mas iam ver melhor, depois diziam mais quando se discutisse o orçamento. Incisivo para os trabalhadores, vago para o capital, o habitual.

O ministro das finanças parece que estava numa reunião de técnicos, esqueceu-se de que falava ao povo. O intrincado, a renda era tão de curvas e gráficos, a linguagem tão hermeticamente cifrada, o põe ali tira daqui foi tão complicado, que o povo deve  ter ficado na mesma, ou melhor, ficou pior, mas nem se deve ter apercebido bem. O curioso é que o povo não é burro, o que coloca a questão de quem é a culpa de pouco se ter percebido da comunicação. Seguramente que foi do ministro, que colocou no discurso tanta complicação, tantas variáveis técnicas, que das duas uma, ou não consegue adaptar a linguagem da mensagem ao receptor , um problema de comunicação, ou a complicação é propositada. Acredito  que seja a segunda, o governo precisa de criar diversões que afastem as pessoas da compreensão do verdadeiro problema.

O verdadeiro problema consiste num modelo de ajustamento financeiro e orçamental baseado na austeridade e na desvalorização do factor trabalho. Trata-se das teses neoliberais, assentes nas doutrinas ultra-reaccionárias da Escola de Chicago, cujo mentor Milton Friedman foi chamado pelo ditador Augusto Pinochet para aplicar o seu modelo económico ao Chile. O que levaram a cabo foi o desmantelamento da economia de inspiração socialista de Allende e da sua substituição pelo modelo liberal, que disponibilizou o país para os grandes grupos norte-americanos.

Entretanto, não se conhecem países que tivessem saído de crises por via do modelo de Friedman. Actualmente, os estados sociais europeus estão a ser campos experimentais para a teoria, e até agora o que temos é o que já se viu nos anos 70 no Chile, a destruição das estruturas sociais do Estado, as quedas brutais na actividade económica e nos recursos da população, as privatizações em massa de empresas estratégicas e a sua venda aos interesses económico-financeiros privados nacionais e internacionais.

O modelo neo-liberal é  completamente desprovido de sensibilidade social e intencionalmente promotor de taxas elevadas de desemprego, no pressuposto de que quanto maior a oferta da força de trabalho mais baixo  o seu valor , e vive de modelos de fé, concretamente, a crença inabalável nos mercados que tudo ajustam e regulam com justiça e benevolência. O corolário consiste em que o que é bom para os mercados é bom para as pessoas, sem tomar seriamente em consideração as enormes manipulações especuladoras a que os mercados são sujeitos a toda a hora.

Os portugueses e outros povos europeus estão debaixo do fogo dos agentes desta teoria, os resultados de ano e meio deste governo estão à vista,  se quisermos aliviar a pressão temos que nos ver livre de Passos Coelho & companhia.  A ilegitimidade do governo é patente, prometeu e não cumpriu, tem feito exactamente o contrário do que os seus  eleitores esperavam, é incompetente, as suas previsões são geralmente erradas e não alcança as metas a que se propõe, é irresponsável,  a culpa nunca lhe pertence, ele está certo e  o povo é que não se comporta conforme o esperado, vide o caso da TSU que é uma medida extraordinária, sublime, mas que os empresários ignorantes não compreendem o alcance, finalmente ,conta na sua composição com gente pouco recomendável, que todos sabemos quem são.

Com este cadastro não vejo razões para que continuem!

jotacmarques



  

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