quinta-feira, 7 de junho de 2012

A anestesia do medo

Vive-se com medo outra vez. Receia-se o presente, o futuro, o patrão, os colegas, o desemprego, tomar posição,  um rosário de inseguranças perturbadoras reinstalou-se na sociedade portuguesa. A comunicação social  martela-nos  com   pessimismos e  desgraças. O Estado é invasivo da privacidade dos cidadãos,  temos números para  tudo, de contribuinte, da segurança social, de identidade, espiolha-nos a conta no banco, escuta-nos o telemóvel, viola-nos os emails. É um sem fim de atentados à liberdade individual. O direito fundamental de se viver num saudável anonimato, sem dependências de cartões de crédito, de débito, da Brisa, do Continente, da Zon, de tudo e mais alguma coisa,  foi suprimido radicalmente. Mesmo eremita ou anacoreta corre-se o risco de ser controlado por satélite. 

O cidadão nunca sabe que praga se pode abater sobre si neste universo de vigilância  e de controle sobre os seus movimentos e acções. Em consequência sente-se intimidado, vive com medo de prevaricar e ser punido. Não sabendo bem até que ponto é  controlado e por quem,  torna-se desconfiado e manhoso.
A política  do terror do período da ditadura, assumiu outra face, exerce-se mais  sofisticada, o Estado   vigia e controla para proteger o cidadão, um mal menor para atingir um bem maior, a segurança e o bem estar dos indivíduos.

Canalizam-se as tensões para o futebol e outros mega acontecimentos, desviando-se a atenção do essencial.  Existe uma central de gestão das pulsões sociais que não interessam ao poder, que age no sentido de anestesiar as pessoas desviando-as da contextualidade política dos seus problemas reais.

Conta-se que em 1640, D. Filipa de Gusmão mulher do Duque de Bragança, o  futuro rei D.João IV, perante os receios  do marido em assumir a liderança da revolta contra os espanhóis, lhe disse que mais valia ser raínha por um dia do que duquesa toda a vida. D.João resolveu-se e o resultado foi a restauração da independência nacional.

A coragem de D. Filipa é um bom tema para meditarmos.

jotacmarques

    

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