Vive-se com medo outra vez. Receia-se o presente, o futuro, o patrão, os colegas, o desemprego, tomar posição, um rosário de inseguranças perturbadoras reinstalou-se na sociedade portuguesa. A comunicação social martela-nos com pessimismos e desgraças. O Estado é invasivo da privacidade dos cidadãos, temos números para tudo, de contribuinte, da segurança social, de identidade, espiolha-nos a conta no banco, escuta-nos o telemóvel, viola-nos os emails. É um sem fim de atentados à liberdade individual. O direito fundamental de se viver num saudável anonimato, sem dependências de cartões de crédito, de débito, da Brisa, do Continente, da Zon, de tudo e mais alguma coisa, foi suprimido radicalmente. Mesmo eremita ou anacoreta corre-se o risco de ser controlado por satélite.
O cidadão nunca sabe que praga se pode abater sobre si neste universo de vigilância e de controle sobre os seus movimentos e acções. Em consequência sente-se intimidado, vive com medo de prevaricar e ser punido. Não sabendo bem até que ponto é controlado e por quem, torna-se desconfiado e manhoso.
A política do terror do período da ditadura, assumiu outra face, exerce-se mais sofisticada, o Estado vigia e controla para proteger o cidadão, um mal menor para atingir um bem maior, a segurança e o bem estar dos indivíduos.
Canalizam-se as tensões para o futebol e outros mega acontecimentos, desviando-se a atenção do essencial. Existe uma central de gestão das pulsões sociais que não interessam ao poder, que age no sentido de anestesiar as pessoas desviando-as da contextualidade política dos seus problemas reais.
Conta-se que em 1640, D. Filipa de Gusmão mulher do Duque de Bragança, o futuro rei D.João IV, perante os receios do marido em assumir a liderança da revolta contra os espanhóis, lhe disse que mais valia ser raínha por um dia do que duquesa toda a vida. D.João resolveu-se e o resultado foi a restauração da independência nacional.
A coragem de D. Filipa é um bom tema para meditarmos.
jotacmarques
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