segunda-feira, 4 de junho de 2012

O que fazer?

Há semanas que não me dá para escrever! Informo-me quanta basta, vejo e oiço com dificuldade os telejornais de desgraças, as notícias radiofónicas numa cacofonia de ditos e desditos, de previsões feitas e desfeitas, sempre para pior e cada vez mais. Que raio de modelos estes, os económicos, com que o governo trabalha, que apesar dos elogios da troika pelo empenho exemplar  nas medidas  de reequilíbrio orçamental e recuperação económica, redundam sempre na desvalorização dos índices indicativos do estado da economia. Aumenta escandalosamente o desemprego, os juros da divida sobem, as receitas dos impostos diminuem apesar das taxas que se agravaram, o financiamento à economia não existe, o investimento é uma miragem. Estará o problema nos modelos ou nos seus executores?

Em ambos julgo eu! Os modelos não passam de elaborações teóricas abstractas, congeminadas no conforto dos gabinetes  por nomenclaturas do ultraliberalismo monetarista, modelos pouco ou nada experimentados anteriormente, aplicados friamente sobre pessoas de carne e osso, em que os que vão à falência empresarial e familiar, os que são atirados para o desemprego, se consideram danos colaterais, fatalidades incontornáveis da reorganização e revitalização económica e financeira.
Os executores, governantes e técnicos, perante  o descalabro dos índices, fazem e refazem projecções e previsões, dizem-se surpreendidos com a taxa de desemprego, aumentam a dose ao garrote da austeridade fazendo ainda mais negra a vida  às pessoas. Inventam justificações idiotas para os desaires e  remetem para a crise internacional as causas da catástrofe.Andam à nora, é o que é, estão completamente desnorteados! Na Europa não é diferente, é ver o rol de medidas que não resolvem nada, as delongas, a tibieza das soluções e sobretudo o desnorte no encontro da unidade ente os parceiros da UE. É um espectáculo degradante e miserável assistir-se na União Europeia aos países a puxarem a brasa à sua sardinha e a descolarem-se dos mais débeis, anunciando histérico de  que não são como estes.

Perante este cenário desolador, interrogo-me sobre o que é que posso fazer. O discurso mais frequente do " tem-se que", sem se denominar quem é que tem que, impessoal e etéreo, é recorrente nos debates televisivos e afins,  mas na prática não leva a nada. De forma que sendo fundamental encontrar os agentes da acção, vamos começar por nós, cada um individualmente e na articulação com o outro. Falo evidentemente no exercício da cidadania, na negação do inefável conformismo do"não posso fazer nada" transversal na sociedade portuguesa. A história do voto de 4 em 4 anos é manifestamente insuficiente e começo a duvidar se serve para muito tal qual as coisas estão, no entanto é crucial o seu exercício livre. Os níveis da abstenção são escandalosos e insuportáveis para sociedades que querem ser dinâmicas e criativas, pura e simplesmente não se sabe o que é que metade da população quer no que toca à governança. Ou percebemos que isto não pode continuar ou então estamos a pôr em causa a própria essência da democracia, condicionando o seu espectro de representatividade. Mas a cidadania é muito mais do que votar  de 4 em 4 anos, apela à intervenção permanente  nos problemas da sociedade, exigindo de cada um que contribua com o que pode dar. Eu escrevo, tento influenciar os mais chegados, manifesto-me públicamente, estou mais ou menos atento ao que se passa na net ,  participo em iniciativas das redes sociais e está claro voto, nem que seja em branco. POSSO FAZER ISTO, outros farão diferente e melhor, mas que É PRECISO MEXERMO-NOS  não tenho dúvidas.

 Concluo realçando o imperativo urgente de cada um individual e colectivamente ter o dever ético e moral de intervir na sociedade em que está integrado e que o define como ser social.

jotacmarques




  

2 comentários:

  1. Muito bom. Foi dos melhores "conselhos" que tive oportunidade de receber pessoalmente (e agora relembrar no blog) e é sem dúvida uma filosofia de vida a adoptar.

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  2. Procuro nas páginas de um livro caminhos para esta "inevitabilidade" dos nossos tempos .
    Foi a reler Brecht que encontrei alguma resposta para o que descreve no post. Aqui fica um pouco , do poema Aos que virão a Nascer":

    "Em verdade , vivo em tempos escuros!" , diz B.

    (...) "Mas como posso eu comer e beber,quando/ Tiro ao faminto o que como, e/ O meu copo de água falta ao que morre de sede?/ E no entanto como e bebo. "

    (...)" E contudo nós sabíamos"(...)

    mj

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