A recente questão de os subsídios de férias e de natal para 2015 e não para 2014, como foi reiteradamente afirmado pelo governo, é mais uma prova da sua falta de honestidade.A mentira e a falácia estão instaladas, sendo porventura a maior falácia, o discurso de que após o período de ajustamento orçamental e financeiro virá o crescimento económico que nos tira de apertos.
Em economia, toda a gente sabe, que o que sobe desce, e que o que desce sobe, é uma regra do sistema, do domínio do senso comum. Evidentemente que após batermos no fundo, havemos de crescer, é uma inevitabilidade óbvia, mas a questão reside em saber qual o ponto de partida do crescimento.O ponto de partida situar-se-á nessa altura,talvez em 2014/15, relativamente ao nível de vida que tínhamos antes da intervenção da "troika", cerca de 30% abaixo ou mais. Num simples exercício de cálculo, estimando que nos anos subsequentes a 2014/2015, o produto crescerá a uma taxa média de 3%, serão precisos pelo menos 10 anos par alcançarmos o nível anterior, isto é, só em 2025 é que estaremos com o mesmo nível de vida de 2015.
Resta acrescentar que para um crescimento anual de 3%, muito improvável pelos menos no inicio do período, são precisos novos investimentos, ou do Estado ou do sector privado. Pondo o Estado de parte, na visão neo-liberal vigente do Estado minimalista, o investimento caberá aos privados, que nas últimas décadas têm andado "encostados" ao Estado, numa política de muito baixo risco,de favas contadas.Os empresários portugueses são avessos ao risco no investimento, são pouco criativos, são conservadores e de visão curta, gostam das parcerias público-privadas em que nunca perdem, com os contribuintes a arcar com os custos das indemnizações se a coisa correr mal.
Há evidentemente excepções e sinais de uma nova classe de empresários com uma visão diferente, mas tenho dúvidas se terão preocupações para além do lucro, se terão uma perspectiva "social do investimento", quer dizer, um sentido de pertença ao todo colectivo que permite que eles se exerçam e com quem têm a obrigação moral e ética de uma redistribuição justa e equilibrada.
Até agora não vi ninguém do governo a explicar esta situação aos portugueses, a falácia reside precisamente nessa ausência e sobretudo quando se pretender induzir na população, que o crescimento, inevitável como se viu, será um grande feito do governo e das políticas altamente eficazes que foram adoptadas.
Não é, é inerente ao sistema de economia de mercado,a regra do sobe e desce, faz parte da sua natureza...como na história do lacrau e do elefante!
jotacmarques
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