segunda-feira, 23 de abril de 2012

A utopia

François Hollande ganhou a primeira volta das eleições francesas.Quero que ganhe a segunda e seja o presidente da França, não me é indiferente, mas não alinho na Hollandemania que por aí vai inchando, uma nova edição do que aconteceu com Obama. As  histerias colectivas à volta de candidatos  criam a ilusão de que tudo mudará se forem eleitos, desenvolvem-se em crescendo, mas depois de eleitos o resultado é sempre muito deficitário, chegando-se mesmo a enormes desilusões. Obama, Zapatero, Sócrates, são casos elucidativos.

Marie Le Pen obteve uns alucinantes quase 19%. Interrogo-me como é possível que a extrema direita tenha tantos adeptos em França, país que conheceu num passado relativamente recente as iniquidades que são da natureza deste tipo de regimes.

O medo, a falta de memória e de discernimento parecem ser as respostas possíveis. A destruição progressiva da classe média em muitos países europeus, com a França incluída, gera o sentimento de perda e o medo de se ficar na miséria, a ruptura do equilíbrio social e quantas vezes o caos. A classe média tem respondido históricamente a esta tragédia, refugiando-se em doutrinas da extrema direita e apoiando os seus líderes carismáticos, que prometem  ordem,  disciplina,  trabalho,  integridade da propriedade privada e  paz social. Seguem-se invariávelmente os regimes autoritários das ditaduras, com as barbaridades conhecidas.


Hitler, Mussolini, Franco, Péron, Salazar, ditadores de extrema direita,Estaline,Mao Tse Tung, ditadores comunistas, povoaram o universo politico do Sec.XX . Os primeiros chegaram ao poder  apoiados por uma classe média em desagregação, medrosa de perder tudo e da agitação social. Os outros eternizaram-se e mitificaram-se, num pseudo-vanguardismo das classes trabalhadores, que viriam a tiranizar, creditando enormes privilégios para as nomenclaturas que os rodeavam e que viviam na parasitagem daqueles que diziam representar.

Os povos têm a memória curta, tendem a esquecer os maus momentos da sua própria  História, ciclicamente repetem erros anteriores, só assim se compreende o fenómeno Le Pen. Entretanto entretemo-nos a eleger de vez em quando personalidades que se dizem de esquerda, mas que no poder assumem politicas de direita, como foi o caso de Sócrates, e vai ser o de Hollande se for eleito.Os neo-pseudo- defensores dos trabalhadores, vidé o caso de Hugo Chavéz, que pelo meio do populismo de espectáculo já implementou medidas ditatoriais, no limite comportam-se como os parceiros da extrema direita.

O que fazer, é a questão posta ao cidadão comum!
Não é indiferente quem nos governa, óbviamente que prefiro Hollande a Sarkozy, Seguro( quantos sapos é que ainda tenho que engolir...?) a Passos Coelho, mas não alinho é  na histeria colectiva de que agora é que é. Sei que  com governantes mais humanistas, mais voltados para a questão social, vivemos melhor, mas também sei que é sol de pouca dura. Nunca resolverão a questão essencial, a mudança de sistema!

E é na mudança de sistema que nos devemos concentrar, encontrar fórmulas modernas e actuais, reinterpretar ideias anteriores mas com actualidade, sem preconceitos paralisantes.
O ponto de partida tem que considerar que o planeta está exausto, a colapsar, tal é a depredação irracional dos recursos naturais.Terá que ter em conta as enormes desigualdades sociais e económica à escala  mundial. Não poderá conter soluções autoritárias descaradas ou encapotadas. A economia partirá e acabará nas necessidades de uma vida confortável, não se produzindo mais do que o necessário, evitando a acumulação gananciosa e especulativa, e controlando os recursos.

Naturalmente que na fase actual  parece uma utopia, mas Da Vinci, Júlio Verne e tantos outros também imaginaram utopias que mais tarde foram realidades.
Vejam lá se o homem não anda no fundo dos mares e  não foi à lua!

jotacmarques   

    

Um comentário:

  1. Gostei. E não sou economista. Era isso que se pretendia demonstrar, também.Não ser preciso ser um iluminado para se entender como somos enganados.

    Mas o que mais me toca - utopia, não desistir , construir, como Leonardo, uma boa idéia para 4ª feira!

    ResponderExcluir